João Canhada

Acalmem as críticas ao desenvolvimento tecnológico

As inovações tecnológicas também passam pelo bater do martelo cibernético – mesmo que alguns não saibam muito o que estão falando.

É inegável que nossa vida é extremamente digital atualmente. Sejam seus dados pessoais, valores em contas bancárias, intenções de compra de produtos e até mesmo acessos à internet, todos estão disponíveis em algum lugar do mundo cibernético.

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Por isso, não seremos irresponsáveis aqui de pensar que cada inovação tecnológica não exige uma série de cuidados e critérios relevantes – muitas vezes rígidos – para evitar vazamentos de informações, invasões e outros prejuízos aos usuários.

Entretanto, precisamos também abaixar um pouco mais o tom sobre as críticas que, muitas vezes, a própria comunidade lança para determinados projetos, em um movimento de “silenciar” – ou no popular: “cancelar” – algumas inovações tecnológicas.

Desenvolvimento do Bitcoin

Independente se você é um novato no universo das criptomoedas ou um “sênior” na tecnologia, é sempre importante dar uns dois passinhos para trás e olhar o macro, principalmente do Bitcoin (BTC).

Nosso querido BTC foi não só a primeira moeda digital a ser criada, mas também a primeira aplicação da blockchain conhecida no mundo até então. E mesmo que essa cripto ainda domine todo o setor, inclusive em relação ao valor, tecnologicamente falando, o Bitcoin não explora muito bem todo o potencial técnico.

De forma geral, a rede do Bitcoin e a própria criptomoeda possuem características que a colocam como uma moeda focada em transação de valores segura, rápida e auditável.

Mas quando vamos pensar em outras aplicações, como smart contracts e NFTs (non-fungible tokens), a história é bem diferente!

A blockchain do Bitcoin é considerada “lenta e cara” em comparação com outras redes, como Ethereum, Polygon e Solana. Por isso, utilizar esses outros conceitos e tecnologias dentro do modelo atual do BTC é, no mínimo, ineficiente.

As inovações estão surgindo

Por se tratar de um sistema descentralizado, é natural que algumas soluções demorem mais a serem desenvolvidas. E não pela falta de um dono, mas, sim, pela ausência de uma proposta clara e definida.

Mesmo assim, muita coisa nova e boa saiu por essas bandas. Podemos facilmente citar a Lightning Network, uma solução incrível de escalabilidade que permite realizar transações de Bitcoin com muito mais velocidade e menores custos do que se elas fossem feitas via rede principal.

Com essa evolução mais “disseminada”, o desenvolvimento de novas funcionalidades e protocolos fica sob responsabilidade de empresas terceiras ou desenvolvedores autônomos, como veremos a seguir.

Bitcoin Ordinals

Um dos desenvolvimentos de destaque recente para a blockchain do Bitcoin – que ocorreu bem nos moldes descentralizados – foi a criação do protocolo Ordinals, pelo programador Casey Rodarmor.

A partir deste processo, é possível gerar “inscrições” de dados, como imagens, textos e até vídeos dentro das criptomoedas da rede… Algo que conhecemos hoje como NFTs.

Essa solução, claro, está longe de superar o bom desempenho do Ethereum para a criação dessa classe de tokens. Porém, é uma novidade muito interessante!

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Uma cadeia de inovações

Embora os Ordinals não sejam “A” solução, ele abriu espaço para que outros desenvolvedores tivessem novas ideias e elaborassem inovações para a plataforma.

Este é o caso do protocolo BRC-20. Aqui, é possível utilizar as “inscrições” dos Ordinals para inserir funções executáveis à criptomoeda: sejam elas simples, como a descrição de características de fornecimento, limite de cunhagem e identidade da moeda; ou até realizar alguma ação dentro da blockchain.

Assim, a rede do Bitcoin ganha agora a possibilidade de, quem sabe, criar smart contracts, realizar a tokenização de ativos ou até mesmo, enfim, o desenvolvimento de soluções para finanças descentralizadas (DeFi).

O bater do martelo

O que a internet dá, a internet também tira. Não é só em relação à política que os “formadores de opinião” e “estudiosos” estão à espreita para dar seu veredito sobre determinado tema. As inovações tecnológicas também passam pelo bater do martelo cibernético – mesmo que alguns não saibam muito o que estão falando.

Recentemente, os tokens BRC-20 geraram um congestionamento na rede do Bitcoin, aumentando consideravelmente as taxas cobradas para as transações da criptomoeda e tornando as transações cada vez mais lentas.

Boa parte desse problema aconteceu, pois, como o protocolo é muito simples de ser operado, houve uma enxurrada de memecoins sendo criadas ao mesmo tempo na rede. Aquela famosa brincadeira de criança que vê algo interessante na internet – no caso, a Pepecoin (PEPE) – e tenta repetir com os amigos no mundo real.

Claro que esse travamento não é nada bom, ainda mais quando pensamos que esta é a mais valiosa blockchain do mundo atualmente. Porém, os “paladinos” criptográficos logo levantaram suas bandeiras, pedindo o banimento do protocolo BRC-20, alegando que isto estaria sendo um ataque à plataforma e acabando com a descentralização da rede.

Vamos diminuir um pouco o tom

Pode parecer que estou aqui defendendo com unhas e dentes os tokens BRC-20. Mas, não! Muito pelo contrário. Acredito que há bastante coisa ainda a ser desenvolvida e muito cuidado para a implementação de novas soluções.

Até o próprio criador do protocolo, o desenvolvedor de pseudônimo “Domo”, publicou em seu Twitter que as pessoas não deveriam gastar dinheiro com essas moedas, pois eram apenas um experimento técnico e divertido – ou seja, nada que pudesse gerar valor.

E quem sou eu na fila do pão para discordar do criador do protocolo?

Ele está certo, inclusive! De fato, o BRC-20 tem muitas lacunas abertas, como questões de segurança e a falta de capacidade desses tokens serem diferenciados de outras criptomoedas. Assim, um “NFT” pode ser usado para pagamento de taxas de transações, sem que o usuário perceba em um primeiro momento, por exemplo.

Mas tirando esses aspectos técnicos negativos de lado, a blockchain do Bitcoin está, pela primeira vez, conseguindo fazer algo que não fazia muito bem antes, mesmo que ainda precise melhorar em diversos critérios. Se o BRC-20 dá sinais de que não será a solução inovadora e consolidada que muitos gostariam, ela, junto com os Ordinals, estão pavimentando um caminho que, até então, não havia sido trilhado desta forma.

Por isso, esse “ban hammer” – martelo do banimento – da comunidade criptográfica é extremamente agressivo e contraditório à descentralização que eles mesmos pregam. Afinal, a reação pode impedir o desenvolvimento de novas aplicações para o Bitcoin, colocando a rede em um status de “estagnação”.

Ao ver uma inovação, a gente precisa olhar com atenção, entender seu funcionamento, quais são seus potenciais, desafios e desvantagens. Não é fechando o cerco às novidades, como a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos está fazendo às exchanges e empresas criptos, que vamos chegar a algum lugar.

Só com análise, pessoas especializadas e comprometidas que vamos absorver os desenvolvimentos e pensar em como melhorá-los, não como bani-los!

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Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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