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Ibovespa sobe no último pregão de 2021, mas tem primeira queda anual desde 2015

Ibovespa hoje.

Ibovespa hoje. Foto: Pixabay

O Ibovespa fechou a última sessão do ano, nesta quinta (30), com alta de 0,69%, aos 104.822,44 pontos, e avançou 2,85% em dezembro. A alta no mês não foi suficiente para impedir a queda no ano — que chegou assim a 11,93%, o pior desempenho desde a baixa de 13,31% anotada em 2015.

Vindo de leve ganho de 2,92% no ano anterior, o primeiro da pandemia, o Ibovespa encontrou fôlego nesta quinta, com giro superior ao observado nas três últimas sessões, para limitar um pouco as perdas de 2021.

O Ibovespa oscilou entre a mínima de 104.106,37 e a máxima de 105.269,01 pontos, com giro um pouco melhor, a R$ 27,3 bilhões nesta última sessão do ano, em que o Ibovespa encerrou de forma bem distinta da vista em 2020, quando no mesmo dia foi a 119 mil pontos e tocou, naquele 30 de dezembro, a então inédita marca de 120 mil pontos.

Hoje, o índice referência da B3 perdeu força na reta final com Nova York. Os mercados acionários nos EUA fecharam em território negativo, nesta quinta-feira, 30, piorando na reta final dos negócios, em pregão atípico por causa do menor volume de negociações, com os feriados de fim de ano. O Dow Jones fechou em baixa de 0,25%, em 36.398,08 pontos, o S&P 500 caiu 0,30%, a 4.778,73 pontos, e o Nasdaq recuou 0,16%, a 15.741,56 pontos.

Ibovespa: cinco meses de perdas consecutivas

“A última sessão do ano foi mais para cumprir tabela, pois já estava definido que o Ibovespa fecharia no vermelho pela primeira vez desde 2015. Mas foi suficiente para o índice recuperar os 105 mil pontos e encerrar a sequência de cinco meses no negativo”, lembra Alexsandro Nishimura, economista, head de conteúdo e sócio da BRA. “O cenário externo favorável e a recuperação das ações da Vale (VALE3) ajudaram para o pregão positivo. Por outro lado, o setor financeiro operou no vermelho, em meio às notícias sobre a possibilidade de o governo manter em patamares mais altos a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) cobrada dos bancos.”

Após cinco meses de perdas consecutivas, período no qual cedeu 19,62%, o Ibovespa subiu 2,85% em dezembro de 2021 – na última semana do ano, cedeu 0,07%. Os dois anos de pandemia mostram grande contraste em relação ao que o precedeu, 2019, quando a referência da B3 subiu 31,58%, o maior ganho desde 2016 (38,9%), que havia sucedido recuo de quase 29% no intervalo entre 2013 e 2015, três anos de perdas sucessivas.

No quarto trimestre de 2021, o Ibovespa acumulou perda de 5,54%, após retração de 12,47% no trimestre anterior, que interrompeu a sequência positiva entre março e junho – o desempenho negativo de janeiro e fevereiro, que colocou as perdas acumuladas no primeiro trimestre a 2%, foi sucedido por reação a partir de março, até junho, mês em que renovou máxima histórica a 131,1 mil pontos e de fechamento, a 130,7 mil, no dia 7. Assim, os ganhos do primeiro semestre foram a 6,54%, com recuperação de 8,01% no intervalo abril-junho.

Dois piores meses do ano

Por outro lado, os dois piores meses do ano foram setembro (-6,57%) e outubro (-6,74%), que marcaram a transição das dúvidas sobre a estabilidade institucional, até o discurso presidencial de 7 de setembro, para o que se mostrou ainda mais preocupante: a incerteza sobre a situação fiscal.

Para agravar o quadro doméstico, o ano chega ao fim com sinais mais restritivos sobre a orientação da política monetária, especialmente nos Estados Unidos, e alguma dúvida quanto à extensão do dano que a variante Ômicron trará à recuperação econômica global, considerando a recente aceleração do contágio em países do hemisfério norte. No ambiente interno, janeiro e fevereiro tendem a ser meses movimentados para o governo, com o funcionalismo federal se organizando para reivindicar aumento salarial em ano de eleição.

