Occam volta a tomar risco e opta por setor de tecnologia

A atenuação da crise causada pelo coronavírus (covid-19) fez com que a Occam voltasse os olhos novamente ao risco. Os novos hábitos de consumo, que foram anabolizados durante a pandemia, fizeram com que o setor de tecnologia fosse a bola da vez na gestora, que possui R$ 10 bilhões sob gestão.

Dentro desse setor, a estrategista da Occam, Isabel Ramos, aponta o Magazine Luiza (MGLU3), geralmente vista apenas como varejista, como uma das apostas da gestora dado a presença on-line da companhia.

“Gostamos de Microsoft, Apple, Visa e Mastercard. Dentro do Brasil, Magalu, que não é de varejo, e sim uma empresa de tecnologia. Lá atrás, o pessoal não entendeu isso, falaram muito de valuation, mas o valuation de empresa tech é outro”, disse.

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“Também gostamos de B3, que também é uma empresa de tecnologia. E, agora, tem valuation super atrativo e o nível de negociação e volume estão muito altos”, afirmou.

Apesar da atenção especial às empresas tech, a gestora continua atenta aos efeitos práticos do coronavírus na economia, principalmente em relação a uma possível segunda onda de contágio e de quarentena.

“Há uma melhora [na atividade econômica], mas ainda sim há um impacto gigantesco [causado pelo coronavírus]. Estamos com previsão de queda de 5,6% para o PIB, em um ambiente de grande instabilidade”, afirmou o economista-chefe da Occam, Paulo Val.

“Se tivermos uma segunda onda, se não tivermos convicção de onde ir, o cenário segue muito incerto. A incerteza é menor que abril e março, mas continua muito instável”, disse.

Confira a entrevista do SUNO Notícias com Paulo Val e Isabel Ramos, da Occam Brasil:

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-Me fale um pouco da história da Occam, um pouco da filosofia de investimentos da casa..
Isabel Ramos: Occam significa você se restringir ao simples e ao essencial, é você saber separar o sinal do ruído e ficar no que é, de fato, importante.

Somos uma casa que vai fazer dois anos, mas já temos um histórico de dez anos. Éramos ligados ao banco Brasil Plural e, no fim de 2017, decidimos fazer um spin-off e criar uma gestora independente para conseguirmos oferecermos os fundos que julgamos ter vantagens, definir o tamanho ideal, meritocracia maior, com partnership, e fazemos só e somente a gestão dos fundos.

Transferimos os fundos do banco à Occam e, por isso, já nascemos com um time jogando junto há muito tempo e fundos com um histórico grande. Isso confere uma tranquilidade grande aos clientes porque sabem que é o mesmo time, o mesmo fundo, com mais mobilidade e foco. Conseguimos juntar vários fatores interessantes quando nascemos.

Somos muito fundamentalistas, fazendo um dever de casa profundo, com dois comitês. Então, para qualquer posição se tornar relevante, tem que haver unanimidade. Isso tudo para evitar riscos desnecessários, como montar uma posição sem discussão, por exemplo.

Mas, ao mesmo tempo, queremos manter uma gestão ativa, mantendo nossa agilidade, em um cenário que tudo muda muito rápido. Então criamos uma régua da Occam em que temos que ser capazes de sair de qualquer posição em até 15 dias.

Assim, resolvemos fechar alguns de nossos fundos para justamente preservarmos a regra de gestão ativa. Temos uma única estratégia, dividida em diversos fundos. Não temos times de gestão. Todo mundo está atento a principais oportunidades e essa filosofia é expandida para os diversos fundos, de acordo com o nível de vol e de mandato.

Como se tivéssemos um único produto, com variações, de acordo com grau de risco, então fazemos uma ponderação.

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Temos baixa correlação com indústria de multimercados no Brasil. Aqui, essa indústria tem uma característica preponderantemente macro. Nós temos uma equação inversa. São dois terços em renda variável e um terço em macro.

Na renda variável a gente busca extrair o alfa, ou seja, retornos acima de benchmark ao fundo independente do cenário. Faço isso escolhendo muito bem papéis comprados, com crescimento e retorno adequado, com management aprovado, alfa nos setores de qualidade e líderes do setor. Em contrapartida, temos proteções, com hedges em empresas que achamos que têm um preço exagerado.

