O Ibovespa encerrou o pregão desta segunda-feira (22) em leve queda, descolando do desempenho positivo das bolsas de Nova York, em um dia marcado por baixa liquidez e reavaliação de risco por parte dos investidores. O principal índice da B3 recuou 0,21%, aos 158.141,65 pontos.
Durante a sessão, o índice oscilou entre a mínima de 157.305,76 pontos e a máxima de 158.633,98 pontos, refletindo a cautela do mercado diante do noticiário fiscal e político, da reação da curva de juros e da forte alta do dólar no mercado doméstico.
Commodities sobem, mas juros pesam sobre o índice
No campo setorial, as ações ligadas a commodities deram algum suporte ao índice, mas não foram suficientes para levar o Ibovespa ao terreno positivo. Os papéis da Vale (VALE3) avançaram quase 3%, acompanhando a alta do minério de ferro, enquanto as ações da Petrobras (PETR4) subiram em linha com a valorização de cerca de 2% do petróleo no mercado internacional.
Segundo Alison Correia, analista de investimentos e cofundador da Dom Investimentos, o avanço do petróleo ocorreu após os Estados Unidos interceptarem um navio em águas internacionais próximo à costa da Venezuela, o que elevou os temores em relação ao fornecimento da commodity.
Por outro lado, setores mais sensíveis aos juros futuros pressionaram o índice. Ações de varejistas e construtoras, como Lojas Renner, Cury e Direcional, recuaram ao longo do pregão, impactadas pela alta das taxas de juros e pelo ambiente ainda instável no cenário doméstico.
De acordo com Gabriel Mollo, analista da Daycoval Corretora, o movimento do pregão reflete um processo de reavaliação de risco por parte dos investidores. Segundo ele, apesar da recuperação das commodities, o desempenho positivo do setor não foi suficiente para sustentar uma alta mais ampla do mercado. “Os papéis ligados às commodities seguiram em alta. Entretanto, não foi suficiente para fazer com que o Ibovespa fosse para o terreno positivo. Bancos, construção civil e varejo negociaram em baixa e travaram a alta do mercado, em meio a um noticiário fiscal e político ainda bastante complicado”, afirmou.
Dólar sobe com remessas ao exterior
No câmbio, o dólar voltou a subir e se aproximou de R$ 5,60, refletindo o aumento das remessas ao exterior típicas do fim do ano. Segundo operadores, o movimento foi impulsionado pelo envio de lucros por multinacionais e pelo pagamento de dividendos por empresas com grande participação de investidores estrangeiros, como a Petrobras.
Correia destaca que dezembro tem sido atípico em 2025. Tradicionalmente mais calmo, o mês começou com forte volatilidade, impulsionada por ruídos políticos e pelo cenário externo, especialmente pelas incertezas em torno da política monetária nos Estados Unidos.
Juros e cenário eleitoral seguem no radar
O mercado também repercutiu o relatório Focus, que mostrou nova alta nas projeções para a Selic em 2026 e queda nas estimativas de inflação para 2025 e 2026. Para Alison Correia, o movimento reforça a possibilidade de início dos cortes de juros no Brasil já em janeiro, ainda que o cenário externo siga mais restritivo.
Segundo o analista, apesar de o mercado ter conseguido digerir parte dos ruídos recentes, o fator eleitoral segue como um dos principais pontos de atenção. “O grande desafio agora é ter mais clareza sobre o cenário político. Se não surgir nenhum dado negativo relevante, a tendência é de entrada de fluxo na bolsa”, avaliou Correia. Ainda assim, no curto prazo, o Ibovespa deve seguir trabalhando próximo da estabilidade, com oscilações limitadas, enquanto investidores ajustam posições neste fim de ano e aguardam definições mais claras sobre juros e cenário político.
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