Ideal capta R$ 100 milhões e foca agora no varejo da Bolsa

Com apenas um ano e meio de vida, a Ideal já se tornou a quarta maior corretora do Brasil. Forte no segmento institucional e operando contratos futuros na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), a companhia anunciou nesta segunda-feira (21) que captou R$ 100 milhões da Kaszek Ventures para ir ao varejo.

Para Nilson Monteiro, CEO da Ideal, apesar da concorrência, ainda há espaço para o crescimento do negócio no varejo, dado que o número de entrantes na Bolsa deverá continuar alto pelos próximos anos.

“Hoje fazemos cerca de 17% de futuros, então somos a maior corretora de futuros no mercado e fazemos por volta de 7% do volume de Bolsa, sendo a quarta maior. Tem muito espaço para capturar market share e clientes e a entrada da rodada é para partirmos para outros clientes e outros produtos”, disse.

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De acordo com Monteiro, a Ideal não irá, no entanto, concorrer com as plataformas pelo modelo tradicional.

“Não vamos concorrer com as plataformas tradicionais, a gente não acredita que seria necessário mais uma corretora com modelo plataforma, gerente ou agente autônomo. A gente prefere mais como uma empresa de tecnologia, em um modelo B2B2C, então vamos servir empresas tecnológicas para elas, sim, acessar os clientes através do nosso chassi tecnológico”, afirmou.

Segundo Lucas Cury, COO da Ideal, a pandemia causada pelo novo coronavírus (covid-19) e as implicações que trouxe para o mercado de capitais, como circuit breakers seguidos, demonstrou que a Ideal estava pronta tecnologicamente para ampliar o modelo de atuação.

“A pandemia foi um ótimo desafio pois não teria outra forma de provar que a plataforma é robusta. Então damos muita ênfase na robustez tecnológica, mas também temos que levar em conta que a gestão está muito redonda também. Queremos um projeto baseado em princípios corretos e que seja sustentável no longo prazo”, completou.

Confira a entrevista do SUNO Notícias com a Nilson Monteiro, CEO, e Lucas Cury, COO da Ideal:

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-Qual o objetivo da rodada levantada?
Nilson Monteiro: hoje divulgamos uma rodada Series A de um investimento minoritário de R$ 100 milhões feita pela Kaszek Ventures na Ideal. Somos uma fintech regulada, por assim dizer. Somos uma corretora de valores do ponto de vista da regulação, mas do ponto de vista estratégico, somos uma empresa de tecnologia que presta serviços financeiros de acesso ao mercado de capitais.

Começamos entre fevereiro e março de 2019 em um foco direcionado para clientes institucionais. No primeiro ano de vida, atendemos clientes que usam a tecnologia ara atender o mercado de capitais, expandimos a nossa oferta na virada do ano passado para institucionais locais, com apetite por tecnologia e também analógicos que queriam fazer a transição para do business de voz, manual, para algo mais tecnológico.

A pandemia fortaleceu ainda mais a nossa oferta e, agora, com a rodada devemos acelerar a nossa oferta para clientes institucionais, mas também para entrarmos nos dois pés no varejo.

Não vamos concorrer com as plataformas tradicionais, a gente não acredita que seria necessário mais uma corretora com modelo plataforma, gerente ou agente autônomo. A gente prefere mais como uma empresa de tecnologia, em um modelo B2B2C, então vamos servir empresas tecnológicas para elas, sim, acessar os clientes através do nosso chassi tecnológico.

Com esse impulso financeiro, além da Kaszek Ventures, que é um AAA de investimento, termos eles como um sócio investidor nos dá uma musculatura maior, visão de longo prazo e alinhamento de clientes.

Lucas Cury: a empresa foi muito lucrativa desde o começo. Ao contrário do que se observada no mercado de corretoras, já nascemos dando lucro de largada e naturalmente isso atraiu uma atenção boa no nosso modelo. Então tomamos a decisão para captação em uma posição de muito conforto. Não foi para tirar a corda do pescoço, mas sim, para nos posicionarmos com parceiros corretos.

-Como vocês conseguiram números tão grandes nessa velocidade?
Nilson Monteiro:  não é um segredo único. Por mais que tenhamos apenas um ano e meio de vida, é uma partnership, são 17 sócios, então o time de liderança se conhece há muito tempo. Nós trabalhamos juntos entre 2000 e 2010 na Link Investimentos, que era líder no volume e tecnológica para a época.

Já se usava automação e alguns robôs então a tecnologia da Ideal não é só o desenvolvimento de robôs, que é a ponta final. Somos um time que trabalhamos bastante tempo juntos, um time líder do início da automação do mercado a partir de 2007, então somos uma startup de cabelo branco, com a média de idade por volta de 35 anos de idade.

Acho que é esse primeiro sucesso. É uma empresa de tecnologia, mas as pessoas são o principal ativo da companhia. 70% do time é de TI pois acreditamos muito na importância. Além disso, não transacionamos ativos proprietários, não temos carteira própria e nenhum tipo de conflito potencial com o que nossos clientes fazem, como o que uma tesouraria poderia fazer.

Não existe nada errado em uma corretora de banco ou internacionais que tem um apetite por tesouraria, mas para a gente é uma distração e potencialmente pode gerar um conflito de interesse que nós não queremos. Todo nosso foco é para prestar um serviço de qualidade para nossos clientes.

