2025 vem sendo um ano muito positivo para o Ibovespa: neste ano, o índice acumula avanço na casa dos 18%. Diante disso, será que a Bolsa brasileira ainda está barata ou a alta já ficou para trás? Na visão de grandes gestoras, ainda há potencial de valorização no médio prazo, a partir de fundamentos sólidos e um cenário macroeconômico que, embora desafiador, começa a abrir espaço para cortes de juros.
Segundo Isabel Lemos, gestora de renda variável da Fator, o desempenho do Ibovespa até aqui pode estar explicado, em partes, pelo ambiente econômico externo.
“A continuidade dos cortes de juros pelo Federal Reserve, aliada às políticas econômicas norte-americanas, como o aumento de impostos sobre importações, vem contribuindo para um dólar mais fraco e para uma maior busca por ativos reais”, afirma.
Já no cenário doméstico, Lemos observa que os juros ainda em patamares elevados limitam a migração de recursos da renda fixa para a renda variável.
Mesmo assim, ela acredita que a combinação entre um ambiente global mais positivo e a perspectiva de queda de juros no Brasil pode gerar fôlego adicional para as empresas, tanto do ponto de vista de resultados quanto de reavaliação de múltiplos.
“Um contexto mais favorável tende a atrair fluxo para mercados emergentes, tornando o Ibovespa especialmente atrativo pela possibilidade de reprecificação de seus ativos”, destaca a gestora.
Olho nos juros
O comportamento da taxa Selic, portanto, parece ser o fator mais decisivo para uma alta sustentada do Ibov daqui em diante.
“O atual patamar de juros reais mantém o investidor de renda fixa em uma posição confortável, reduzindo o incentivo para mudanças significativas de curto prazo em direção à renda variável. Enquanto os juros permanecerem elevados, o custo de capital das empresas continuará pressionado, o que limita investimentos e reduz o potencial de crescimento de lucros”, explica.
A AZ Quest compartilha leitura semelhante. Em sua carta mensal de setembro, a gestora reforça que a redução dos juros reais é o principal gatilho para uma nova rodada de valorização da Bolsa brasileira, ao lado da estabilidade fiscal.
“A relação risco-retorno segue favorável, especialmente em um cenário de inflação controlada e juros reais mais baixos”, afirma a gestora em seu relatório.
O documento também observa que existem setores negociando com desconto em relação aos fundamentos, principalmente em bancos, energia e utilities.
“Mesmo após a recente valorização, seguimos vendo oportunidades em companhias de qualidade, com geração de caixa sólida e bom posicionamento competitivo”, diz a AZ Quest.
Estratégias e setores preferidos
Na Fator, o posicionamento segue construtivo. Lemos conta que a gestora mantém baixa exposição em caixa e prioriza companhias com resultados previsíveis e consistência na geração de valor, com destaque para utilities e concessionárias, segmentos conhecidos pela resiliência em cenários de juros altos.
“Identificamos diversos ativos negociados com desconto relevante frente ao seu potencial de crescimento, sustentado tanto pela expectativa de expansão dos lucros quanto pela possibilidade de redução gradual dos juros”, afirma.
Além disso, a gestora mantém exposição relevante em bancos e no setor alimentar, que, segundo a gestora, combinam liquidez, solidez e pagamento consistente de dividendos.
Nos fundos cuja política permite investimento em BDRs, a alocação internacional atual é de aproximadamente 5% do portfólio, como forma de diversificação geográfica e cambial.
Já a AZ Quest destaca uma postura equilibrada, com portfólios “balanceados entre nomes defensivos e cíclicos domésticos”. A gestora também sinaliza que, caso a curva de juros continue cedendo, há espaço para aumentar a exposição a empresas mais sensíveis à atividade econômica.
“Continuamos com visão positiva para o mercado acionário brasileiro, sustentada pela melhora gradual dos fundamentos e pela possibilidade de entrada de fluxo estrangeiro em busca de ativos subavaliados”, conclui a AZ Quest em sua carta.
Fator e AZ Quest, portanto, mantêm uma uma visão construtiva para o índice Bovespa, embora reconheçam que parte do otimismo já esteja embutido nos preços.
A convergência dos juros para níveis mais baixos, a estabilidade fiscal e o ambiente global mais previsível são apontados como gatilhos essenciais para um novo ciclo de valorização do Ibovespa, enquanto riscos de curto prazo no câmbio e na política doméstica seguem sendo monitorados.
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