Luciana Silva

A inclusão de mulheres negras nas empresas precisa de ação

Há muito debate sobre o tema, como existem também ações que não passam de narrativa vazia, porque incluir demanda oportunidades e também remuneração adequada na hora da contratação

Como mulher negra na área de treinamento e desenvolvimento de carreiras, pressuponho que precisamos falar mais sobre a carreira de profissionais negras do sexo feminino. Essa é uma realidade que merece ser discutida e valorizada, ampliando dessa maneira possibilidades de treinamentos e desenvolvimento específicos para essas profissionais, uma vez que ainda estão invisibilizadas em nossa sociedade.

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Não é novidade que essas profissionais enfrentam muitas barreiras e desafios para alcançarem posições de liderança no mercado de trabalho, especialmente em empresas e organizações de grande porte. Esses desafios estão relacionados a fatores estruturais e culturais que perpetuam a desigualdade salarial, falta de oportunidades, entre outros aspectos. Além do que, possuem o racismo e o pacto da branquitude como pano de fundo nesses ambientes corporativos e as impedem que ocupem cargos com alta remuneração.

Podemos contar com desigualdades históricas e estruturais advindas de ações de discriminação, tais como o racismo, o machismo, o sexismo e o capacitismo, que se refletem em diversos aspectos da vida das mulheres negras. E diminuem o acesso à educação e à formação profissional de qualidade. Outro ponto é a desvalorização e escassez de reconhecimento do seu trabalho. A falta de representatividade nos cargos de liderança e a ausência de políticas afirmativas para a inclusão de pessoas negras e mulheres nos processos seletivos e de ascensão profissional também favorecem a perpetuar essa desigualdade.

É necessário mencionar a importância da diversidade de gênero e de raça com todas as nuances que essa interseccionalidade possa trazer para integrar profissionais à liderança. E nós, mulheres negras, estamos cada vez mais alcançando essas posições. De acordo com Pesquisa da consultoria KPMG/Forbes 2022, mostra que um estudo publicado pela Harvard Business Review analisou 163 empresas por 13 anos e concluiu que, entre as que têm mais mulheres nos cargos de liderança, há maior abertura para mudanças, menor propensão a risco e maior foco em inovação, tendo um desempenho financeiro significativamente melhor do que aquelas que não têm nenhuma mulher. Atualmente, não chega a 1% a representação de mulheres negras nos conselhos das organizações em conselhos corporativos no Brasil, segundo pesquisa publicada pelo IBDEE (Instituto Brasileiro de Direitos e Ética Empresarial ) e o Manifesto conselheira 101 em 2021.

Apesar desses obstáculos, muitas mulheres negras têm construído trajetórias de sucesso e superação, com muito esforço, dedicação e perseverança. Elas têm se destacado em áreas como a medicina, a advocacia, a cultura e a política, mostrando que a competência e o talento não têm cor nem gênero.

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Atualmente temos mulheres se destacando em áreas como a de tecnologia. Embora ainda haja uma lacuna de gênero nessa área, com menos mulheres do que homens trabalhando em tecnologia, observamos que cada vez mais mulheres estão buscando carreiras em tecnologia e alcançando sucesso. De acordo com um relatório da ONU Mulheres de 2019 e Princípios de empoderamento das mulheres 2021, as mulheres estão liderando startups em áreas como inteligência artificial, tecnologia financeira e robótica. (Esses dados são apenas referente ao recorte de gênero)

Em paralelo, as mulheres estão se destacando em profissões tradicionalmente masculinas, como engenharia e ciência. Embora essas áreas ainda sejam dominadas pelos homens, cada vez mais mulheres estão estudando e trabalhando nessas áreas e fazendo grandes contribuições.

No entanto, não temos como romantizar. Existe muito trabalho a ser feito para garantir a igualdade de oportunidades para as mulheres e mulheres negras no mercado de trabalho. A desigualdade salarial ainda é uma realidade para todas nós do sexo feminino e as camadas raciais ampliam esse problema. Temos mulheres frequentemente ganhando menos do que os homens pelas mesmas tarefas laborais desempenhadas.

A carreira da mulher negra, em âmbitos profissionais, têm evoluído significativamente ao longo dos anos, permitindo que encontrem seu lugar no mercado de trabalho. Elas precisam ser encorajadas a buscar carreiras em áreas onde ainda estão sub-representadas. Precisam de acesso a programas de mentoria e treinamento para ajudá-las a desenvolver suas habilidades, tais como planejamento de tempo, organização financeira, acesso a ferramentas ágeis que possibilitem o que profissionais negras do sexo feminino possam ter o mesmo acesso a oportunidades de crescimento.

Para exemplificar pontos que precisam ser considerados na preparação de uma profissional negra para cargos com maiores remuneração, tais como áreas de liderança, vou detalhar ferramentas e habilidades que as ajudam a se tornar mais robustas:

Nesse processo de aprendizagem, o planejamento de tempo, vem se mostrando uma habilidade fundamental para alcançar metas e objetivos pessoais e profissionais. Incluir mentorias que ajudem essas profissionais a ter acesso a passos essenciais, incluindo objetivos claros, priorização de tarefas para a criação de um cronograma eficaz de planejamento dentro de prazos específicos.

Não podemos deixar de fora a organização e gerenciamento financeiro que pode parecer desafiador, mas conseguimos ajudá-las incorporando aos ensinamentos, orientações sobre planejamento e disciplina, é possível ajudá-las a manter as finanças organizadas e saudáveis. Vamos começar estabelecendo um orçamento, cortando despesas desnecessárias, determinando metas financeiras, usando o crédito com sabedoria e mantendo registros precisos. Possibilitando que cada passo possa fazer parte da estratégia de manter as finanças sob controle para concretizar sonhos e propósitos tanto pessoais como profissionais.

Por fim, mas não menos importante, precisamos identificar as ferramentas que podem ajudar essas profissionais negras a promover um ambiente de trabalho mais colaborativo e transparente. Com a utilização de ferramentas ágeis a equipe é encorajada a trabalhar de forma mais integrada e a compartilhar conhecimento e experiências. Isso promove uma cultura de melhoria contínua e ajuda na adaptação e mudanças mais rapidamente.

Em suma, é fundamental que nós mulheres negras possamos contar com o apoio e o reconhecimento que merecemos para seguir em frente e conquistar novos horizontes. Contribuindo, assim, com o engajamento para a construção de uma sociedade mais justa, equânime e inclusiva.

*Pós Graduada em Diversidades e Inclusão em Direitos Humanos (USP); Pós Graduada em Gestão Pública (UNIFESP); Estudante de Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness (PUC). Atualmente trabalha como consultora na Kyvo Design-Driven Innovation.

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Nota

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Luciana Silva

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