Dólar dispara 4%, maior alta diária em dois anos; entenda os motivos

Após semanas de uma trajetória de baixa no câmbio, com direito a corte nas projeções para o final do ano e recomendações de compra, o mercado aproveitou seu momento com a moeda em seu menor nível em dois anos. Com os mercados fechados na última quinta-feira (21) pelo feriado de Tiradentes, o dólar sentiu um impacto de grande peso com o movimento do cenário internacional de ontem. Nesta sexta-feira (22), a moeda norte-americana fechou em forte alta de 4%, cotada R$ 4,8051, depois de oscilar entre 4,6724 e R$ 4,8390. Foi a maior valorização em um dia desde março de 2020.

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Os investidores ainda estão digerindo a fala do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, que disse ver como apropriado que o Fed aja em ritmo “um pouco mais rápido” e reiterou que um aumento de juros de 50 pontos-base será uma opção na reunião de política monetária do BC dos Estados Unidos em maio.

Powell disse que tinha a expectativa de que a inflação atingiria o pico mais ou menos no momento atual, o que acabou não se concretizando, em meio aos efeitos da guerra na Ucrânia.

O Banco Central chegou a vender US$ 571 milhões, com taca de corte em R$ 4,7975, quando a divisa americana foi a R$ 4,8390 — mas não conteve a disparada.

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Outro ponto que marcou a alta intensa do dólar nesta sexta é a divulgação dos dados macroeconômicos na Europa e nos Estados Unidos. O índice de gerente de compras (PMIs) Composto da zona do euro subiu para 55,8% em abril, o maior nível em sete meses. No entanto, os PMIs compostos da Alemanha e do Reino Unido recuaram para os seus menores níveis nos últimos três meses.

O PMI composto dos Estados Unidos caiu de 57,7 em março para 55,1 em abril, atingindo o menor patamar em três meses, segundo dados preliminares divulgados nesta sexta-feira pela S&P Global.

Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, afirma que a alta intensa do dólar de hoje é resultado, principalmente, dos fatores externos. Ele ressalta que o Banco Central já agiu hoje, com a venda de US$ 571 milhões no mercado à vista de câmbio, sendo a primeira operação do tipo neste ano, após a disparada de 4,8%. Às 16h49, próximo do fechamento do câmbio, o dólar ganha 3,64%, a R$ 4,7908.

“A gente pode ver essa alta generalizada e muito forte desde o início do dia. A alta veio num movimento de força do dólar frente às demais moedas globais, principalmente às moedas emergentes, logo depois do discurso do Powell, presidente do Fed, falando sobre como a inflação dos EUA está muito acima do que eles esperavam”, afirmou Felipe.

O sócio da Nexgen Capital ressalta que pela posição muito mais hawkish de Powell, é provável que o Fed está prevendo uma alta considerável da taxa básica de juros dos EUA. “Sinalizaram ali que vem provavelmente uma alta mais forte, mais alta do que eles e o próprio mercado esperavam, ou seja, com a posição ainda mais hawkish e isso trouxe uma força a mais pro dólar, e aversão a risco mundo a fora”, disse.

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Cenário doméstico alimenta alta do dólar

Em campo nacional, o dólar é afetado por risco político. Deputados se articularam para encontrar uma forma de atestar nulidade no decreto do presidente Jair Bolsonaro (PL) que deu indulto ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado à prisão pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Já nesta sexta (22) a Rede e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) entraram com ações.

Outro caso no dia foi a fala de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil, em Washington. Durante um evento realizado pelo Bank of America (BofA), Campos Neto adotou um tom considerado mais “dovish”, compatível com a ideia de que o ciclo de aperto monetário está perto do fim.

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Campos Neto reforçou no encontro com investidores o plano de elevar a Selic em 1 ponto percentual em maio, a 12,75%, e teria passado uma mensagem de maior tranquilidade com a inflação. Já com o Fed mantendo a postura “hawkish” com a próxima alta de juros, ressaltou-se o foco no diferencial de juros, menos favorável ao Brasil, o que consequentemente dispara o dólar.

Sobre cenário interno, o embate entre o presidente Bolsonaro e o STF cria uma crise institucional entre os poderes. “Isso é um fator que traz desconfiança no mercado interno, mas essa força do dólar hoje vem principalmente pelos fatores externos”, finalizou Felipe Izac.

(Com informações do Estadão Conteúdo)

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Victória Anhesini

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