Fed corta juros, Powell provoca rali relâmpago, e o Ibovespa responde
O Ibovespa viveu uma tarde de virada rápida e cheia de tensão, num pregão que começou travado e com variação estreita, até o momento em que o Federal Reserve decidiu cortar juros novamente e Jerome Powell reforçou a mensagem de que “alta não está no horizonte”. A reação em Wall Street foi imediata, e chegou a impulsionar o índice brasileiro acima dos 159 mil pontos, mas o efeito perdeu força diante da combinação de dólar pressionado, incerteza eleitoral e giro financeiro mais fraco na B3.
O que mexeu com o Ibovespa hoje
A sessão começou morna, com o mercado aguardando a decisão do Fed. Assim que o corte de 0,25 ponto porcentual foi confirmado, os índices em Nova York aceleraram e o Ibovespa renovou máxima em 159.690 pontos, antes de perder tração na reta final. Ainda assim, fechou em alta de 0,69%, aos 159.074 pontos, apagando as perdas de dezembro e levando o ganho do ano a 32,25%.
O movimento foi amplamente guiado pelo exterior. Como ressaltou Fernando Shahini, da Nomad, os yields das Treasuries “devolveram prêmios nos vértices curtos”, enquanto o DXY recuava após o anúncio. Mas, segundo ele, o real não acompanhou o alívio global, já que “a busca por posições defensivas cresceu com a confirmação da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro, elevando a volatilidade e mantendo o dólar pressionado”.
Esse ruído doméstico ajudou a travar o índice — mesmo com commodities em alta e dados positivos da China sustentando Vale e siderúrgicas. As ações financeiras também puxaram o movimento, com Bradesco PN à frente, enquanto Petrobras avançou levemente.
O discurso de Powell manteve o clima de alívio: ao afirmar que “a discussão está entre manter ou cortar, não elevar juros”, reforçou que o cenário-base do Comitê não contempla aperto monetário, apesar da divergência interna entre membros.
Para Bruno Perri, da Forum Investimentos, o comunicado “abre a porta para novos cortes, mas sem compromisso”. Ele alerta que a falta de consenso pode levar a uma pausa em janeiro, caso a leitura dos dados mude. Já João Duarte, da One Investimentos, destacou que Powell sinalizou que o Comitê está “bem posicionado para decidir em janeiro”, mantendo a flexibilidade.
Altas e baixas do Ibovespa hoje
- Maiores altas: CSN (+6,41%), Vale (+1,83%), Bradesco PN (+1,78%)
- Maiores quedas: C&A (-3,98%), Santander Unit (-0,93%)
Cotação do dólar hoje
O dólar teve nova sessão de pressão local, descolado do movimento global. Lá fora, o DXY recuou após o FOMC e diversas moedas se fortaleceram frente à divisa americana. No Brasil, porém, a reação foi oposta.
Segundo Shahini, o câmbio reflete “aversão ao risco diante da incerteza política e da curva de juros local ainda resistente em devolver prêmios”. A pré-candidatura de Flávio Bolsonaro, combinada ao ambiente eleitoral antecipado, reforça a deterioração de humor no curto prazo.
Fechamento das bolsas americanas
- Dow Jones: +1,05%
- S&P 500: +0,67%
- Nasdaq: +0,33%
Como fica o Ibovespa daqui para frente
A B3 segue respirando o alívio externo, mas ainda sob o peso dos fatores domésticos, especialmente ruídos políticos, volatilidade do câmbio e um giro financeiro enfraquecido — o menor desde a última sexta-feira, em R$ 23,5 bilhões.
Para os analistas, uma normalização do ambiente político é o que falta para que o mercado local volte a acompanhar integralmente o otimismo visto nos EUA. Enquanto isso não acontece, o Ibovespa deve continuar alternando movimentos curtos de alta e baixa, em linha com o observado após o tombo da última sexta-feira.