Vitor Nery Fagnani

Dividendo não é “renda”. Uma discussão para o momento de usufruto da aposentadoria em investimentos

O mais importante é entender o conceito por trás e tratar os dividendos como parte do patrimônio e não como uma renda extra

Como já destacamos no texto anterior “Vivendo de Dividendos: uma falácia da internet”, abordamos um pouco de como utilizar é possível usar essa renda passiva de forma racional em seu momento de usufruto da aposentadoria.

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Sendo assim, vamos abordar mais sobre o assunto para e detalhar a parte do recebimento de dividendos proveniente de ações e fundos imobiliários. Destaco que o mais importante é entender o conceito por trás e tratar os dividendos como parte do patrimônio e não como uma renda extra.

Foco em acumular patrimônio

Boa parte dos investidores se confundem no conceito do recebimento de dividendos, achando que essa forma seria uma geração de renda. Porém, não conhece o efeito do desconto aplicado ao valor da ação ou fundo imobiliário.

Dessa forma, para exemplificar, vamos supor que a ação da empresa A esteja valendo R$ 9 e, depois de um bom ano de resultado, conseguiu acumular mais R$ 1 em reserva de lucro. Assim, desconsiderando a volatilidade do mercado, a empresa em questão aumentou seu valor patrimonial passando a ter uma ação valendo R$ 10. Nesse ponto, temos duas possibilidades: a empresa pagar dividendo de R$ 1 e ter seu valor de mercado corrigido para R$ 9 novamente, ou acumular esse resultado e não distribuir o dividendo.

Isso pode se exemplificar na diferença de empresas com estilo “Growth” que acabam retendo mais lucro para reinvestir em seus projetos e, dessa maneira, espera-se uma valorização maior em seu valor de cota. E de empresas com estilo “Value”, que geralmente já possuem um grande “market share” e pouco crescimento em potencial, levando a ser uma empresa que distribui mais lucro aos cotistas em formato de dividendos, juros sobre capital próprio e bonificações.

Por isso, do ponto de vista contábil, um investidor que recebe dividendo ou venda parte das ações seria a mesma coisa. De fato, ele está utilizando parte de seu patrimônio com alguma despesa pessoal. Obviamente podemos olhar diferenças por conta de impostos, uma vez que a venda de cotas de fundo imobiliário com lucro possui IR de 20% e seus rendimentos são isentos (para pessoas físicas). Mas a ideia central desse texto é poder passar de forma clara o efeito dos dividendos no nosso patrimônio para que se possa tomar melhores decisões e não para explorar os detalhes.

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Boa parte desse comportamento pode ser descrito pela “teoria da relevância dos dividendos”, em que, certo grupo de investidores se sentem mais confortáveis em investir em ativos com pagamento mais previsíveis de dividendos. Quando se tratam de ganhos de capital, os investidores precisam enfrentar uma quantidade significativa de incertezas. Isso porque não existe uma métrica que possa estimar com segurança quanto ganho de capital uma ação específica irá gerar. O desempenho final de ganho de capital de uma ação depende de vários fatores e alguns deles estão fora do controle do acionista.

A Teoria da Relevância dos Dividendos trabalha com a ideia de que os investidores são mais propensos a escolher investimentos mais seguros em vez de arriscados. Em comparação com os ganhos de capital, os dividendos são mais fáceis de prever e calcular. Eles também representam riscos menores para os investidores. No entanto, eles também vêm com retornos mais baixos, que às vezes são significativamente mais baixos do que os ganhos de capital.

Desse modo, criar uma carteira para gerar renda o suficiente apenas para cobrir suas despesas, pode ser um erro fatal no longo prazo. Vejamos um exemplo: um investidor aposentado possui uma carteira de 1 milhão de reais que acaba gerando uma “renda” em dividendos de R$ 10 mil ao mês. Caso ele se utilize de todo esse valor, sem deixar nada para reinvestir, pode ter seu poder de compra afetado no longo prazo pela inflação. Lembrando que todo mês, ao utilizar os dividendos, ele está utilizando parte de seu patrimônio. Isso implica que toda a rentabilidade gerada pela carteira de investimentos está sendo gasta, afetando o seu crescimento patrimonial.

É claro que alguns investimentos como ações e fundos imobiliários de tijolos possuem uma certa forma proteção contra a inflação. As empresas vencedoras conseguem repassar o valor do IPCA em seus produtos evitando que suas margens líquidas diminuam com o tempo e os fundos de tijolos corrijam o valor de seus contratos por um indexador anualmente. Porém, sempre contar com isso pode ser um pouco perigoso, as empresas podem passar por crises de má gestão e os FIIs podem apresentar vacância. E isso são apenas poucos apontamentos de fatores que podem afetar a rentabilidade desses ativos. Às vezes, podemos apenas escolher uma empresa que com o tempo perca sua competitividade no mercado e acabe fechando as portas futuramente.

Por isso, o mais importante é sempre focar no maior acúmulo de patrimônio e não mirar no valor exato para gerar a renda necessária para pagar as dívidas pessoais. Uma forma de aliviar isso seria apenas utilizar 70% da renda e deixar 30% reinvestindo para ajudar que seu patrimônio continue crescendo e que se corrija pela inflação, aumentando o seu poder de compra real nesse período de usufruto. Quanto maior a renda desses investimentos for possível reinvestir, melhor.

*O autor é Analista Pleno de fundos Listados e Renda Fixa. Certificações CGA e Ancord, da Blue3 Investimentos

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Vitor Nery Fagnani
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