Quando temos um cenário muito negativo, teremos empresas que conseguem se beneficiar e teremos mais proteção. Isso faz com que tenhamos uma baixa correlação pois os fundos andam meio parecidos, quando um cai, todo caem e isso é ruim. O interessante é diversificar.

Quando você diversifica seu portfólio, você diminui o risco e aumenta o seu retorno.

O terceiro é o tamanho. Não queremos ser o maior, mas o melhor em alguns aspectos. Vemos algumas gestoras com um patrimônio muito grande e eles não conseguem ter uma gestão ativa por causa do tamanho.

Então começamos com R$ 2,2 bilhões. Hoje estamos com R$ 10 bilhões e esse tamanho é um tamanho que achamos adequado para não infringir a régua da agilidade que eu te falei.

-Como vocês analisam a crise atual?
Paulo Val: Hoje saímos da primeira fase e estamos caminhando para uma segunda. A primeira foi o auge do efeito do isolamento social e, em geral, estamos saindo da primeira parte do isolamento e da influência disso na parte econômica porque, na maioria dos lugares, o pico do impacto econômico já acontece e você começa a ver uma melhora na atividade.

Os dados econômicos mostram isso. Alguns dados setoriais mostram, em geral, uma melhora em abril e maio, mas continuam muito abaixo do início do ano. Há uma melhora, mas ainda sim há um impacto gigantesco. Estamos com previsão de queda de 5,6% para o PIB, em um ambiente de grande instabilidade.

Se tivermos uma segunda onda, se não tivermos convicção de onde ir, o cenário segue muito incerto. A incerteza é menor que abril e março, mas continua muito instável.

-Além da pandemia, vemos ruídos vindos de Brasília, principalmente com o choque entre os Poderes. Como você vê isso?
Paulo Val: Você tem a necessidade de passar a agenda de atenuação de efeitos da pandemia, então tudo que está sendo feito na parte de economia é para atenuar os efeitos da crise. Passado esses efeitos, precisamos discutir rápido as reformas e, para isso, você precisa de um alinhamento forte entre executivo e legislativo, principalmente.

Não ha necessidade de alinhamento ideológico, mas sim um alinhamento de agenda. Há um bloco que se posiciona a favor de passar reformas, inclusive maiores do que a pré-pandemia.

Há também o centrão que está se aproximando do governo e se você conseguir juntar as forças, independente de qualquer ruído, gera um ambiente pouco melhor para confiança, que se você consegue juntar as duas correntes, há uma grande chance de dar certo.

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No ano passado, mesmo com ruídos, passamos uma reforma da Previdência muito robusta. Acho que esses pontos são essenciais para fazer uma ambiente mais positivo à economia.

-A atual recuperação da Bolsa veio pra ficar? É baseada em que?
Paulo Val: Tem uma questão que não pode ser ignorada, que é a magnitude dos estímulos que estão sendo dados. Isso tem um impacto de risco muito grande. Você teve uma fuga para ativos fora de risco e depois esse investimento voltou uma parte relevante, mesmo ainda longe do pico. Esse movimento busca ativos mais arriscados e acaba levando as pessoas a procurem a Bolsa.

O segundo ponto de análise é começar no pior momento de inflexibilidade. Apesar de a incerteza começar alta, o leque de possibilidades, no momento, um pouco maior e isso estimula. Então juntando os dois lados dessa equação, o estímulo à Bolsa é alto.

-O temor de uma nova onda de contágio vem pautando o mercado. Qual impacto isso teria?
Paulo Val: Depende da força que ela vier. Caso aconteça, você começa a ter revisões [do isolamento] em alguma regiões e você ajusta. Enquanto for essa estratégia, é uma cenário “benigno”. Em alguns lugares você consegue absorver e reavaliar a estratégia.

Caso haja uma segunda onda muito dramática, você terá um impacto maior na economia. Você já teve um aumento de alavancagem aumentando, desde o governo com a dívida subindo bastante, se estabilizando perto de 100% do PIB, mas também as empresas se endividaram mais para honrar compromissos, além das famílias.

