Caso Jack Ma: ser bilionário na China não é mais um bom negócio?

O caso do desaparecimento do fundador da Alibaba, Jack Ma, ligou um alerta vermelho entre os bilionários chineses. Será que ainda é um bom negócio ser tão rico na China?

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Isso pois Jack Ma desapareceu por semanas após entrar em rota de colisão com o governo de Pequim, que não perdoou um discurso em que o empresário criticou o sistema financeiro chinês.

Em uma palestra em Shangai, ele rejeitou as regras impostas pela China para as atividades financeiras, classificando-as como “um clube dos idosos”, e salientando como “não podemos usar os métodos de ontem para regular o futuro.”

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O contraste com Pequim acabou decretando o fracasso da Oferta Pública Inicial (IPO) do Ant Groupfintech do grupo – prevista para novembro, além da abertura de uma investigação antitruste contra o próprio Alibaba em dezembro.

O dia antes do IPO da Ant Group, que tinha que ocorrer simultaneamente nas Bolsas de Valores de Shangai e Hong Kong, os reguladores chineses convocaram Jack Ma e lhe intimando de respeitar a nova lei sobre microcrédito, na base da qual ele deveria eliminar de sua plataforma as atividades bancárias.

A briga com o governo da China custou caro ao empresário: o patrimônio líquido de Jack Ma caiu US$ 12 bilhões (cerca de R$ 63,6 bilhões) em apenas dois meses.

Não apenas Jack Ma

Mas o caso de Jack Ma não é o único na China. Muitos outros bilionários estão também sofrendo consequências por não estar alinhados com o governo de Pequim.

A história recente da China está repleta desses exemplos de empreendedores que caíram do pedestal.

A vida dos campeões do empreendedorismo privado chinês está repleta de armadilhas e emboscadas.

O governo os atrai, dando-lhes as primeiras fileiras nas Cúpulas e Fóruns e um assento no Parlamento.

Isso os eleva como profetas da economia privada.

Mas eles apenas se iludem de brilhar de luz própria sem ter que responder nada a ninguém, nem mesmo ao establishment que tem necessidade de criar símbolos de empreendedorismo privado.

Mas entre o governo chinês e os empresários existe uma linha vermelha e um pacto não escrito. Quando aquela linha vermelha acaba sendo cruzada e o pacto não escrito é rompido, os magnatas de pés de barro caem, derrocados por sua própria arrogância.

O estranho caso do Sr. Xiaohui

Por exemplo, é o caso de Wu Xiaohui, o fundador da gigante dos seguros Anbang, que tinha mais de US$ 250 bilhões em ativos, reduzida em cinzas e depois confiscada pelo governo chinês, que foi condenado a mais de trinta anos de prisão.

O empresário surgiu do nada, e fazia questão de lembrar suas origens humildes. Famoso por sua brutalidade e pelo seu jeito valentão, ele destoava muito das maneiras suaves dos burocratas do Politburo.

“Nós da Anbang apenas fazemos investimentos que rendem 10% ou mais”, declarou em várias ocasiões.

No último Boao Forum para a Asia, Xiaohui explicou que havia ressuscitado o famoso hotel Waldorf Astoria em Nova York, comprado por US$ 2 bilhões, dividindo-o em vários apartamentos luxuosos.

Pena que, sentado ao lado dele, estava o filho do ex-primeiro-ministro chinês, Zhou Rongji, especialista em finanças que, não deve ter gostado do espetáculo, e jogou um olhar glacial contra o colega. Um cara assim, na China, não poderia durar.

Logo Wu Xioahui se tornou um pária da alta sociedade empresarial chinesa. E o fato dele ter casado com Zuo Ran, neta do líder Deng Xiaoping – o profeta do “enriquecer é glorioso”, não conseguiu se salvar da investida do governo.

No dia 8 de junho de 2017, Wu Xiaohui foi detido pela polícia dentro da sede da Anbang, foi forçado a deixar o cargo de presidente e acabou na prisão.

O magnata foi investigado e processado por fraude e crimes econômicos, e o governo chinês assumiu o controle da Anbang.

Guo Guangchang na delegacia policial

Outro caso famoso foi do Sr. Guo Guangchang, outro empresário que veio do nada e que quase acabou destronado também. Patrimônio pessoal de US$ 6,5 bilhões.

O fundador do Fosun, maior conglomerado da China continental, com interesses em setores de seguros, produtos farmacêuticos e saúde, imobiliário, siderurgia, mineração, varejo, serviços, finanças e gestão de ativos, desapareceu cinco anos atrás por uma semana quando estava na cidade de Xangai.

Detido em uma delegacia de polícia, reapareceu magro e acabado, declarando que “estava colaborando com as investigações”.

Dedos cortados e águas minerais

O que dizer, então, de um empresário considerado um exemplo de retidão pelo Partido Comunista Chinês?

É o caso de Zong Qinghou, fundador do império de água mineral Wahaha, o mais famoso da China, e delegado na Assembleia Nacional Chinesa. Patrimônio pessoal, US$ 8,2 bilhões.

Acusado de irregularidades tributárias, em 2013 ele foi vítima de uma ataque nas ruas de sua cidade natal, Hangzhou.

O agressor lhe cortou duas falanges com uma arma afiada. Ainda hoje ninguém conseguiu descobrir como isso foi possível.

Zong Qinghou denunciou publicamente ter sido agredido em um “ataque por vingança”. Mas esse barulho todo só acelerou seu declínio.

Qinghou, que começou sua carreira trabalhando em uma mina de sal, se tornou um empresário de sucesso, mas acabou esmagado pelo abraço mortal do Partido Comunista, e acabou na poeira.

Olhos do mundo sobre Pequim

Esses e muitos outros casos de empresários que tiveram um destino complicado estão levando os olhos do mundo sobre Pequim.

Na hora do sucesso, os grandes protagonistas da economia chinesa representam a confiança na capacidade da China de criar um espaço ilimitado para o empreendedorismo privado, retirando o Estado da economia.

Entretanto, os acontecimentos dos últimos anos contam uma história totalmente diferente, com resultados às vezes impensáveis ​​e imprevisíveis.

O caso de Jack Ma, o magnata dos magnatas, o homem mais rico da República Popular Chinês, o símbolo da economia privada, é extremamente difícil de gerenciar.

Isso também pois Ma já tinha organizado a resistência, criando o China Entrepreneur Club (CIC), a organização que reúne os mais ricos da China.

Se Jack Ma conseguir voltar, as ações da Alibaba, que hoje vale US$ 700 bilhões, provavelmente irão para as estrelas.

Mas se ele desaparecer, o Alibaba poderá enfrentar uma séria crise.

Porque o Alibaba deve sua fortuna ao e-commerce, que hoje vale um terço do Produto Interno Bruto (PIB) da China.

Em sua plataforma, o grupo vende de tudo, da água mineral aos seguros, de remédios aos carros.

Um gigante que também possui os dados de mais de um bilhão de chineses, que já compraram em sua plataforma.

Um conjunto importante demais para o governo de Pequim. Que poderia decidir de nacionalizar a empresa. O que significaria o fim definitivo da corrida para Jack Ma.

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Carlo Cauti

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