Ícone do site Suno Notícias
Tatiana Sadala
Tatiana Sadala

O Enigma do CEO que ganhou Comitês de empresas em diversos segmentos

Era um diálogo entre pai e filho, ambos no carro, o filho dirigindo a caminho de uma entrevista de emprego e seu pai sentado ao lado. Chegam no estacionamento da empresa. O telefone do filho toca.

Pai diz: “Atende, filho”.

A ligação é da pessoa que tem o cargo mais alto, CEO, da empresa que o filho faria a entrevista. O filho atende.

A pessoa diz: “Boa sorte, filho, você consegue!”

O filho desliga e olha para o pai que continua no carro, ao seu lado.

Se o pai estava ao seu lado, quem poderia ser essa pessoa ao telefone?

Quase ninguém acerta a resposta, tão óbvia e tão difícil. O vídeo do enigma, produzido pela Mindspace e publicado pelo Todas Group no Brasil, está rodando comitês de grandes organizações. Mostra, de uma forma prática, como nossa mente funciona com vieses inconscientes de gênero.

Diversas possibilidades são questionadas sobre quem seria essa pessoa ao telefone, seria o avô do garoto, um padrasto ou seria uma gravação, ou o garoto teria dois pais, entre outras respostas ainda mais criativas. O que não se deram conta, no entanto, foi da resposta mais lógica e simples: a pessoa CEO seria sua mãe.

“Eu sempre achei que não fosse sexista. Acabei de perceber que sim, tenho viés inconsciente de gênero, e na verdade esse viés está na cabeça de todos nós”, diz um alto executivo.

Ainda hoje nosso cérebro não processa uma mulher em posição de CEO

Apenas 14,7% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres, segundo levantamento realizado pela brasileira Teva Índices, que pesquisa diversidade de gênero em quase 400 empresas. Essa não é uma realidade apenas local, nos EUA, apenas 7.6% das Fortune 500 (maiores empresas do mundo) são lideradas por mulheres, são 38 presidentes mulheres na lista, mesmo com um avanço de 58% quando comparado a 2018.

No último artigo foquei no impacto da falta de referências (70% das mulheres dizem não ter referências de líderes mulheres em suas vidas) para o crescimento profissional feminino; neste vou aprofundar o viés inconsciente da percepção que também impacta o crescimento profissional das mulheres. Esse viés ocorre quando as pessoas acreditam e reforçam estereótipos sem base concreta de fatos.

90% das mulheres se consideram ambiciosas, segundo estudo realizado pelo Todas Group, porém a mulher tem receio de se posicionar de forma mais assertiva e ser interpretada como “agressiva” ou “mandona”. Não por acaso, 63 estudos levantados por Adam Grant, da Wharton School, e publicado digitalmente por Kim Farrell, Head do Tik Tok na América Latina, mostram que pessoas gostam menos de mulheres que expressam suas ideias, fazem pedidos diretos, defendam a si mesmas e se autopromovam. Segundo os estudos, essas têm menos chance de serem contratadas e essa percepção não mostra melhora no tempo.

Outro exemplo, foi a pesquisa conduzida pela Yale University, com dois candidatos formados em Ciências, uma mulher e um homem. Foram avaliados por mais de 100 professores. O resultado da avaliação da candidata foi pior nos quesitos de competências e oferta salarial em relação ao candidato homem, mesmo tendo exatamente a mesma bagagem técnica e experiências.

Para concluir, entendemos que existem vieses de percepção críticos que ainda atuam fortemente na sociedade. Empresas são reflexos da sociedade. Assim, em termos práticos, sendo um líder que gostaria de avançar na formação da liderança feminina na sua empresa e considerando que neste momento tem a compreensão de algumas barreiras adicionais enfrentadas pelas mulheres em seu crescimento profissional, seja a pessoa que aponta os vieses inconscientes quando presenciar esse tipo de discussão – seja em momento de mapeamento de talentos, pipeline e promoção, planejamento de business plans, decisões de negócios etc. Aponte. Não apontar por apontar, e sim para aprontar um futuro com maior equidade.

Sim, era a mãe, a CEO, todos souberam a resposta, 2025.

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Mais dos Colunistas
Carolina Cabral A importância vital da diversidade para gestão organizacional

A diversidade na gestão organizacional tem sido frequentemente reduzida a uma questão de estatísticas – quantas mulheres ou representantes de minorias étnicas es...

Tatiana Sadala Boas práticas que nascem em cenários adversos

Na luta pela igualdade de gêneros no mundo corporativo, estamos vivendo um retrocesso com a pandemia; mas grandes bancos, fintechs e até o mercado financeiro seguem in...

Sair da versão mobile