Guerra comercial: como começou a atual disputa sobre comércio exterior?

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se tornou o grande propagador de uma guerra comercial ao anunciar este ano uma série de pesadas tarifas contra dezenas de países, com atenção especial à China. Desde então, o mercado internacional está em polvorosa, com um clima de insegurança dominando as bolsas de valores e obrigando empresas a mudanças bruscas de rumo.

O capítulo mais recente desta guerra comercial ocorreu em 30 de maio, quando Trump anunciou que os EUA dobrariam as tarifas sobre importações de aço e alumínio, para 50%. “Não vamos permitir que o aço seja vendido no exterior sem a devida proteção. As taxas protegem o aço dos EUA contra dumping. Ninguém vai evitá-las”, disse o presidente em discurso na fábrica da US Steel em Pittsburgh.

Embora a cobrança de pesadas tarifas tenha recaído sobre dezenas de países, o alvo principal tem um nome: China, principal parceira comercial e, ao mesmo tempo, uma grande rival não só no aspecto financeiro mas também nos campos geopolítico e militar. Trump acredita que é preciso neutralizar os chineses para garantir aos EUA a supremacia mundial, que nunca esteve tão ameaçada desde o fim da guerra fria.

Para entender um pouco de como surgiu essa guerra comercial é preciso voltar um pouco no tempo e acompanhar os passos dessa escalada desencadeada por Trump

Por que uma guerra comercial?

A principal argumentação de Trump para desencadear uma guerra comercial seria, segundo ele, fazer com que outros países retirem suas tarifas sobre os Estados Unidos, além de estimular a produção industrial local e reaquecer o emprego.

Esses conflitos comerciais geralmente ocorrem quando um país aumenta tarifas ou impõe barreiras não tarifárias contra outros. Geralmente são provocadas por algum tipo de protecionismo econômico contra um segmento específico da economia. Sempre que uma nação anuncia maiores tarifas contra outra aumentam os custos de importação, impactando outros países e diversos setores, mas visando proteger um ou mais setores.

Guerras comerciais podem impactar toda uma cadeia econômica ou apenas um segmento, como a indústria automobilística, de mineração ou de algum outro bem.

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Promessa de campanha

Trump deu um indício do que estava por vir já na campanha presidencial. Em fevereiro do ano passo, o então candidato afirmou que iria impor penas duras contra a China e também visou outros “abusadores comerciais”. Em um evento da campanha, afirmou sem meias palavras que a medida era uma política de reciprocidade: “Vocês nos ferram, nós ferramos vocês”.

Em seu primeiro mandato, Trump já havia estimulado disputas comerciais com outros países e blocos, especialmente contra a China e a União Europeia. Na ocasião, o governo chinês retaliou, impondo tarifas sobre produtos americanos, o que atingiu fortemente os agricultores. Apesar dos problemas enfrentados, o candidato não só prometeu retomar a política como intensificá-la.

Em discurso na Carolina do Norte, apresentou a proposta do “Trump Reciprocal Trade Act” (Lei de Comércio Recíproco de Trump), em que imporia tarifas comerciais “recíprocas e idênticas” aos destes países.

“Se a China ou qualquer outro país nos obrigar a pagar uma tarifa de, digamos, 100%, 200% ou mesmo 300%, e eles fizerem isso, nós os faremos pagar uma tarifa recíproca idêntica de 100%, 200% ou 300% de volta”, afirmou Trump na ocasião. “À medida que as tarifas sobre países estrangeiros aumentam, os impostos sobre trabalhadores e famílias americanos caem substancialmente.”

Começa a Guerra Comercial

Logo ao assumir o cargo, Trump relembrou ao mundo que a proposta não seria engatilhada e que em breve anunciaria as medidas que ele sempre chamaria de “recíprocas”.

No dia 10 de fevereiro, o presidente dos Estados Unidos assinou ordem executiva com a imposição de amplas tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio pelo país, inclusive sobre os embarques desses produtos pelo Canadá e do México, que juntos respondem por cerca de 40% das importações de aço dos EUA.

A medida gerou um cataclisma no mercado, resultando em quedas nas bolsas de valores na Ásia e Europa. O clima azedou entre os três países da América do Norte e tanto os governos do Canadá quanto do México anunciaram que haveria resposta às ações de Trump.

No dia 2 de abril, Trump realizou um show particular: em um evento voltado a anunciar a implantação de novas tarifas, ele surgiu segurando uma grande placa onde apareciam os países que seriam tarifados, bem como os índices para cada um deles.

O valor de 10% era o mínimo anunciado pelo presidente — foi o índice escolhido para o Brasil. Para a União Europeia, a tarifa será de 20% e, para a China, de 34%. Quanto ao Reino Unido, Trump decidiu tarifar em 10% as importações; e em 30% a África do Sul.

Os mercados em todo o mundo reagiram furiosamente, com bolsas despencando pelo mundo, afetando inclusive grandes empresas americanas. Dias depois, Trump disse que suspenderia essas tarifas anunciadas provisoriamente, por 90 dias, enquanto recomendava que os países atingidos buscassem negociações.

A decisão do presidente norte-americano foi uma resposta ao governo chinês, que horas antes havia elevado a tarifa de produtos importados dos Estados Unidos de 34% para 84%, com base nos “princípios básicos do direito internacional”. Essa medida, por sua vez, foi uma resposta à elevação anunciada nesta terça-feira (8) pelo governo norte-americano, que ampliou a tarifa de produtos chineses para 104%.

Dias depois, ainda em meio à tempestade, Trump anunciou que aumentaria a tarifa cobrada de produtos importados da China para 104%. Foi a vez de a China reagir furiosamente, elevando a tarifa de produtos importados dos Estados Unidos de 34% para 84%, com base nos “princípios básicos do direito internacional”.

Trump não recuou e ampliou as tarifas para 125%, com vigência imediata. O republicano também declarou uma pausa de 90 dias nas alíquotas anunciadas na semana passada para os demais países, com estabelecimento de uma alíquota geral de 10% no período.

Com a guerra comercial já instaurada, representantes de Trump se reuniram com dirigentes do Partido Comunista Chinês para costurar uma trégua, enquanto os dois países buscam se realinhar comercialmente. Um acordo chegou a ser alinhado, mas ambos os lados trocaram acusações nos últimos dias e um novo encontro deve acontecer na segunda-feira (9)

Enquanto isso, Trump voltou a anunciar tarifas setoriais, como a de 100% para filmes produzidos fora dos EUA e a recente tributação sobre importações de aço e alumínio, que passou a valer na última quarta-feira (4), com impacto direto sobre o setor produtivo brasileiro.

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