Ícone do site Suno Notícias

Efeito dominó: Ibovespa leva 18 ações a máximas e espalha otimismo pela Bolsa

Ibovespa

Ibovespa

Nos últimos dias, a Bolsa brasileira vem colecionando cenas raras até para os mais experientes. O Ibovespa, que já vinha quebrando recordes sucessivos, viu o rali ganhar novas proporções nesta terça-feira (11), quando 18 ações do índice também atingiram seus próprios picos de cotação. O que antes parecia um movimento pontual virou um fenômeno coletivo: de petroquímicas a varejistas, o mercado vestiu a mesma cor — verde.

O pregão foi marcado por um entusiasmo que misturou bons resultados corporativos, alívio nas projeções de inflação e um pano de fundo global mais favorável ao risco. Analistas apontam que o otimismo foi além dos grandes nomes do índice, alcançando companhias que vinham de meses difíceis na Bolsa. “Temos dois fatores que fazem com que a nossa bolsa opere em campo bastante positivo hoje”, explica Thiago Calestine, economista e sócio da Dom Investimentos. “O primeiro é o número que saiu da inflação, o IPCA, que veio abaixo do esperado e muito próximo de zero, 0,09%, o que causou um alívio bastante interessante no mercado de juros e impulsionou os ativos de risco para cima. O segundo é que essa alta faz parte de um movimento global de rebalanceamento dos ativos, em que investidores estão colocando no bolso os lucros das big techs e redistribuindo esse capital entre mercados emergentes que ainda ficaram para trás.”

Calestine acrescenta que o dólar também acompanhou o movimento, recuando em linha com a tendência global e reforçando a leitura de que o Banco Central pode começar a aliviar o tom nos próximos comunicados. “O mercado sinaliza, principalmente quando olhamos as taxas mais longas de juros, um horizonte um pouco mais claro para o BC começar a ser mais leniente com as condições atuais. A gente só não conseguiu cortar juros antes porque o quadro fiscal segue negativo”, afirmou.

Empresas que lideraram o movimento

A euforia se traduziu em números robustos. A BRKM5 (Braskem) disparou +18,04%, negociada a R$ 7,72, impulsionada pelo acordo bilionário com o Estado de Alagoas, que reduziu riscos judiciais para a petroquímica. A CVCB3 (CVC Brasil) avançou +11,48%, beneficiada pela combinação de câmbio estável e expectativas mais positivas para o setor de turismo. Já a CSAN3 (Cosan) subiu +8,27%, acompanhando a melhora nas perspectivas para commodities e infraestrutura.

O otimismo também alcançou MBRF3 (Marfrig, +8,15%) e MGLU3 (Magazine Luiza, +7,96%), ambas sensíveis à queda dos juros futuros. No varejo e consumo, CEAB3 (C&A, +7,37%), ASAI3 (Assaí, +5,47%) e VAMO3 (Vamos, +5,90%) acompanharam o embalo. Entre as construtoras, MRVE3 (MRV) e CYRE3 (Cyrela) registraram altas acima de 5%, impulsionadas pela expectativa de crédito mais acessível, enquanto VIVT3 (Vivo) também ganhou tração, subindo +3,83%.

Para Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, o comportamento do mercado foi amplo e consistente. “A bolsa reagiu bem ao IPCA mais fraco, sinalizando um cenário positivo para queda da Selic mais à frente. As empresas mais pressionadas recentemente, como Braskem, CVC e Cosan, se beneficiam do juro em queda e da melhora no humor global”, disse o analista.

O que isso revela para o investidor

A onda de altas simultâneas mostra que o avanço do índice não está restrito às gigantes, mas vem de um movimento de base mais larga, alimentado pela melhora da confiança. Para Calestine, o rali atual é resultado direto da combinação entre inflação mais baixa e realocação de capital internacional. “Os investidores começaram a ponderar se as grandes empresas de tecnologia nos Estados Unidos vão conseguir entregar os resultados esperados. Então, temos uma rotação de saída de big techs, com investidores colocando lucro no bolso e espalhando esse capital em outras oportunidades, especialmente em países emergentes”, observou.

O pano de fundo internacional também ajudou a sustentar o clima positivo. Segundo Shahini, o avanço das bolsas europeias e americanas, com as Treasuries em queda e o petróleo em alta, reforçou o apetite global por risco. “Com a votação nos Estados Unidos pelo fim do shutdown e um cenário de inflação mais controlado, o investidor global volta a olhar para emergentes com mais apetite”, afirmou.

Para o investidor local, o alerta é de equilíbrio. O avanço em bloco pode indicar oportunidade, mas também pede cautela — nem todos os papéis conseguem manter o ritmo no longo prazo. O desafio agora é identificar quais empresas sobem com fundamento e quais apenas pegam carona na maré do Ibovespa.

Sair da versão mobile