Fiagros: como o setor tem reagido ao aperto no mercado de crédito agrícola?

O volume de emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) registrou uma queda de 26% no primeiro semestre de 2025, em comparação com o mercado anterior.  Esse número causa impacto direto no mercado de Fiagros, que são cada vez mais presentes no financiamento do agronegócio.

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Segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), foram captados R$ 14,2 bilhões entre janeiro e junho, contra R$ 19,5 bilhões no mesmo intervalo de 2024.

O CIO da Suno Asset, Vitor Duarte, acredita que não há motivo para desespero, e diz que é preciso avaliar um cenário mais amplo de opções disponíveis no mercado para o crédito agrícola. Ele vê a retração no volume de emissão de CRAs como uma mudança no formato de financiamento, e não como um sinal uma redução estrutural da presença do mercado de capitais no agronegócio.

“O CRA é apenas uma estrutura, uma casca. O que importa é o crédito. E, nesse sentido, temos visto o mercado de capitais ampliar sua penetração principalmente por meio de FIDCs e CRAs pulverizados”, afirma. Segundo ele, as emissões de CPR (Cédula de Produto Rural) ganharam espaço e praticamente compensaram a queda das ofertas de CRA.

À frente da gestora que tem no portfólio os Fiagros SNAG11 e SNFZ11, ambs com CRAs 100% adimplentes em seu portfólio, Duarte explica que os grandes produtores seguirão em busca de recursos no mercado de capitais, à medida que os valores subsidiados pelo governo no Plano Safra e linhas tradicionais dos grandes bancos se voltem para atender os pequenos.

“Nesse público, a inadimplência acaba sendo absorvida pelos bancos. O Banco do Brasil, por exemplo, já reportou aumento na inadimplência da carteira rural no último balanço — nada grave, mas evidente. No mercado de capitais, esse efeito apareceu antes, nos pedidos de recuperação judicial e na volatilidade dos CRAs ligados a alguns emissores”, recorda o gestor.

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Fiagros e crédito: mercado ainda tem espaço para crescimento

Durante o ano passado, principalmente, devido a impactos climáticos, esses pedidos de recuperação judicial cesceram e impactaram vários Fiagros do mercado, que tiveram perda de valor patrimonial e reduziram a distribuição de dividendos, um dos principais atrativos do setor junto aos investidores. Neste ano, o cenário melhorou, especialmente com a expectativa de safra recorde.

A expectativa, segundo Vitor Duarte, é que a participação do mercado de capitais no crédito rural continue avançando, à medida que os instrumentos se tornam mais pulverizados e acessíveis também a produtores de menor porte.

Essa observação também é feita por outros especialistas do mercado. Neste mês, alguns dos painéis do Congresso Brasileiro do Agronegócio foram voltados a discussões sobre modelos de financiamento que destacaram a necessidade de ampliar a interação entre o agronegócio e o mercado de capitais.

Dados da Anbima apontam que os Fiagros mantêm hoje um estoque de ativos na casa dos R$ 40 bilhões, enquanto as emissões de CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) consolidadas estão na casa de R$ 140 bilhões. Outro comparativo relevante: o agronegócio representa cerca de 25% do PIB nacional, mas só 3,5% da movimentação do mercado de capitais.

Fernando Cesarotti

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