Bruno Perottoni

Não fuja dos princípios. Para decisões no mercado, faça contas!

O que persiste e atravessa o tempo ditando o ritmo que poucos ouvem? Os princípios. Quais são eles? Relembremos

Certa vez questionei um guru financeiro, vendedor de livros sobre como enriquecer, se o que o tornara rico eram os conselhos que ele dava ou a venda dos conselhos resumidos em livros? Certamente, o clima não ficou muito agradável com a minha indagação. Não houve resposta, penso que algo ficou no ar.

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Anos se passaram. Saímos dos períodos brutos do mercado viva-voz, deixamos os boletos de papel e depois, tudo se tornou eletrônico. Não era suficiente. Entraram os algoritmos, high frequency trading, inteligência artificial, novos produtos com nomes exóticos. Moeda deixou de ser simplesmente moeda, finanças foram descentralizadas e tudo mais. Bancos nasceram, cresceram e sucumbiram, assim como os grandes impérios da humanidade. E qual a música de fundo de todas essas alegorias, o que persiste e atravessa o tempo ditando o ritmo que poucos ouvem? Os princípios.

Um deles, senão o mais relevante, remonta à ciência dos gregos chamada Matemática. Fazer conta, esse é o segredo. Mercado faz conta, grandes players fazem contas. Fazendo uma simplificação bem forçada, mas muito visual, a conta que se faz assemelha-se aos pratos de uma balança. O que pesa mais? Muito do que se faz, do que move o fluxo financeiro além das fronteiras, é baseado no custo do dinheiro (os juros) e o custo de oportunidade – o famoso “e se eu estivesse fazendo outra coisa com meus recursos”. Pronto, trocamos muitas fórmulas por poucas palavras apenas para fins didáticos – para decisões, façam contas! Querem exemplos? Temos.

Relembramos momentos de juros zero no mundo todo, negativo em alguns lugares. Selic na casa de 2% no Brasil. Coloca-se isso num prato da balança, do outro lado, qualquer unicórnio ou fintech disruptiva vendendo um serviço que nem todo mundo precisa, que não dá lucro, mas tem uma boa base de clientes: é tech, é cool. Parece fazer sentido. Então, coloque juros de 5% na maior economia do mundo num outro prato da balança, ou 13,75% num país como o Brasil, tudo que se pesa no outro prato perde um pouco o sentido e o apetite ao risco dá lugar ao racional. Nesta analogia simples, entendemos que juros comandam os mercados e o “fazer conta” movem os pratos da balança.

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Claro que essa comparação é extremamente simplista, mas, ainda assim, válida. Grandes players estão diuturnamente fazendo as contas do famoso carry trade. Por que a Argentina com taxa de juros de 97% ao ano não atrai investidores? Por que nem todo dinheiro do mundo é aplicado no Brasil com a Selic em 13,75%? Quanto custa o dinheiro? Qual o risco? Qual o custo de mitigar o risco? Tem segurança jurídica?

Esse raciocínio nos conduz ao segundo princípio, que está ligado ao que eu disse, anteriormente, sobre o vendedor de conselhos. Um dos conselhos que todos aqui já ouviram dos mais antigos é: gaste menos do que você ganha. Vale para mim, para você, para bancos, banqueiros e bancos centrais.

Enfim, a música de fundo de todos os mercados que vemos está na mão da política monetária, da austeridade e do rigor fiscal. Isso define os juros, o resto deriva disso. Assim, façam contas! Pensem como players grandes e racionais, fujam do imediatismo e do dinheiro fácil dos livros de “auto ajuda financeira” e do “arrasta a tela pra cima”. Faz mais sentido.

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Nota

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Bruno Perottoni
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