-A Selic a 2,25% ao ano. Qual papel de fundos multimercados atualmente na carteira do investidor?
Isabel Ramos: O nosso papel é sempre obter os melhores retornos de acordo com o risco de cada fundo. Nosso objetivo é sempre maximizar essa equação, maiores retornos adequados a aquele risco.

Por isso temos três graduação de risco no mercado. Um fundo com vol mais baixa e liquidez menor, um intermediário com vol 4 e D15, e vol maior com D30. Então, dependendo do perfil do cliente, o ideal é escolher um fundo adequado a tolerância a volatilidade.

O que não pode é um cliente olhar um retorno passado de algum fundo e investir e, em um período de maior volatilidade, ele resgata. Isso é muito frustrante para todos.

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Você tem ao longo do período, idas e vindas, mas ao longo prazo vale muito a pena. Então eu acho que o cliente tem que saber onde ele está, tem que saber a característica de onde ele tem, até para que os ambiente de juros mais baixos, todo mundo entenda o cenário de investimento, você consegue tolerar mais risco.

Com os juros mais baixos, as pessoas analisam que o ano difícil das empresas será em um ano, mas dois, três anos, as boas empresas sobreviverão. Um gestor full time pensando nisso, fazendo conta, se debruçando com setores que se beneficiam, isso tudo tem desdobramentos.

No Brasil, as pessoas físicas não saíram tanto na confusão, com o CDI a 2,25%, com chance de ir para menos, avaliaram que era tudo bem porque daqui há dois anos posso pagar um pouco mais de risco da carteira.

Então, nossos fundos entram para diversificar um pouco mais a carteira. Se você não toma risco, você não vai conseguir ter independência financeira. Agora, tem que ser um risco consciente, responsável, na Occam temos muito internalizado a questão da gestão de risco.

Paulo: A vantagem de um multimercado é justamente vista no que aconteceu em março. A capacidade de o fundo se adequar a cada ponto do tempo a melhor carteira de ativos que está existindo ali. No período, mudamos a visão e passamos a ter uma alocação na parte macro em relação a parte de ações e isso ajudou. Agora, por exemplo, estamos mudando novamente, mas vai ser um pouco abaixo então de novo o capítulo dos juros começa a não ficar tão bom e outros ativos começam a ficar interessantes.

No multimercado, a pessoa não precisa ficar mudando, o fundo faz isso por ela, seja Bolsa, juros, etc.

-Há algum setor que te chama mais atenção? Ou algum ativo específico? Como estão as posições?
Isabel Ramos: Paulatinamente, agora, começamos a tomar mais risco. Ao longo de maio, começamos a aumentar a posição em renda variável. Setor de tecnologia nós sempre nos dedicamos e, de fato, com a pandemia o setor acelerou exponencialmente.

Então alguns hábitos de consumo mudaram, e-commerce ficou presencial, e, em seis meses acelerou. Então é um setor que gostávamos e passamos a gostar ainda mais.

Gostamos de Microsoft, Apple, Visa e Mastercard. Dentro do Brasil, Magalu, que não é de varejo, e sim uma empresa de tecnologia. Lá atrás, o pessoal não entendeu isso, falaram muito de valuation, mas o valuation de empresa tech é outro.

Também gostamos de B3, que também é uma empresa de tecnologia. E agora, tem valuation super atrativo e o nível de negociação e volume estão muito altos.

A preocupação era a questão do competidor, mas o temor de que o competidor chegaria a qualquer momento foi afastado por um momento dado que o capital para risco está mais difícil. XP também gostamos. Está indo super bem, superando estimativas.

Concessões temos riscos regulatórios. Exportadoras temos Vale. Petrobras tínhamos muitos, diminuímos e voltamos agora ,e JBS sendo beneficiado por câmbio, mas junto com Vale, ela consegue ter custos muito interessantes.

Na parte doméstica, estamos mais cautelosos, mas temos um pouco de Renner. Notre Dame uma questão secular, onde as pessoas procuram para sair do SUS e, mesmo com a alta do desemprego, esse desejo irá continuar a existir.

Entrevista com Occam

Vinicius Pereira

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