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Copom mantém Selic a 13,75% ao ano pela 7ª vez consecutiva; entenda a decisão do BC

Copom. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Copom. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Como esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela sétima vez consecutiva, na quarta reunião do ano nesta quarta (21). A decisão foi unânime.

Apesar da forte ofensiva do governo e de empresários em prol da queda dos juros, de 46 instituições financeiras consultadas pelo Projeções Broadcast, do Estadão, 45 esperavam manutenção do patamar dos juros e apenas uma projetava baixa da Selic para 13,50% ao ano.

No comunicado desta quarta, o comitê diz que “irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como ancoragem das expectativas”.

Chamou atenção no comunicado a retirada de possibilidade de o BC retomar ciclo de ajuste, o que estava no texto que acompanhava a reunião de maio.

Mas o texto do comitê do BC explica: “O Copom avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação.”

E completa: “O ambiente externo se mantém adverso, ainda que com revisões positivas para o crescimento do ano. Apesar da atenuação do estresse envolvendo bancos nos EUA e na Europa, a situação segue demandando monitoramento.”

O comitê afirma ainda que a “decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante.” Para então complementar: “O Copom conduzirá política monetária necessária para o cumprimento de metas.”

Não houve sinalização forte de que haverá redução da taxa Selic nas próxima reuniões, como esperavam analistas do mercado: “O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”

O comunicado do BC diz ainda que, “apesar de arrefecimento recente da inflação, antecipa-se aumento da inflação em 12 meses no 2º semestre”.

Mais: “Diversas medidas de inflação subjacente seguem acima do intervalo compatível com a meta. Há retomada de ciclos de alta de juros em algumas economias com inflação resiliente.”

E cita “riscos de baixa estão queda adicional das commodities em moeda local, além de desaceleração da atividade global mais acentuada que a projetada”.

Copom retira trecho sobre ‘retomar ciclo de ajuste’, mas não indica corte em agosto

Contrariando novamente o governo e dessa vez até mesmo uma boa parte do mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central não trouxe no comunicado desta quarta-feira, 21, nenhuma sinalização de corte da taxa básica de juros na próxima reunião, em agosto. O colegiado voltou a pregar cautela e serenidade em suas decisões.

“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia. O Copom conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação”, argumentou o Copom, sem dar qualquer sinal de redução da Selic no próximo encontro.

O BC repetiu ainda que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Copom abandonou, porém, a mensagem – já considerada pouco provável na última reunião – de que poderia inclusive voltar a subir os juros caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

“O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, concluiu o comunicado.

Mas e a inflação mais baixa?

A maioria do mercado previa que o BC iniciasse o ciclo de flexibilização em agosto, exatamente um ano após finalizar o aperto monetário mais longo de sua história. Desde o Copom de maio, um conjunto de notícias favoráveis se acumularam no cenário inflacionário e foram reconhecidas por membros do colegiado.

Apesar da manutenção, notícias favoráveis se acumularam desde a última reunião, em maio, em relação ao cenário inflacionário e aos riscos considerados pelo Copom.

Houve surpresa desinflacionária nos dados do IPCA de maio e as expectativas de inflação começaram a ceder de forma mais consistente, ainda que permaneçam acima da meta. Além disso, houve forte valorização da moeda brasileira, e o avanço do novo arcabouço fiscal reduziu a curva longa de juros.

No último Boletim Focus, a expectativa para o IPCA de 2023 era de 5,12% — ainda acima do teto da meta (4,75%) –, contra 6,05% na pesquisa anterior ao Copom de maio. Já a projeção para 2024, foco da política monetária, cedeu de 4,18% para 4,00%, contra o centro da meta de 3,0%. No longo prazo, as expectativas estão em 3,80%.

Depois de subir no início do ano, a expectativa de inflação tem caído. De acordo com o último boletim Focus, a estimativa de inflação para 2023 passou de 5,42% para 5,12%.

Em maio, puxado pela queda nos preços dos combustíveis e de artigos de residência, o IPCA, que mede o índice de inflação oficial, caiu para 0,23%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o resultado, o indicador acumulou alta de 2,95% no ano e de 3,94% nos últimos 12 meses, percentual mais baixo do que os 4,18% acumulados até o mês anterior.

