Ações recomendadas para Dezembro: as escolhas que podem abrir 2026 com vantagem

Se dezembro costuma ser mês de retrospectivas, rabanadas e promessas repetidas, na Bolsa o clima não é muito diferente — só que, em vez de panetone, o investidor ganha um prato cheio de ações selecionadas a dedo pelos principais bancos e casas de análise. Poucas tradições de fim de ano são tão aguardadas quanto a chegada das carteiras recomendadas para o último mês do calendário. É aquele momento em que o mercado tenta adivinhar quem vai brilhar no “Natal” do Ibovespa e quem carrega potencial para abrir 2026 alinhado à queda de juros no Brasil e nos EUA.

O mosaico das casas, e a história que ele conta

O ponto de partida natural é a Carteira Ibovespa 10+ da Genial Investimentos, que em novembro entregou uma performance de 10,68%, acima dos 6,37% do próprio Ibovespa — e acumula 37,67% em 2025. Na virada para dezembro, a Genial fez uma verdadeira “troca de presentes”: saíram COGN3, DIRR3, JHSF3, LAVV3, MDNE3 e NEOE3, e entraram nomes ligados a bancos, saneamento, utilities e consumo, como BBDC4BRBI11CSMG3ENEV3TFCO4 e VULC3 (como mostra o gráfico de composição enviado pelo próprio relatório). Essas mudanças refletem exatamente a narrativa macro: setores mais resilientes ao juro alto agora, mas com forte alavancagem positiva se a queda da Selic começar logo no início de 2026.

A Andbank, por sua vez, reforça teses específicas dentro de cada empresa analisada. O banco enxerga BBSE3combinando resultados robustos no curto prazo — como o lucro líquido de R$ 2,6 bilhões no 3T25 — com um dividend yield atrativo de 12% para 2026. Bradesco (BBDC4) e Itaú (ITUB4) aparecem como bancos que melhoram gradualmente seus resultados, enquanto ITSA4 ganha brilho pelo potencial de dividendos extraordinários. Entre utilities, CPFE3 e CPLE5 aparecem como descontadas e bem-posicionadas para 2026, ambas com DY estimado acima de 7%. E no segmento de telecom e consumo essencial, TIMS3 e VIVT3 seguem como casos sólidos, eficientes, com margens em expansão e expectativa de yield entre 7% e 8% no próximo ano — além da presença sempre estratégica de VALE3, com seus 11,6% de dividendos projetados.

Do lado da Ágora Investimentos, a mudança é tática: sai Multiplan, entra Allos, reforçando a visão de yield durante um 2026 em que o mercado deve premiar fluxos mais previsíveis. A carteira da Ágora mantém também nomes icônicos como AxiaBTG PactualCyrelaItaúPetrobrasSabespValeVibra e WEG, reforçando um equilíbrio entre carregadores de longo prazo e papéis com sensibilidade ao ciclo.

Já os estrategistas do BTG Pactual descrevem um cenário muito parecido ao das demais casas: confiança crescente de que os cortes começam já em janeiro, projeção de 300 bps de redução ao longo de 2026 e uma preferência clara por companhias de alta qualidade e longa duração. A novidade do mês é a entrada de Eneva, adicionada pelo potencial extraordinário ligado ao Leilão de Capacidade — e a saída do Itaú, após forte desempenho acumulado. O restante da carteira permanece com NubankRede D’OrEmbraerEquatorialLocalizaCopelSmartfitCyrela e Direcional, compondo um portfólio que equilibra construtoras, serviços básicos e nomes de crescimento estrutural.

Safra faz ajustes mais granulares: tira TIMS3 e abre espaço para VIVT3, que o banco vê com maior capacidade de cross-sell e potencial ainda não precificado de dividendos extraordinários. Reduz Multiplan, Copel e JBS e aumenta Itaúsa, mirando o fluxo de proventos oriundos do Itaú. A carteira final do Safra reúne JBS, Direcional, Vale, Petrobras, Bradesco, Itaúsa, Multiplan, Telefônica Brasil, Copel e Energisa — alternando entre defensividade, dividendos, commodities e nomes acíclicos.

O fio que costura todas essas carteiras

Quando lemos as recomendações de dezembro como um grande texto contínuo — e não apenas listas separadas — uma história maior se revela.

As casas estão convergindo para três pilares:

1. Ações com beta moderado, mas forte assimetria caso a Selic caia logo no primeiro trimestre.

Construtoras como Cyrela e Direcional, varejo de qualidade como TFCO4, utilities muito descontadas como CPLE5 e CPFE3, e empresas de energia como ENEV3 aparecem em praticamente todas as leituras.

2. Bancos tradicionais seguem como espinha dorsal.

Bradesco, Itaú, Itaúsa — ora com ajustes de peso, ora com substituições pontuais — aparecem como porto seguro para 2026, com dividendos altos e valuation descontado.

3. O investidor quer empresas de alta qualidade e longo prazo.

Nubank, Rede D’Or, Embraer, Localiza, Vale, Petrobras.
São empresas que carregam história, previsibilidade, escala e que, num ambiente global mais benigno, tendem a ser as primeiras a atrair fluxo estrangeiro.

Se dezembro marca o fim do ciclo anual, para a Bolsa ele mais parece o prólogo do ano que vem. A palavra de ordem é ações, mas ações que combinem qualidade com assimetria.

Maíra Telles

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