Ibovespa patina novamente em meio ao caos político e expectativa frustrada do investidor
O Ibovespa voltou a tropeçar nesta terça-feira, em um pregão que deixou claro — de novo — o quanto o mercado brasileiro segue refém das turbulências políticas. Depois de uma recuperação tímida no dia anterior, quando devolveu apenas 0,52% após a queda de 4,31% na sexta-feira, o índice passou boa parte da tarde em alta, mas perdeu completamente o ritmo após um novo impasse na Câmara dos Deputados. No fim do dia, fechou em queda de 0,13%, aos 157.981 pontos.
A reviravolta veio quando a sessão da Câmara foi suspensa por causa do protesto do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que ocupou a cadeira da presidência em desafio ao Conselho de Ética. O episódio, que envolveu Polícia Legislativa e interrupção da TV Câmara, bastou para desmontar a tentativa de reação da Bolsa. Até ali, o Ibovespa ensaiava avanço apoiado na perspectiva de votação acelerada do PL da Dosimetria.
Risco político volta a assumir o protagonismo
A volatilidade crescente tem nome e data: desde sexta-feira, o anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro reacendeu o risco político e quebrou o consenso do mercado, que vinha apostando quase exclusivamente na força de Tarcísio de Freitas. Para gestores, a entrada do senador fluminense adiciona incertezas, não apenas eleitorais, mas fiscais e econômicas. Por isso, a possível aprovação do PL da Dosimetria — que poderia influenciar a decisão de Flávio sobre seguir ou não na disputa — virou um vetor de curto prazo para a Bolsa.
As declarações do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, indicando que o projeto pode avançar rapidamente, chegaram a animar investidores. Mas o alívio durou pouco diante do bloqueio da sessão na Câmara. O pregão, que já era sensível, virou refém instantâneo do episódio.
Juros no radar, mas sem força para contrabalançar Brasília
O mercado também opera na véspera de duas decisões relevantes de política monetária: o Federal Reserve e o Copom se reúnem nesta quarta-feira. Ainda assim, o pano de fundo fiscal — que projeta dívida bruta próxima de 80% do PIB até 2027 — impede expectativas mais otimistas sobre cortes na Selic. Para investidores, fica cada vez mais claro que a trajetória dos juros dependerá menos da atuação técnica do Banco Central e mais da capacidade (ou incapacidade) do governo de reduzir incertezas.
Com volume financeiro de R$ 25 bilhões, mais moderado após dois pregões fortes, o Ibovespa oscilou entre mínimas de 155.187 pontos e máximas de 158.851. No acumulado de 2024, o índice ainda sobe 31,34%, mas dezembro, até agora, aponta leve queda de 0,69%.
Destaques corporativos: resiliências e quedas
Apesar do recuo do petróleo lá fora, Petrobras ON e PN avançaram 0,63%. Vale ON perdeu força no ajuste e encerrou praticamente estável (+0,06%). No setor financeiro, Santander Unit liderou as baixas (-2,13%). Entre as maiores altas do dia, apareceram Pão de Açúcar (+3,91%), Usiminas (+3,68%) e CSN (+3,31%). Na ponta negativa, destaque para Magazine Luiza (-4,93%), Vamos (-3,33%) e Cyrela (-2,56%).
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- Maiores Baixas
Com Estadão Conteúdo