Investir no exterior não é comprar dólar: confira dicas para lucrar com empresas globais
Investir no exterior é um objetivo que já foi muito complexo, mas está cada vez mais ao alcance de qualquer investidor interessado em alocar recursos em moedas fortes e empresas que atuam em mercados consolidados. O tema foi objeto do painel “Top Picks Globais: Quais são as oportunidades internacionais que não podem ser ignoradas”, apresentado no Suno Invest, neste fim de semana, em São Paulo,

Paula Zogbi, head de research e conteúdo da Nomad, casa especializada em investimentos globais, descreveu detalhadamente o atual cenário global da economia. Ela destacou a importância de, acima de tudo, ampliar horizontes e entender como é possível investir no exterior sem necessariamente pensar em comprar dólares.
“O dólar é uma moeda forte e vai continuar sendo a moeda de referência global por pelo menos mais uma década, mas investir em dólar não é comprar dólar. É pensar em investir em empresas que atuam em cenários econômicos mais estáveis, com a mesma visão: buscar diversificação e entender a melhor maneira de investir”, ”, afirmou a especialista.
Investir no exterior: foco na estratégia de longo prazo
Paula Zogbi enfatiza que, assim como nos investimentos locais, quem aloca recursos no exterior não deve deixar as incertezas pontuais de curto prazo afetar as teses de investimento no longo prazo.
As bolsas norte-americanas, por exemplo, seguem em bom momento, mesmo com os juros ainda em alta nos EUA e as tensões provocadas por atitudes do presidente Donald Trump, tanto em relação às tarifas de comércio exterior como no risco de ampliação dos conflitos geopolíticos no Oriente Médio.
Segundo Paula, tem triunfado a tese que analistas batizaram como “TACO”, acrônimo para a expressão “Trump always chickens out”, que pode ser traduzida livremente por “Trump sempre se acovarda” ou “Trump sempre volta atrás”. “Os resultados estão menos voláteis e mais robustos do que se precificava e as projeções de recessão se reduziram, porque o mercado continua robusto e pouco confiante nos arroubos de Trump”, explica a estrategista.
E onde é melhor investir?
Entre os setores mais seguros para receber investimentos, Zogbi cita as utilities, equivalente às concessionárias brasileiras de serviços essenciais, como distribuidoras e gás de energia, e empresas de bens de consumo essenciais.
Quanto aos segmentos de informática ligados ao desenvolvimento de ferramentas de Inteligência Artificial, como fabricantes de semicondutores, devem continuar em crescimento, ainda que já tenham registrado altas relevantes nos últimos anos, caso da NVidia.
Na Europa, a especialista aponta empresas do segmento de defesa como uma tese interessante, depois que a guerra provocada pela invasão da Rússia à Ucrânia causou uma recomendação da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de que os países devem ampliar seus gastos militares para cerca de 2% do PIB.
Além disso, empresas de cibersegurança devem ter um cenário favorável de crescimento, porque os ataques tendem a ser tornar mais sofisticados com o desenvolvimento e o aumento do uso das ferramentas de IA.
Investir no exterior: sugestões do analista
Em sua participação no painel, Evandro Medeiros, analista de investimentos da Suno Research, afirmou que a cotação atual do dólar, no patamar de R$ 5,50, já permite uma boa margem de lucro para quem se interessar em alocar recursos diretamente no exterior. Ele apresentou duas empresas que merecem ser observadas com atenção.
Uma delas é o East West Bancorp, banco de varejo que atua prioritariamente na Califórnia. Criado para atender a comunidade sino-americana, ou seja, imigrantes chineses e seus descendentes, que eram alvo de preconceito e tinham muita dificuldade na obtenção de crédito, hoje atende o grande público, com uma carteira de financiamentos pulverizada de forma proporcional entre indústria, crédito pessoal e crédito para o mercado imobiliário corporativo.
O banco tem gestão estável, com o mesmo CEO desde 1992, o empresário Dominic Ng, e conta com indicadores relevantes, como melhoria consistente em seu índice de eficiência e um ROI extremamente alto. “A gente busca empresas chatas”, brinca Evandro quanto à consistência nos resultados da empresa.
Outra empresa apresentada pelo analista foi a IRSA, considerada a maior empresa imobiliária da Argentina, com uma série de braços, entre eles a gestão de shoppings, hotéis e imóveis corporativos. Segundo Evandro Medeiros, trata-se de uma empresa estabelecida em mercado com forte barreira de entrada, já que a região metropolitana de Buenos Aires tem uma série de regras que restringem novas construções comerciais.
Ao mesmo tempo, a IRSA se destaca por números consistentes, mesmo numa economia oscilante como a do país vizinho, e por boas oportunidades de ampliação dos ganhos. Entre eles está o aproveitamento de um terreno valioso na região metropolitana de Buenos Aires em que o grupo estuda a construção de um complexo turístico, com imóveis residenciais, hotéis e espaços de diversão.
E os especialistas recordam que para investir no exterior nem é preciso sair do Brasil. Os ETFs, fundos de índice negociados em cotas na B3, montam suas carteiras a partir da reprodução fiel de índices globais, de forma a replicar os resultados desses índices no mercado nacional, em alguns casos com distribuição periódica de dividendos.