A temporada americana de resultados está prestes a começar — e, segundo a XP Research, ela promete emoção, mas sem exageros. O time de estratégia global da corretora, liderado por Raphael Figueredo e Maria Irene Jordão, projeta um crescimento de 8,3% no lucro por ação (LPA) das companhias do S&P 500 em relação ao mesmo período do ano anterior, o que indica mais uma rodada de desempenho robusto, ainda que com sinais de desaceleração.
“O cenário é favorável, marcado por resiliência do consumidor americano, redução das distorções causadas por tarifas e grande proporção de guidances positivos”, destaca o relatório assinado pelos estrategistas. Eles ponderam, contudo, que o fôlego cambial e outros ventos favoráveis observados no trimestre anterior podem perder intensidade — o que deve limitar surpresas positivas no balanço das empresas.
Resiliência do consumo e estabilidade nas projeções
A XP aponta que a economia dos Estados Unidos vive um ponto de transição importante. O Federal Reserve retomou o ciclo de afrouxamento monetário, enquanto os efeitos das tarifas e a desaceleração no mercado de trabalho ainda geram incerteza. Mesmo assim, o consumo se mantém firme. Os gastos reais de consumo pessoal subiram 1,6% entre o primeiro e o segundo trimestre, e os indicadores do 3T25 — como as vendas no varejo — sugerem continuidade dessa tendência.
“Embora estejamos começando a ver os primeiros sinais de que os custos tarifários estão sendo repassados aos consumidores, a magnitude até agora tem sido limitada”, afirma a equipe da XP.
No câmbio, o efeito positivo do dólar mais fraco perdeu força. Após favorecer os lucros das multinacionais no segundo trimestre, o índice DXY se manteve praticamente estável no período, reduzindo o impulso adicional sobre receitas e margens.
Outro ponto incomum, segundo o estudo, é que as projeções de lucro não caíram ao longo do trimestre. Historicamente, as estimativas tendem a ser revisadas para baixo, mas, desta vez, houve um leve aumento de 0,1%. “Durante os últimos cinco anos, a média de revisão do LPA trimestral é de -1,4%. Dessa vez, tivemos uma pequena alta, o que mostra confiança das companhias”, escrevem os analistas.
Big Techs dividem o palco com o resto do índice
O protagonismo das gigantes de tecnologia continua, mas com menos brilho. Pela terceira vez consecutiva, as “outras 493 empresas” do S&P 500 devem contribuir mais para o crescimento dos lucros do que as chamadas Magnificent 7(Apple, Microsoft, Google, Amazon, Meta, Tesla e Nvidia).
“Embora ainda seja impressionante o fato de que apenas sete empresas representem cerca de 42% do crescimento total do índice, não seria sustentável esperar que a Nvidia, por exemplo, siga com crescimento de três dígitos por muito tempo”, pontua a XP.
Entre os setores mais promissores, a XP destaca tecnologia e utilidades públicas. No primeiro, a inteligência artificial continua sendo o vetor de crescimento, enquanto o segundo se beneficia da alta demanda energética de data centers e infraestrutura digital. O setor financeiro também aparece entre os destaques, sustentado por um ambiente regulatório mais flexível e pelos níveis de juros favoráveis aos bancos.
Na outra ponta, energia e bens de consumo devem ser os principais detratores do crescimento de lucros nessa temporada dos resultados. A XP atribui o movimento aos preços mais baixos do petróleo e aos efeitos residuais das tarifas impostas no primeiro semestre de 2025.
Margens no radar do Fed e dos investidores
O relatório chama atenção para um fator pouco usual: em meio ao shutdown do governo americano, os números corporativos podem ganhar ainda mais peso nas decisões do Federal Reserve. “Com a maioria das divulgações de dados econômicos suspensas, as margens de lucro das empresas se tornam ainda mais relevantes para a direção da política monetária americana”, diz o relatório.
Apesar das incertezas, o tom final do estudo é de equilíbrio. “Esperamos uma temporada de resultados forte, mas com crescimento em linha com as estimativas. O número é sólido e saudável, em linha com a desaceleração que temos observado nos últimos trimestres e sem grande espaço para surpresas positivas”, concluem os analistas da XP.
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