Quedas de ações e risco de recessão: é hora de comprar na bolsa de valores dos EUA?

Desde o início de 2022 a bolsa de valores americana cai vertiginosamente, com baixas de 18,7% no S&P e 26,5% na Nasdaq. O cenário se deteriorou razoavelmente nas últimas semanas, com os movimentos do Federal Reserve (Fed) e a inflação na casa dos 8% – conforme o último CPI, que mostrou números não vistos nos últimos 40 anos. Analistas, economistas e até dirigentes do banco central americano veem risco de recessão à frente.

Relembre o 'início de tudo', com os primeiros ajustes do Fed que derrubaram as bolsas dos EUA

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Esse cenário suscita a dúvida se é hora ou não de investir no exterior. Analistas divergem se existem boas oportunidades de compra na na bolsa de valores americana, ou se fazer um aporte – mesmo em ETFs e fundos – é como ‘pegar a faca caindo’.

Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, aponta que o investidor terá que lidar com esse cenário caótico por mais tempo.

“O momento é de cautela. O consumidor está preocupado, sofrendo com inflação, e sem perspectiva de melhora no curto prazo. Conviveremos com um Fed mais duro e uma inflação global mais alta por mais tempo. O cenário global não mudou. A China levantou algumas restrições da pandemia faz pouco tempo”, analisa.

A tese do especialista é de que é um momento de segurar a mão com vendas de posições, mas observar com bons olhos para novas oportunidades na bolsa americana, já que está “tudo mais barato”.

Eduardo Grübler, sócio e portfolio manager na Warren, destaca que, apesar de a bolsa brasileira estar mais barata e descontada, em termos de múltiplos, o aporte nos EUA ainda é válido, mas deve ser tomado com muita cautela e com uma boa seleção de ações.

“Entendemos que temos de separar investimento estrutural de investimento tático. O estrutural é estratégico e de longo prazo, e entendemos que aí cabe uma alocação nos EUA, assim como em outros países – embora os EUA sempre tenham um peso maior”, analisa.

Nesse sentido, o aporte como propósito de diversificação e gestão de risco sempre é válido – motivo pelo qual alguns analistas apontam que comprar bolsa americana é sempre uma boa alternativa, independente da cotação do dólar.

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“Não vemos uma ‘volta’ rápida para a bolsa americana. Não apostamos em uma grande recessão nos EUA, mas vemos um prêmio mais interessante na bolsa local, do Brasil. Desde o fim do novembro de 2021, vemos a bolsa brasileira mais barata”, aponta o gestor da Warren.

Boa parte dessa cautela vem do fato de que os índices têm oscilado em níveis costumeiramente maiores. “Quem ganhou dinheiro esse ano apostou no Vix, que é conhecido como ‘índice do medo’. Estamos com uma volatilidade surpreendente nos EUA”, aponta Thiago Lobão, CEO da Catarina Capital.

“Tivemos uma correção bem mais firme na última reunião do Fed, o que é algo que o mercado já está precificando. As techs têm um volume de negociação grande e são as maiores dos índices, mas estão caindo mundo. As empresas prestam serviços e solucionam problemas no mundo todo, possuem valuation elevado, e a Nasdaq corrigiu demais. Você vê empresas com 60% ou 70% de queda no acumulado de 2022. Os últimos IPOs de techs caíram e são raras a que desabaram menos de 50%. Diria até que foi um pouco exagerado”, argumenta.

Para o especialista, isso ocorre por causa da eficiência do mercado americano, que já precifica uma possível recessão e o movimento dos juros que ainda virá – dado que os analistas têm deteriorado sucessivamente suas projeções. Alguns bancos, como o Citi e o BofA, veem chances concretas de recessão à frente.

Nesse aspecto, a correção está no fim ou perto do fim, segundo Lobão. “A tendência é de que o mercado fique andando de lado até que se assimile os juros. Mas deve ocorrer uma retomada gradativa. Não acredito em mais uma queda abrupta como outros analistas”, analisa.

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Como fazer o stock picking na bolsa de valores dos EUA

A correção na casa dos 20% na bolsa de valores dos EUA abrange techs como a Apple (AAPL34), que cai 25% em 2022, mas também faz companhias mais tradicionais sangrarem, com queda de 30% nas ações do JPMorgan (JPMC34), por exemplo.

Quem sai ganhando são as empresas vinculadas às commodities. A Exxon Mobil (EXXO34) sobe 35%, uma das poucas empresas da NYSE no azul em 2022.

Em linha com esse cenário, os especialistas apontam companhias de commodities e geradoras de caixa como aportes mais seguros para o momento atual.

Atualmente, a Warren aposta na Dominion (D1OM34), empresa de energia sediada em Richmond em seu portfólio do fundo Warren Global Factor, gerido por Grübler. Além disso, o gestor aposta em farmacêuticas e empresas de consumo.

“Entre as companhias que estamos investindo, podemos falar que uma delas é a Hershey’s (HSHY34), que aparece muito bem nos nossos modelos, tem um negócio interessante. A maior empresa de energy é a Dominion, mas também temos posições em algumas farmacêuticas como a Astrazeneca (A1ZN34), que é europeia, e diversificamos nos setor com a Novo Nordisk (N1VO34). Em petróleo, também temos ações da Marathon (M1PC34), e outras como a Exxon Mobil seguem no radar, uma vez que ela já foi a maior empresa dos EUA”, relaciona.

Os aportes são explicados como apostas em “qualidade” e em empresas que apresentam um risco moderado – ou seja, a ideia é manter uma gestão de risco inteligente e diversificada em termos de setores (em um esquema parecido com a lógica top down).

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Marcelo, da Quantzed, aponta suas top picks: Apple, Amazon (AMZO34), United Health (UNHH34) e Verizon (VERZ34). “Vemos esses como bons nomes pela resiliência e pela robustez, mas é algo para ser feito ‘bem devagar’. São empresas com caixa e bem resilientes, com boa demanda”, cita.

Lobão, da Catarina Capital, pondera que comprar techs não é tão arriscado quanto parece, e que alguns valuations são atrativos nos patamares atuais. Ainda assim, destaca que selecionar os papéis (stock picking) é difícil e se deve fugir do trivial, de fazer aporte nas maiores do ramo – FAANG, sigla que representa as empresas Meta (M1TA34), ex-Facebook, Apple, Amazon, Netflix (NFLX34) e Alphabet (GOGL34), dona do Google.

Ele acrescenta que “não vão ser 6 meses de resultados ruins que vão destruir fundamentos de empresas” e que não é momento de liquidar posições.

“Acho que comprar Nasdaq não é comprar a faca caindo. Techs são ações para se ter visibilidade de 3 a 5 anos, e as elas precisam amadurecer para denotar e precificar os resultados e o potencial. É diferente de fazer um aporte em FAANGs. A janela segue interessante, com a correção, mas acho mais difícil para o investidor ‘acertar’ a posição. A ideia é fazer aportes paulatinamente”, afirma.

“O investidor que considera o câmbio também tem de fazer uma tese e ir colocando capital aos poucos, vendo como o mercado dos EUA funciona. No horizonte de 3 a 5 anos, sob uma ótica fundamentalista, temos escolhido os melhores cavalos para apostar [na Catarina Capital]. Os valuations de hoje estão palpáveis e bem atrativos, negociando com múltiplos próximos do varejo”, acrescenta.

Apesar disso, o especialista não descarta que empresas da bolsa de valores dos EUA com maior capacidade de geração de caixa são boas no momento atual.

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Eduardo Vargas

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