Nessa semana, o Ibovespa sofreu sua pior performance semanal desde dezembro de 2022, caindo 3,59%. Esse resultado negativo foi impulsionado por uma combinação de fatores domésticos e externos que pressionaram o mercado financeiro brasileiro.
Um dos principais motivos para a queda foi o resultado do IPCA de junho, que veio acima das expectativas e da meta estabelecida pelo Banco Central. Esse aumento reacendeu as preocupações sobre a inflação persistente, dificultando as expectativas de continuidade do ciclo de cortes na taxa Selic ainda em 2025. A surpresa inflacionária fez com que os juros futuros subissem, prejudicando setores altamente sensíveis ao crédito, como varejo, construção civil e consumo.
Externamente, a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA agravou ainda mais o cenário. Segundo Danilo Coelho, economista especialista em investimentos, a medida traz um impacto cambial significativo, com o dólar devendo continuar volátil e pressionado. Além disso, a forma agressiva e com críticas à segurança jurídica brasileira na comunicação da medida gerou incertezas que podem afastar investidores estrangeiros.
Essas tarifas, conforme avaliação da XP, podem reduzir o PIB do Brasil em 0,3 ponto percentual em 2025 e 0,5 ponto em 2026, reforçando o peso da medida no desempenho da economia. No entanto, a Fiesp ressaltou que, apesar do impacto negativo, a soberania nacional é inegociável.
No mercado, essa combinação de fatores provocou fuga de capital, dólar acima de R$ 5,50 e aversão ao risco nos mercados emergentes. Papéis de empresas com grande exposição ao mercado americano, como Embraer e Minerva, foram diretamente afetados. Por outro lado, ações de setores ligados a commodities, como Vale e Petrobras, ajudaram a limitar as perdas graças à valorização do petróleo e do minério de ferro no mercado internacional.
Em meio a essa volatilidade, especialistas recomendam cautela. Jeff Patzlaff, planejador financeiro, sugere privilegiar ativos pós-fixados, como Selic e CDBs atrelados ao CDI, além do Tesouro IPCA+ para proteção contra a inflação, evitando pré-fixados diante da incerteza.
O que esperar do Ibovespa no segundo semestre?
Apesar da turbulência, as principais corretoras mantêm uma visão relativamente positiva, mas com maior seletividade e prudência.
- A XP projeta o Ibovespa em 145 mil pontos até o fim do ano, considerando o impacto das tarifas como temporário e apostando na reação do mercado caso o governo consiga controlar o ruído institucional e avançar nas reformas.
- A Genial espera o índice em 140 mil pontos, embora destaque que o cenário mais desafiador pede cautela, principalmente devido ao risco fiscal, câmbio pressionado e tensão com os EUA.
- A EQI acredita que o Ibovespa deve ficar entre 140 mil e 145 mil pontos, com setores ligados a commodities continuando a liderar, enquanto ativos domésticos exigem mais cuidado.
- O Itaú BBA, por sua vez, revisou sua projeção para cima, elevando o preço-alvo do Ibovespa de 145 mil para 155 mil pontos para o final de 2025. A casa destaca que, mesmo diante dos desafios, o valuation atrativo, os fundamentos sólidos das empresas e uma possível flexibilização monetária sustentam a perspectiva de alta. O BBA ressalta ainda que setores como infraestrutura, saneamento, financeiro, construção, transporte, além de exportadoras e empresas de commodities, devem ser os principais motores do índice.
Com inflação ainda pressionada, juros longos elevados, dólar volátil e tensão política externa, o Ibovespa passa por uma fase de correção forte. Mas se houver avanço nas negociações com os EUA e sinalizações de retomada da estabilidade institucional, o segundo semestre ainda pode trazer recuperação — mesmo que com mais cautela do que se esperava no início do ano.