Diante das “boas novas”, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, vinha sinalizando espaço para queda de juros à frente, mas também pedia “paciência” e repetia que é só “um voto de nove” no colegiado. Outros membros do Copom, como o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução, Renato Dias Gomes, afirmou que há “sinais preliminares” de melhoria. No mercado, a aposta é de queda da Selic em agosto.

O comunicado do Copom de hoje vê sinais de melhora na economia: “Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue consistente com um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres. O crescimento acima do esperado no primeiro trimestre refletiu principalmente o forte desempenho do setor agropecuário. Não obstante o arrefecimento recente dos índices de inflação cheia ao consumidor, antecipa-se uma elevação da inflação acumulada em doze meses ao longo do segundo semestre. Ademais, diversas medidas de inflação subjacente seguem acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus recuaram e encontram-se em torno de 5,1% e 4,0%, respectivamente.”

O comitê ressalta, no entanto, que, em seus cenários para a inflação, “permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação”.

O BC pondera, no entanto, e vê “uma maior persistência das pressões inflacionárias globais”. E relaciona outros pontos:

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Segundo a edição mais recente do boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de mercado, a taxa básica deverá ser mantida em 13,75% ao ano pela sétima vez seguida. A expectativa do mercado financeiro, entretanto, é de que a Selic encerre o ano em 12,25%.

Veja comunicado do BC na íntegra

O ambiente externo se mantém adverso, ainda que com revisões positivas para o crescimento do ano. Apesar da atenuação do estresse envolvendo bancos nos EUA e na Europa, a situação segue demandando monitoramento. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, inclusive com a retomada de ciclos de elevação de juros em algumas economias, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue consistente com um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres. O crescimento acima do esperado no primeiro trimestre refletiu principalmente o forte desempenho do setor agropecuário. Não obstante o arrefecimento recente dos índices de inflação cheia ao consumidor, antecipa-se uma elevação da inflação acumulada em doze meses ao longo do segundo semestre. Ademais, diversas medidas de inflação subjacente seguem acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus recuaram e encontram-se em torno de 5,1% e 4,0%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 5,0% em 2023 e 3,4% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 9,0% em 2023 e 4,6% em 2024.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco; e (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local, ainda que parte importante desse movimento já tenha sido verificado; (ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e (iii) uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia. O Copom conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.

Na ata da última reunião, em maio, o BC também tinha informado que a decisão da taxa de juros requer paciência e serenidade. Mais uma vez, o Copom reforçou a possibilidade de aumentar a Selic, “apesar de ser um cenário menos provável”. Para o BC, a aprovação do arcabouço fiscal pode ajudar no equilíbrio das contas públicas, que impactam a expectativa de inflação. 

Copom e a meta de inflação 

Para 2023, a meta de inflação que deve ser perseguida pelo Banco Central, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,75% e o superior, 4,75%. Para 2024 e 2025, as metas são de 3% para os dois anos, com o mesmo intervalo de tolerância. A meta para 2026 será definida neste mês. 

No último Relatório de Inflação, divulgado no fim de março pelo BC, a autoridade monetária reconhece a possibilidade do estouro da meta de inflação neste ano. No documento, a estimativa é que o IPCA atingirá 5,8% em 2023. O próximo relatório será divulgado no fim do mês. 

Com a estabilidade da taxa Selic pela sétima reunião consecutiva e recuo das expectativas inflacionárias, o Brasil continua a ter a maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo, em uma lista com 40 economias. Cálculos do site MoneYou indicam que o juro real brasileiro está agora em 7,54% ao ano.

Em segundo lugar na lista que considera as economias mais relevantes, aparece o México (5,94%), seguido da Colômbia (5,16%). A média dos 40 países avaliados é de -0,73%.

Reunião desfalcada

O Copom se reuniu hoje com um desfalque pela segunda vez seguida: o diretor de Política Monetária. Bruno Serra deixou o BC no fim de março e a sabatina de seu substituto no Senado está marcada para o dia 27 deste mês.

Ailton Aquino também será sabatinado para a diretoria de Fiscalização. Mas o atual diretor, Paulo Souza, continua no cargo à espera da transição. Com o desfalque, o Copom teve 8 integrantes. Se houvesse empate de votos sobre o patamar da Selic, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, desempataria.

Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil

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