Raízen (RAIZ4): S&P Global rebaixa rating e escancara pressão da dívida

A conta finalmente chegou. A Raízen (RAIZ4) teve sua classificação de crédito rebaixada pela S&P Global, que cortou o rating da companhia de ‘BBB’ para ‘BBB-’, citando atrasos no processo de desalavancagem e um cenário ainda marcado por dívida elevada e queima de caixa. A perspectiva segue negativa, mantendo no radar a possibilidade de um novo downgrade nos próximos meses.

O movimento da agência ocorre em um momento sensível para a empresa, que já enfrenta dificuldades no mercado acionário, com ações negociadas abaixo de R$ 1 e um pedido recente da B3 para detalhar o plano de reenquadramento da cotação mínima exigida.

A leitura das agências de risco é clara: enquanto a dívida não cede, o crédito da Raízen segue sob pressão — e o investidor acompanha de perto.

Alavancagem elevada continua no centro das preocupações

O principal fator por trás da decisão da S&P é a dificuldade da Raízen em reduzir sua alavancagem financeira dentro do prazo esperado. Segundo a agência, a relação dívida líquida/Ebitda alcançou 5,2 vezes nos 12 meses encerrados em 30 de setembro de 2025.

Para os próximos anos, a expectativa da S&P é que o indicador permaneça entre 4,5 e 5 vezes até o final dos anos fiscais de 2026 e 2027, caso não ocorram entradas de caixa não recorrentes relevantes, como vendas de ativos ou aportes de capital.

Em termos práticos, quanto maior esse múltiplo, maior o risco de crédito, já que a companhia passa a depender mais da geração futura de caixa para cumprir suas obrigações financeiras.

Desalavancagem prometida esbarra em atrasos e incertezas

Embora a administração e os acionistas da Raízen sigam reiterando o compromisso de reduzir a dívida, a S&P avalia que a execução dessas estratégias ainda gera dúvidas.

“Embora a administração e os acionistas continuem a expressar publicamente seu objetivo de reduzir a dívida por meio de vendas de ativos e uma capitalização, o atraso na conclusão de transações maiores manterá a alavancagem sob pressão por mais tempo do que esperávamos inicialmente”, diz a S&P.

A agência também destaca que o cronograma, os valores e o impacto dessas operações no Ebitda e no fluxo de caixa ainda não estão claros, o que amplia a percepção de risco para credores e investidores.

Perspectiva negativa mantém risco de novo downgrade

A manutenção da perspectiva negativa indica que o cenário pode se deteriorar ainda mais. Segundo a S&P, um novo rebaixamento pode ocorrer nos próximos seis meses caso atrasos adicionais em uma injeção de capital ou em vendas de ativos impeçam a Raízen de reduzir a alavancagem para perto de 3 vezes o Ebitda no ano fiscal de 2027.

O alerta se soma a uma sequência recente de cortes de rating. Desde o fim de outubro, a empresa já havia sofrido downgrade da Moody’s, para Ba1, e da Fitch Ratings, que reduziu a nota de crédito para “BBB-”, também com observação negativa.

Com crédito pressionado, alavancagem elevada e ações fragilizadas, a RAIZ4 entra no radar do mercado como um caso que exige atenção redobrada. Para o investidor, o recado das agências é direto: o tempo para entregar resultados concretos está ficando curto.

Maíra Telles

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