Inteligência artificial sai do discurso e entra no resultado do imobiliário

inteligência artificial deixou de ser apenas uma promessa tecnológica e começou a impactar diretamente os resultados do mercado imobiliário brasileiro, à medida que o setor avança num novo ciclo de crescimento e passa a exigir mais eficiência operacional. O movimento ganha tração num ambiente em que empresas lidam com maior volume de operações, clientes mais digitais e pressão crescente sobre custos.

Esse cenário é favorecido por uma mudança mais ampla no comportamento da população. Uma pesquisa da EY mostra que 92% dos brasileiros utilizaram inteligência artificial de forma consciente nos últimos seis meses, criando uma base mais madura para a adoção dessas soluções pelas empresas. No mercado imobiliário, esse avanço já aparece nos números: hoje, 19% das imobiliárias brasileiras utilizam algum tipo de IA em seus processos, especialmente em atividades como triagem de leads, atendimento automatizado e análise de informações. 

A aceleração da adoção ocorre num momento em que o setor passa por expansão relevante. Dados da ABRAINC/FIPE indicam que o segundo trimestre de 2025 registrou crescimento de 11,4% nos lançamentos e de 7,4% nas vendas, com alta acumulada de 31,9% no ano. Para o investidor, o ponto central é que esse aumento de atividade amplia também o volume de tarefas operacionais, pressionando estruturas historicamente intensivas em processos e mão de obra. 

Como a inteligência artificial começa a mexer na eficiência do setor

Na leitura de Thomaz Guz, cofundador e CEO da Lugui, o mercado imobiliário começa a vivenciar uma mudança mais profunda no papel da tecnologia. Segundo ele, a inteligência artificial deixa de atuar apenas no atendimento inicial e passa a ocupar uma camada estratégica das operações. “Estamos vendo a IA atravessar a fronteira do atendimento e ocupar uma camada estratégica das operações”, afirma o executivo. 

Essa mudança é relevante porque o setor depende de fluxos longos, análise de documentos, acompanhamento de clientes e repetição de tarefas administrativas. De acordo com Guz, agentes de IA passam a integrar dados internos, organizar informações e acelerar etapas críticas do processo imobiliário. “A automação conversacional tem deixado de ser vista como substituição de trabalho e passou a funcionar como infraestrutura para reduzir gargalos, escalar atendimento e permitir que as equipes foquem no que realmente gera valor”, diz. 

Na prática, os ganhos observados são operacionais. A Lugui aponta que atividades administrativas que antes consumiam horas passaram a ser concluídas em minutos, reduzindo de cerca de 50% para algo entre 5% e 10% o tempo dedicado por corretores a tarefas repetitivas. Para o investidor, esse tipo de ganho tem impacto direto sobre margens e capacidade de crescimento sem expansão proporcional dos custos. 

O que muda para o investidor com a inteligência artificial

Do ponto de vista do mercado, a adoção de inteligência artificial no imobiliário deixa de ser incremental e passa a ser estrutural. Empresas mais eficientes conseguem absorver ciclos de crescimento mantendo controle de despesas, enquanto aquelas com estruturas mais tradicionais tendem a enfrentar maior pressão operacional.

A expectativa observada é que esse movimento avance nos próximos anos. A projeção citada pela Lugui é que 2026 marque a consolidação de agentes de IA mais especializados por segmento, além de maior integração com sistemas corporativos. “Quando a IA começa a reorganizar esse fluxo, o impacto deixa de ser incremental e passa a ser estrutural”, afirma Guz. 

Para o investidor, esse processo ajuda a explicar por que tecnologia passa a ocupar papel central na análise do setor imobiliário. Mais do que uma tendência, a inteligência artificial começa a redefinir a lógica de tempo, custo e entrega, criando novas assimetrias entre empresas que conseguem escalar com eficiência e aquelas que permanecem presas a modelos operacionais mais rígidos.

Maíra Telles

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