Dólar supera R$ 5,70 e fecha mês em alta após volta de discussão sobre tarifas
O dólar fechou o mês de maio em alta forte, acima do patamar de R$ 5,70, numa sessão marcada por aversão ao risco nesta sexta-feira (30), com volta dos temores de acirramento da guerra comercial entre EUA e China.

Com máxima a R$ 5,7405, pela manhã, o dólar à vista fechou em alta de 0,93%, a R$ 5,7195, maior valor de fechamento desde 7 de maio (R$ 5,7635). A moeda termina a semana com ganhos de 1,28% em relação ao real, e o mês, valorização de 0,76%. As perdas acumuladas no ano, que oscilaram acima de 8% ao longo de maio, agora são de 7,45%.
O cenário global teve uma corrida ao dólar depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusar a China de violar o acordo fechado entre os dois países, no último dia 12, para congelamento de tarifas por 90 dias.
No ambiente local, pesaram contra o real questões técnicas, como a disputa pela formação da última taxa PTax de maio, e a rolagem de posições no segmento futuro. Além disso, cresceu a preocupação com a questão fiscal, aguçada pelas críticas do setor produtivo e do Congresso ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) decretado pelo governo na semana passada.
“O vetor mais relevante para o câmbio foi sem dúvida a intensificação da guerra comercial, com Trump acusando a China de não cumprir o acordo firmado. Isso direcionou para um movimento mais clássico de aversão ao risco, com fortalecimento do dólar”, afirmou a economista-chefe da Buysidebrazil, Andrea Damico.
O economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, destaca que o dólar chegou a trabalhar ao redor de R$ 5,60 em certos momentos do mês e havia expectativa de que poderia engatar uma rodada adicional de queda. O otimismo com a moeda brasileira foi contido pela confluência de uma deterioração do ambiente externo com a volta dos ruídos políticos e fiscais domésticos.
“O real poderia ter até tido uma dinâmica mais favorável quando o exterior estava mais tranquilo, mas veio o pacote fiscal, com as dúvidas sobre o IOF, que piorou a percepção de risco dos investidores”, avaliou Costa.
Dólar tem leve subida em relação a emergentes
O índice DXY — termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes — operou em leve alta e rondava os 99,380 pontos no fim do dia. Entre as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities, as maiores perdas foram do rand sul-africano e do peso chileno, seguidos pelo real.
À tarde, Trump voltou a criticar a China por ter “violado” partes do acordo comercial, sem dar detalhes do que efetivamente aconteceu, mas disse que pretende conversar com o líder chinês, Xi Jinping. O presidente dos EUA enfatizou estar “muito feliz” com a decisão judicial que manteve a validade das tarifas comerciais anunciadas pelo seu governo.
O PCE, índice de inflação preferido do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) para analisar os resultados da política monetária, subiu 0,1% em abril, com alta de 2,1% na comparação anual. O núcleo do PCE — que exclui itens mais voláteis, como alimentação e energia — avançou 0,1% no mês e 2,5% na comparação anual, em linha com o esperado.
A safra de indicadores não mexeu com a aposta predominante de que o Federal Reserve promova uma redução de 50 pontos-base da taxa básica neste ano, com um corte inicial em setembro. Por ora, a avaliação é a de que a política monetária está bem posicionada diante das incertezas provocadas pelas políticas do governo Trump.
Com Estadão Conteúdo