Rodrigo Nigri

Acqui-Hire: nova forma de caça talentos no mercado

Profissionais do mercado têm observado uma quantidade crescente de aquisições, cuja motivação é a contratação dos fundadores e seus times de desenvolvedores e de engenheiros de tecnologia: as chamadas acqui-hiring (acquisition to hire)

Em 2021, o investimento em capital de risco, especialmente aquele voltado para startups, alcançou nível recorde, confirmando a tendência do mercado de capitais em diversificação e apetite a risco em busca de maiores retornos. Tais investimentos despejaram volumes relevantes de capital nas companhias recém-fundadas e, em contrapartida, geraram forte pressão por retorno e crescimento exponencial.

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Nessa busca por alternativas de crescimento, o caminho das aquisições tem se mostrado convidativo, seja para ter novos produtos no portfólio, como a Ebanx ao adquirir a Remessa Online, que adicionou o produto de remessas internacionais; ou entrar em novas verticais da economia, exemplo da Dr. Consulta, ao adquirir a estreante no mercado de planos de saúde Cuidar.me, ou também para trazer talentos para o time já existente, conhecido como acqui-hire.

O fenômeno, que pode soar como um novo departamento de Recursos Humanos, na verdade, se refere às aquisições (acquisition) focadas na contratação da equipe da companhia (hiring). Comum nos Estados Unidos há alguns anos, a estratégia tem atraído empresas como Facebook (FBOK34) e Yahoo, seus mais notáveis e recorrentes praticantes, além da Airbnb (AIRB34), com a transação com a Dailybooth, do Google (GOLGL34) com a Milk, entre outras. No Brasil, essa prática também tem se tornado recorrente. Recentemente, na aquisição da Beta Learning pela Clear Sale, o CEO da adquirente afirmou que a negociação tinha foco na qualidade do time de funcionários da empresa e em seus métodos de treinamento e formação de mão de obra.

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Sobra capital, faltam recursos humanos

Em contrapartida ao cenário de irrigação de capital, as empresas têm sofrido com a escassez de recursos humanos qualificados no mercado, especialmente na área de tecnologia. O mundo e a economia estão cada vez mais digitais – no entanto, as universidades e os centros de formação não conseguiram adaptar-se com rapidez suficiente para atender a essa demanda na capacitação de profissionais.

Dados divulgados recentemente pela Microsoft (MSFT34) apontam que, atualmente, o Brasil tem cerca de 400 mil profissionais de desenvolvimento e programação e nos próximos cinco anos serão abertas 9 milhões de novas vagas no setor de Tecnologia da Informação no país, dos quais cerca de 6,3 milhões deverão ser para desenvolvedores de softwares. Portanto, o déficit de profissionais é imenso.

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Como resultado, observa-se uma verdadeira guerra no mercado para contratação de desenvolvedores – os famosos devs –, engenheiros de dados e afins. Os relatos são diversos, desde salários estratosféricos, flexibilização nos formatos de contratação e horas de trabalho, até contratação remota internacional.

Nesse cenário, os profissionais do mercado de Fusões e Aquisições têm observado uma quantidade crescente de aquisições, cuja motivação é a contratação dos fundadores e seus times de desenvolvedores e de engenheiros de tecnologia: as chamadas acqui-hiring (acquisition to hire). Em vez de promover o desenvolvimento do profissional internamente, que pode ser lento, compra-se a empresa que tenha uma equipe pronta, com capacidades específicas e experiências comprovadas.

Riscos da acqui-hire e mecanismos de mitigação

Como em todo processo de M&A, um dos principais riscos do negócio é a etapa de integração, seja de sistemas, processos, pessoas ou produtos. No caso específico das acqui hiring, este item torna-se especialmente relevante, pois, uma integração mal realizada pode invalidar todo o investimento realizado, caso a equipe adquirida resolva sair da nova companhia.

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Por isso, ao realizar o estudo do custo de aquisição por funcionário e a viabilidade da transação, é importante que o adquirente tenha em mente que, além do valor pago para concluir a compra, será necessário manter o novo time alinhado e motivado e, invariavelmente, uma peça relevante será o nível de remuneração. É fundamental incluir nos cálculos os novos salários, bônus e eventualmente programa de opções de compra de ações, para se certificar que o investimento está de acordo com o objetivo da transação e com o retorno esperado.

Vale lembrar que a remuneração com base em ações, além de uma remuneração adicional sem saída imediata de caixa, é também uma ferramenta de retenção da equipe, especialmente se as ações tiverem um período longo de vesting, ou seja, para ter efetivo direito a realizar esta parcela de seus ganhos, os recém-chegados precisarão permanecer por determinado tempo na companhia.

Outras medidas bastante comuns em contratos de compra e venda, como as cláusulas de não competição, tornam-se ainda mais relevantes em casos nos quais os sócios vendedores compõem a força de trabalho a ser agregada. O mesmo ocorre com a contraprestação contingente (ern out), que atribui pagamento adicional ao vendedor caso o negócio recém-adquirido atinja determinado patamar de venda, rentabilidade ou mesmo entregue certo produto. No caso de uma acqui-hire, a cláusula de earn out pode ser atrelada à capacidade dos antigos sócios em manter uma baixa taxa de demissão (turnover) em sua equipe.

Com a defasagem de oferta de mão de obra que observamos hoje e a aceleração da transformação das companhias e da economia, os movimentos de acqui-hire parecem ter vindo para ficar no mercado de M&A brasileiro e os mecanismos de aperfeiçoamento desta prática vão se tornando cada vez mais assertivos e sofisticados.

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Nota

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