“A Bolsa tentou alguma recuperação nesta última sessão do ano, mas ainda pairam questões como a inflação elevada e o nível de juros, e a insegurança fiscal, com a pressão dos servidores por reajuste. Descontrole fiscal, ainda mais em ano eleitoral, tem acarretado certa desconfiança do mercado nesses últimos dias”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, chamando atenção para a dissonância entre a B3 e Nova York, em recordes históricos neste fim de ano, assim como Europa.

“Ainda que a Ômicron pese, as economias avançadas têm mostrado que vamos continuar a conviver com isso – e, com vacinação, a reação é leve”, acrescenta.

“Na Bolsa brasileira tivemos deterioração de junho em diante, com o fiscal, o monetário e o político, principalmente com a quebra do teto de gastos e a PEC dos Precatórios. A trajetória fiscal se deteriorou muito, trazendo incerteza para 2022, que se agravou de forma geral com as variantes do coronavírus, apesar da expectativa de que estejamos mais perto do fim da pandemia – há ainda contágio, mas com menos letalidade”, diz Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos.

“No segundo semestre, o Ibovespa foi puxado (para baixo) muito pelo pessimismo do investidor doméstico, com o estrangeiro em volume de compra líquido superior a R$ 65 bilhões. Os grandes vendedores foram os locais, tanto os institucionais – aí entram os fundos de ações como os regimes de previdência e fundos de pensão – como os individuais, que vinham crescendo em participação na Bolsa nos últimos anos”, diz Alexandre Brito, sócio da Finacap Investimentos, acrescentando que o avanço dos juros ao longo do ano trouxe perspectiva diferente quanto a risco e retorno.

Destaques do último pregão do ano no Ibovespa

Assim, com os locais reduzindo a exposição à Bolsa e os estrangeiros aproveitando os descontos em dólar para efetivar compras, o Ibovespa, na moeda americana, encerrou o ano a 18.799,19 pontos, comparado a 22.937,77 pontos no fechamento de 2020, quando a referência da B3 marcava um nominal de 119.017,24 e o dólar à vista estava em R$ 5,1887. Em 2021, o dólar à vista fechou a R$ 5,5759.

Nesta última sessão de 2021, destaque para Méliuz (CASH3), que disparou 7,64%, Sul América (SULA11), com ganhos de 6,84%, e Magazine Luiza (MGLU3), que engatou 6,80%.

Na face oposta do índice, Marfrig (MRFG3), com queda de 3,71%), Itaú (ITUB4), que perdeu 1,64%),e Santander (SANB11), cedendo 1,35%.

“Os papéis da SulAmérica subiram após a empresa anunciar a compra da Sompo Saúde, subsidiária do Grupo Sompo Holdings, um dos maiores grupos seguradores do Japão e que atende no Brasil cerca de 116 mil beneficiários. Os papéis das techs e varejistas subiram, em reação à queda dos juros futuros, principalmente da ponta longa”, explica Alexsandro Nishimura, da BRA “O movimento refletiu os dados fiscais melhores do que o esperado, com superávit primário do setor público consolidado de R$ 15,03 bilhões em novembro (a expectativa era de R$ 4,77 bilhões), dívida pública bruta em queda de 1,2 p.p., para 81,1% do PIB, enquanto a dívida pública líquida caiu 0,1 p.p., para 57,0% do PIB (pouco abaixo do consenso de  57,5%)”, acrescenta.

A Vale (VALE3) subiu 0,92% na última sessão do Ibovespa em 2021 e as ações de siderurgia — como a Usiminas (USIM5), com alta de 2,43%) – em geral avançaram nesta quinta-feira, enquanto o dia foi de ajuste negativo para Petrobras (PETR4), com recuo de 0,81%, e PETR3, baixa de 0,32%.

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