O último ponto é que a Ideal é 100% eletrônica. Não temos nenhum tipo de oferta por telefone ou interação entre pessoas, como brokers e clientes. Todo fluxo que entra é sistêmico e eletrônico, zerando riscos operacionais e conflitos, com pessoas manuseando ordens que, de uma maneira errada, poderia causar uma operação não perfeita.

Então é uma soma de fatores. E nossa operação é de longo prazo, com um projeto de longo prazo.

Lucas Cury: esse aporte está pendente de aprovação do Banco Central. A operação é complexa, envolveu uma negociação longa e, de novo, somos regulados e por isso precisamos da aprovação do BC.

-Essa operação de longo prazo não é contrastante com o volume, dado que o volume é de operações diárias?
Nilson Monteiro: gostamos de ser otimistas. Hoje fazemos cerca de 17% de futuros, então somos a maior corretora de futuros no mercado e fazemos por volta de 7% do volume de Bolsa, sendo a quarta maior. Tem muito espaço para capturar market share e clientes e a entrada da rodada é para partirmos para outros clientes e outros produtos.

Lucas Cury: eu não gosto da palavra nicho, mas de fato atuamos clientes muito sofisticados e o mercado é mais que isso. Quando brincamos que no mercado há muito mato alto, entendemos que há muito o que melhorar no mercado.

Sobre o aparente contrate entre longos volumes e longo prazo, somos relativamente indiferente sobre o que o cliente faz. Então quando o Nilson fala que pensamos em longo prazo, é que a plataforma ideal que foi montada é que a estrutura montada é para suportar grandes operações e sair ilesa.

A pandemia foi um ótimo desafio pois não teria outra forma de provar que a plataforma é robusta. Então damos muita ênfase na robustez tecnológica, mas também temos que levar em conta que a gestão está muito redonda também. Queremos um projeto baseado em princípios corretos e que seja sustentável no longo prazo.

-Há alguns outros players que atuam de maneira automatizada, mas não alcançaram o resultado da Ideal. Qual o diferencial de vocês?
Nilson Monteiro: a gente gosta de nos posicionarmos com um chapéu didático. A gente se posiciona como uma empresa didática para de fato alinharmos o conhecimento em favor do cliente. O fato de tanto tempo trabalharmos em empresas de ponta, conseguimos entender as dores de fato que o cliente tem para fazer a transmissão de voz para a automatização.

As demais corretoras no mercado são híbridas. Elas fazem os dois. Nós não temos essa decisão para qual cliente nós vamos direcionar para qual, dependendo da margem. Sempre direcionamos para o eletrônico, trazendo a melhor maneira em preço e experiência para os clientes.

Muitas vezes desconsideramos as dificuldades que o fogo amigo cria para a maturidade de um negócio. Esse fogo amigo não temos na Ideal e entendemos que a nossa tese de evolução de mercado está correta e todo mundo olha para o mesmo tipo de negócio.

Além disso, há uma robustez para atendimento. Somos a primeira corretora a estar 100% em cloud. O cliente valoriza mito uma corretora com capacidade em dias como os insanos que vivemos com o lockdown global. São esses pequenos ajustes que conseguimos fazer que soma na experiência final do cliente.

-Vocês tiveram algum problema nos dias dos vários circuit breakers?
Nilson Monteiro:  zero. Nós fazemos cerca de 2,5 milhões de negócios por dia e tivemos dia de 18 milhões de negócios com zero problema operacional.

Lucas Cury: a melhor resposta que alguém poderia dar é essa. Foi realmente impecável. Não teve atraso, todo mundo trabalhando de home office.

-Sabemos que o varejo tem vários players no Brasil. A concorrência é muito acirrada e por que mirar esse mercado?
Nilson Monteiro: existe um conceito errado. O mercado institucional é muito mais competitivo do  que o mercado de varejo. Talvez sejam 80 corretoras, com cerca de 30 grandes instituições financeiras, as maiores do mundo, então competimos com eles.

O mercado também tem um hábito mais difícil de ser quebrado. O desafio é mostrar para o gestor local o porque o atendimento por voz é pior do que o eletrônico, por exemplo. Mas, aos poucos, estamos quebrando essas barreiras.

Já no varejo, três participantes dominam cerca de 80% do market share, com uma camada grande de entrantes, onde alguns já dizem que até 2025 até 10 milhões de pessoas no Brasil podem operar na Bolsa. E, de fato, existem novos entrantes, empresas com bastante capacidade, mas acreditamos que a melhor coisa que pode ocorrer é a concorrência.

Achamos que a concorrência vai trazer uma experiência melhor para o cliente final. Então temos um potencial gigantesco, com um mercado exuberante no momento, com resultado de uma política macro, mas essa exuberância tende a durar um pouco mais do que as pessoas esperariam e quando isso deixar de existir, as empresas mais bem montadas terão um benefício de escala.

Com o passar do tempo, algumas ofertas serão melhores que outras e isso será muito bom para o cliente final.

-No varejo, o processo será o mesmo?
Nilson Monteiro: acreditamos que nossa tese de tecnologia se provou de bastante sucesso e queremos levar nossa mesma proposta para o mercado de varejo. E vamos oferecer tecnologia e acesso para outras empresas para elas interagirem com os clientes em um modelo B2B2C.

Nossa tese do mercado de varejo é a mesma forma. De uma maneira prática, não temos nenhum interesse de mudarmos tecnologia ou tese.

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Vinicius Pereira

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