Fábio Carvalho

Imagine catástrofes e sobreviva

Privilegiar o entendimento e a gestão de riscos, acima de qualquer coisa, é o que o investidor deve buscar

Segundo texto neste espaço e vou insistir na discussão de um assunto, risco. Para mim é o assunto mais importante em finanças e investimentos em geral.

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A maioria das pessoas quando escuta o termo “Investimento” pensa imediatamente em retornos, lucros. E eu acredito que essa associação é a atitude errada.

O trabalho de investidores, profissionais ou amadores, dever ser um enorme foco em entender e gerenciar diferentes riscos, antes de qualquer outra coisa. Antes de pensar nos retornos.

Mirar no retorno esperado, ou desejado em muitos casos, acaba distraindo do que é importante, e trazendo ainda mais vieses cognitivos para o jogo, atrapalhando
tremendamente os processos de tomada de decisão.

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Um investidor focado em tecnologia chamado Josh Wolfe, certamente dentre os que mais admiro, tem uma frase que resume um pouco o pensamento por trás desse conceito: fracasso (ou falhas) vem do fracasso de se imaginar um fracasso (“Failure comes from a failure to imagine failure”).

Soa estranho e repetitivo, eu sei. Mas há muita sabedoria comprimida aí.

Grandes investidores, bem como grandes empreendedores, não são tomadores de risco, como a cultura popular muitas vezes coloca. Não são heróis destemidos, e um tanto inconsequentes.

São sim grandes gestores de risco, hábeis eliminadores de camadas risco e incertezas. Acredito que a chave está em enxergar cada situação, sejam investimentos ou um novo projeto, sob um modelo mental de camadas de risco, que devem ir sendo retiradas, e na medida que isso vai acontecendo, o valor do negócio, ativo, investimento, cresce, e sua fragilidade reduz, enquanto opcionalidades são expostas.

Para não ficar apenas nos conceitos, vou contar um caso interessante que ajudou muito a formar em mim a mentalidade e atitude de sempre focar nos riscos e incertezas.
Cerca de dez anos atrás, eu estava sentado para um café da manhã em um hotel famoso na região central de Boston, nos Estados Unidos.

Estava com um amigo americano, e aguardando um outro convidado. Quando o convidado, com quem eu nunca estivera, chegou, a primeira surpresa foi com seu porte físico. Largo, e quase 2m de altura, era muito diferente do que eu esperava pelas poucas fotos e vídeos disponíveis dele.

O convidado era Seth Klarman, um dos maiores investidores da história. Sua gestora, Baupost Group, tem um dos melhores históricos de retornos de investimentos que se pode encontrar, e Seth literalmente escreveu o livro fundamental para muitos, como eu, que estamos sempre atrás de com situações favoráveis de “risco x retorno”, do que ele chama de margem de segurança, para estratégias “avessas aos riscos”.

Temos um amigo em comum, e por isso tive o privilégio de estar com ele para aquele café da manhã. O que se seguiu a sua chegada foi totalmente diferente do que eu esperava. Na minha cabeça havia imaginado que eu iria interrogá-lo sobre sua carreira, suas ideias sobre investimentos, suas visões de mundo.

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Mas após poucos minutos de conversa leve, ele começou um incrível interrogatório sobre o Brasil. Como funciona o sistema judicial? Como juízes costumam decidir em casos assim? Como é a atitude do órgão tributário? Como é o sistema de votação, como se elegem congressistas? E mais e mais, e após uma hora disso, nos despedimos.

Sentado à mesa com um dos maiores investidores que já houve, e o diálogo todo se resumiu a ele aproveitando a oportunidade para extrair de mim a máximo possível de informações sobre o funcionamento do Brasil.

Ele não estava apenas sendo curioso. Ele estava trabalhando. Estava aproveitando a oportunidade para reunir mais informações para analisar cenários e riscos, quando chegasse uma próxima situação de analisar alguma oportunidade de investimento por aqui.

Entender o que pode dar errado, quais as probabilidades envolvidas. Há chance de ruína? O que acontece no cenário ruim. O que podemos perder nos diferentes cenários negativos possíveis.

Não é fácil. Mas é crítico. Uma atitude geral em relação a investimentos privilegiando o entendimento e a gestão de riscos, acima de qualquer outra coisa, é que devemos buscar.

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Nota

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Fábio Carvalho

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