Nilio Portella

A corrida pela inteligência artificial

Corporações de todo o mundo estão correndo contra o tempo para não perder o “boom” dos investimentos em inteligência artificial (AI). Mas não é de hoje que essa tecnologia vem atraindo investidores. Será que vale a pena entrar nessa corrida? Esse boom pode resultar numa bolha?

Desde o lançamento do ChatGPT pela OpenAI no final do ano passado, corporações de todo o mundo estão correndo contra o tempo para não perder o “boom” dos investimentos em inteligência artificial (AI). Mas não é de hoje que essa tecnologia vem atraindo investidores.

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No início de 2021, a Distrito, com apoio da KPMG, lançou o estudo Distrito Inteligência Artificial Report com levantamento sobre o mercado da inteligência artificial desde 2012. De acordo com o estudo, havia na época (2020) 702 startups no Brasil cujo foco de atuação era a IA.

Neste cenário, foram realizadas 274 rodadas de investimento em empresas com negócios voltados para a IA, seja com produtos baseados na tecnologia ou no desenvolvimento de soluções. Os estágios de Pré-Seed e Seed foram os mais recorrentes em investimentos, com 61 e 121 aportes, respectivamente. As startups captaram, entre 2012 e 2020, US$ 839 milhões.

Neste ano, com a “corrida” de investidores ao mercado em busca de alocar recursos em empresas como a OpenAI – a qual muita gente desconhecia antes do ChatGPT –, o que se viu foi um montante de US$ 35 bilhões em negócios com foco em IA registrados entre janeiro e maio, somados a um recorde de US$ 12,8 bilhões provenientes de companhias “puro sangue”, cujo business é inteligência artificial generativa, como a OpenAI. Quando comparamos, estamos falando de 5x o valor do mesmo período do ano passado. Os dados são da Pitchbook, uma das principais empresas fornecedoras de dados sobre os mercados de capitais globais.

Mas será que vale a pena entrar nessa corrida? Esse boom pode resultar numa bolha? Há o risco de termos outra crise “ponto com” como a dos anos 2000?

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Antes do ChatGPT, muitos investidores apostaram na IA e hoje estão colhendo os frutos, com valuation muito valorizado e com cada vez mais investidores batendo à porta. A Inflection AI, dos empreendedores Mustafa Suleyman (cofundador da DeepMind, empresa de IA adquirida pelo Google) e Reid Hoffman (fundador do LinkedIn), tornou-se unicórnio (quando uma startup alcança US$ 1 bilhão de valor de mercado) em maio de 2022, quando recebeu um aporte de US$ 225 milhões em uma rodada de investimentos. Indo mais longe, a Invoca, startup B2B fundada em 2008 e que usa IA com o objetivo de rastrear melhor as métricas de vendas e marketing, levantou ano passado US$ 83 milhões, chegando a um valuation de US$ 1,1 bilhão. Um dos principais investidores da Invoca é Gregg Johnson, ex-executivo da Salesforce, que ingressou na startup em 2017.

No entanto, o receio do mercado parece estar voltado para quem está entrando nessa “onda” agora, sem conhecer como funciona efetivamente o desenvolvimento de soluções, algoritmos, produtos e serviços baseados em inteligência artificial. Leva-se tempo para que uma solução esteja completa e viável para ser lançada no mercado e a IA é uma tecnologia que ainda está se desenvolvendo em todo o mundo.

A crítica de muitos analistas e executivos, comparando com a crise das “ponto com”, é justamente essa. Investidores aportando capital em empresas com pouco tempo de vida, sem analisar profundamente qual a proposta de valor e squad da companhia. E sem conhecer como funciona o desenvolvimento de uma IA e sua implementação. Uma triste recordação da crise das “ponto com” foi a queda de 70% de valor do índice Nasdaq nos anos 2000. Esse é o receio do mercado.

O fato é que, nas últimas semanas, segundo dados da EPFR Global, o setor de tecnologia registrou uma saída de US$ 2 bilhões até o dia 21 de junho. É um alerta, mas não se trata de uma crise. Na verdade, o índice Nasdaq 100 deve registrar o seu melhor semestre desde 1999.

Portanto, o que vale é a parcimônia. Não há necessidade alguma de entrar em uma corrida com receio de perder oportunidades. A ponderação é o melhor caminho e o que deve ser analisado é se você está entrando em uma furada ou não. O pior que perder uma oportunidade é investir errado. Ainda há muito para se descobrir no campo da inteligência artificial, e mercado e governos têm discutido questões éticas que, provavelmente, resultarão em um marco regulatório. Esse frenesi vai passar. Muita startup que ainda não estava madura o suficiente vai perder espaço, e o mercado vai se consolidar normalmente – é o que todos nós esperamos.

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Nota

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