Patricia Nader

Cenário positivo: investimentos de impacto podem beneficiar o clima, empreendedores e investidores, especialmente no Brasil

Diante do desafio mundial em conter as mudanças climáticas, atribuir um custo à emissão de gases de efeito estufa (GEE) pode ser uma ferramenta poderosa para incentivar a transição para uma economia de baixo carbono. Uma das formas para alcançar isso é com a criação de mercados nos quais as empresas possuam metas de redução de emissões

Diante do desafio mundial em conter as mudanças climáticas, atribuir um custo à emissão de gases de efeito estufa (GEE) pode ser uma ferramenta poderosa para incentivar a transição para uma economia de baixo carbono. Uma das formas para alcançar isso é com a criação de mercados nos quais as empresas possuam metas de redução de emissões, sejam elas estabelecidas pelo governo ou por compromissos voluntários. No mercado regulado, as empresas compram “permissões para emitir carbono” e, caso suas emissões excedam, ainda podem comprar permissões adicionais de outras empresas. Já na esfera voluntária, compram offsets, ou seja, créditos provenientes de projetos que reduzem ou removem CO2 da atmosfera.

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Projetos de Soluções Baseadas na Natureza (“NbS”) têm o potencial de mitigar mais de 11 bilhões de toneladas de emissões por ano, segundo o artigo Natural Climate Solutions, de Bronson W. Griscom, publicado no PNAS, um importante periódico de pesquisas acadêmicas de ciências biológicas, físicas e sociais. A marca é grandiosa, mas representa quase 50% da redução de GEE necessária até 2030. O Brasil é o país com maior potencial de geração de créditos em NbS, detendo 10% da capacidade de mitigação mundial, com grandes oportunidades em projetos de conservação florestal, reflorestamento e agricultura sustentável. Sendo assim, deve tomar seu lugar na mesa de discussões e liderar essa agenda.

Mas há outros fatores que colocam o país em posição privilegiada. O Brasil possui a maior floresta tropical do mundo, abrigando de 15% a 20% de todas as espécies conhecidas de plantas, animais e microrganismos. A conservação e o manejo sustentável das florestas brasileiras são essenciais para garantir a manutenção dessa biodiversidade e para a prestação de serviços ecossistêmicos, como a regulação do clima, a proteção do solo e a manutenção dos recursos hídricos. Indo mais além, cabe pontuar que somos também um dos maiores produtores de alimentos e, apesar da alta presença de práticas agrícolas sustentáveis, essa liderança carrega um legado de desmatamento de floresta nativa e mais de 95 milhões de hectares em áreas de pasto degradadas, segundo dados da Mapbiomas.

Nesse contexto, é bom lembrar que até 2030, o Brasil tem como meta restaurar 12 milhões de hectares de florestas, além de implementar sistemas agroflorestais em mais 5 milhões de hectares, conforme o Plano Nacional sobre Mudança do Clima. Sobretudo, precisa, também, recuperar mais 15 milhões de hectares de pastagens degradadas, e pode fazer isso por meio da adoção de tecnologias e práticas sustentáveis como ILPF, manejo integrado, entre outros.

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E os benefícios dos projetos em NbS podem superar a questão das reduções de emissões de GEE, com recursos também destinados para iniciativas que contribuem para o desenvolvimento sustentável das comunidades do entorno, em linha com as ODSs da ONU. Isso porque, projetos que investem nesses cobenefícios recebem uma certificação especial, a qual garante um prêmio no preço do crédito e, em geral, também é um requisito mínimo para os compradores sérios do mercado.

No entanto, apesar das oportunidades para o Brasil, o mercado global de créditos para compensação de emissões ainda está em um momento de construção. Caso as empresas façam parte do grupo regulado, a compensação por offsets se dará a partir de regulamentação que ainda está sendo definida pelo artigo 6 do Acordo de Paris, o qual tem uma interlocução complexa e os avanços tendem a ser lentos. Portanto, hoje a única alternativa para a venda de créditos se dá no mercado voluntário de carbono, e esses, por sua vez, têm sido alvo de críticas, especialmente pela dificuldade em comprovar o real impacto dos projetos na redução de emissões de CO2.

Logo, para destravar seu potencial, precisamos de regras e metodologias mais claras e um tanto quanto rigorosas, com monitoramento e verificação efetivos, mais transparência sobre o resultado dos projetos, assim como o fortalecimento das instituições que compõem o ecossistema. Os diversos atores desse cenário estão se movimentando para aprimorar a robustez desse mercado.

Em paralelo, o Brasil tem evoluído no desenvolvimento de mecanismos que possam incentivar investimentos que mitiguem a emissão de gases de efeito estufa e ampliem a resiliência às mudanças climáticas, como é o caso do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), que oferece compensação financeira para entidades que prestem serviços ecossistêmicos, e o desenho de um potencial mercado de carbono regulado.

Nesse sentido, independente se os incentivos virão do âmbito internacional ou nacional, o fato é que há amplas oportunidades de aliviar a atmosfera de emissões por soluções relacionadas à natureza, e elas serão fundamentais. O mercado financeiro será a chave que vai destravar isso, junto com empreendedores e donos de negócios capazes de ganhar escala e resolver esses problemas urgentes. Acreditamos que com uma atuação estratégica e comprometida, muito em breve, o Brasil pode se tornar um protagonista no mercado de carbono global, gerando impactos positivos para o desenvolvimento sustentável de todo planeta, atestando, de mais de uma maneira, sua grandeza.

*Este artigo foi escrito com Thaís Fujita

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Nota

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