Ibovespa em alta: onde fundos estão apostando para o final do ano?
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O ano de 2025 vem sendo positivo para o Ibovespa: até este início de setembro, o índice de referência da Bolsa brasileira já avança cerca de 17%. Daqui em diante, fatores como o possível início do ciclo de queda dos juros tendem a favorecer ainda mais o mercado, enquanto riscos políticos podem frear o clima positivo. Diante desse cenário, entenda quais setores e estratégias os fundos de investimento estão priorizando para a reta final de 2025.

O Suno Notícias conversou com Fernando Tendolini, head dos fundos de renda variável da Fator Administração de Recursos, Daniel Utsch, gestor de renda variável da Nero Capital e João Mamede, analista sênior de ações e renda variável da AZ Quest, para entender quais riscos e oportunidades estão postos no Ibov neste momento.
Quais são os gatilhos positivos para a Bolsa?
De acordo com os gestores, um ponto fundamental para se observar são os juros. Tendolini diz que existe a expecatativa de que, já neste mês de setembro, o Federal Reserve inicie um ciclo de cortes nas taxas dos Estados Unidos.
“Isso pode gerar um efeito de alta na Bolsa. Além disso, a depender do esfriamento da economia brasileira nos meses adiante, o nosso Banco Central poderá sinalizar o início dos cortes por aqui também”, afirma.
“O Copom deve começar a cortar a Taxa Selic no início do ano que vem. Então esse ciclo de alívio monetário pode ser positivo para as ações”, complementa Utsch.
Segundo Mamede, esse movimento tende a beneficiar principalmente as ações de beta mais alto. Ou seja: aquelas que têm volatilidade superior ao mercado em geral.
“No começo deste ano, compramos um pouco mais de empresas de setores domésticos cíclicos, como varejo, por exemplo, além de companhias de serviços financeiros mais alavancadas. Mas também combinamos isso com papéis mais defensivos, como elétricas e utilities. Isso porque, apesar do cenário construtivo, é preciso ter ações que tendem a sofrer menos em momentos de volatilidade, que vão acontecer. Nada é linerar, principalmente no Brasil”, explica.
Quais riscos devem ser monitorados?
Entre os fatores que podem se traduzir em um cenário negativo para o índice Bovespa, Utsch cita um ciclo de baixa das commodities, que tende a prejudicar grandes empresas da Bolsa brasileira, como Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4).
“Um cenário de baixa para as commodities energéticas, como o petróleo, e commodities metálicas industriais, como minério de ferro, aço, cobre e alumínimo, além de uma desaceleração econômica na China, traz receio em relação às alocações”, afirma.
Para além disso, o risco político é o que está sendo monitorado de perto pela maioria dos gestores. Sanções como a recém-aplicada Lei Magnistky, possíveis novas taxas anunciadas por parte dos Estados Unidos e a proximidade das eleições presidenciais de 2026 são pontos que também podem frear o ímpeto positivo do mercado.
Por outro lado, a depender de como a corrida presidencial brasileira se desenhe, esse risco também pode se traduzir em gatilho.
“Apesar de o cenário político estar em plena ebulição, sinalizações de que chapas menos extremas sejam propostas serão gatilhos para novas altas do mercado”, diz Tendolini.
“É um cenário muito incerto, uma vez que os candidatos ainda estão longe de serem definidos. Mas acreditamos que há mais risco de alta do que de baixa”, complementa Utsch.
Como se posicionar no mercado?
Diante do balanceamento entre os riscos e oportunidades apresentadas até aqui, Tendolini afirma que os fundos da Fator têm privilegiado setores que mostram força no crescimento e empresas que tenham baixa alavancagem financeira. A maior exposição está em construção civil, mas setores como saúde, educação e consumo discricionário também são destaques no portfólio.
“A alocação está em setores que se beneficiem do apetite ao risco. Ainda assim, há casos com mais qualidade financeira, fluxo de caixa positivo, baixa despesa financeira e bons de dividendos. Como proteção, há também empresas voltadas ao setor externo, que possam se beneficiar do aumento da volatilidade: exportadoras de proteína bovina, os grandes bancos e alguns BDRs de empresas de tecnologia do S&P 500.”, afirma.
Utsch diz que, na Nero Capital, a maior alocação está em setores domésticos, sobretudo construção civil, saúde, educação, transportes e consumo. Nesse sentido, ele destaca algumas ações do porfólio:
- Cury (CURY3)
- Direcional (DIRR3)
- Cyrela (CYRE3)
- Lavvi (LAVV3)
- Trisul (TRIS3)
- Rede D’or (RDOR3)
- Hapvida (HAPV3)
- Fleury (FLRY3)
- Yduqs (YDUQ3)
- Ânima (ANIM3)
- Cruzeiro do Sul (CSED3)
- Localiza (RENT3)
- Movida (MOVI3)
- Rumo (RAIL3)
- Totvs (TOTS3)
- Vivo (VIVT3)
- Tim (TIMS3)
Já Mamede, da AZ Quest, afirma que o cenário atual permite que o porfólio vá na direção de ações que possam se beneficiar da queda da taxa de juros de uma forma geral, mas ainda mantendo um percentual de defensividade na carteira, a exemplo das empresas do setor elétrico.
“Na verdade, a gente sempre privilegia a compra de empresas de qualidade, sejam elas cíclicas ou não cíclicas. Então, uma premissa básica que a gente tem aqui é sempre comprar empresas que a gente acredita que são vencedoras de longo prazo e que têm diferenciais competitivos”, completa.