Suno Artigos

Retail Liquidity Provider (RLP): conheça o novo sistema de negociação da bolsa

rlp

Em agosto de 2019, a nova modalidade de oferta RLP (Retail Liquidity Provider) foi disponibilizada no mercado financeiro brasileiro pelos intermediadores de mercado (bancos e corretoras). Apesar de iniciar em período de testes, o novo modelo chegou prometendo dar mais liquidez ao mercado e melhores condições de preço para os clientes.

A modalidade RLP propõe importantes mudanças para o processo de negociação na bolsa. Por isso, é preciso saber exatamente como ela funciona e quais são suas diferenças, vantagens e desvantagens frente ao modelo padrão de ofertas.

O que é o RLP (Retail Liquidity Provider)?

O RLP, sigla para Retail Liquidity Provider, é uma nova modalidade de oferta no mercado em que as corretoras se tornam contraparte das negociações de compra e de venda da bolsa. A tradução do termo em português significa provedor de liquidez para o varejo.

Resumidamente, o RPL garantiria que o preço de execução de uma ordem à mercado será sempre igual ou superior ao book de ofertas.

Por isso, esse novo modelo de oferta vale apenas para as ordens agressoras. Isto é, para aquelas em que são negociados os melhores preços de compra e de venda do livro.

Com isso, as ordens à mercado no novo sistema são executadas ao melhor preço e o mais rápido possível (sem que seja preciso o fracionamento).

O novo modelo não é obrigatório — dependendo, dessa forma, da concordância do cliente em aceitar operar por ele. 

O que o RLP traz de novo ao mercado?

O Retail Liquidity Provider chega prometendo acaba dificuldades de liquidez no modelo de oferta de mercado. Nesse sentido, o propósito do sistema seria encerrar os problemas daqueles que não conseguiam negociar seus ativos a um único nível de preço, o primeiro.

Isso seria possível porque as contrapartes das ofertas serão as próprias corretoras. Ou seja, elas se tornam as provedoras de liquidez para o mercado. Isto seria possível por meio da execução integral das ordens de seus clientes pessoa física (varejo).

Em outras palavras, é possível dizer que as corretoras seriam mais um agente ofertante no mercado. Contudo, ela estaria atuando tanto do lado da venda quanto da compra, ao mesmo tempo, e sempre no topo do book.

Isto é, o sistema garantirá sempre a melhor oferta vendedora e compradora no momento da ordem à mercado dos clientes. Portanto, caso seja feita a opção pelo aceite da RLP, o cliente passa a negociar, muitas vezes, com sua própria corretora.

Regras do Retail Liquidity Provider

Como é um novo modelo de provedor de liquidez para o varejo, foram definidas algumas regras do RLP para o período de testes.

Algumas dessas regras do novo modelo de oferta RLP são:

Implantação do RLP na B3

Esse modelo de oferta não é novidade, uma vez que já existe em grandes bolsas no exterior. A bolsa de Nova York (NYSE), por exemplo, já utiliza o sistema desde o ano de 2012.

A chegada no Brasil ocorre após um período de consulta pública da B3, que aconteceu em dezembro de 2018. Entretanto, o RLP estará disponível inicialmente apenas para minicontratos futuros de índice (mini índice) e de dólar (mini dólar). 

Apesar de iniciar apenas para esses minicontratos, o novo sistema funcionaria da mesma forma para outros ativos negociados na bolsa brasileira. Isso significa que, no futuro, a novidade pode chegar também para a negociação de ações.

Vale lembrar também que o novo serviço ficara em período de teste por 12 meses. Durante esse tempo, haverá o monitoramento das operações e a coleta de dados para análise da CVM, B3 e BSM. Alguns dos dados que serão acompanhados por esses agentes são:

Esses dados poderão ajudar os supervisores de mercado a entender se o novo modelo de oferta gera, de fato, negócios realizados em melhores condições (preço e tempo) que o modelo anterior de oferta de mercado.

Ademais, as operações serão auditadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e os dados divulgados mensalmente pelas corretoras.

Argumentos a favor do RLP

Como foi dito, o novo modelo de ofertas foi disponibilizado após um período de consulta, comandado pela B3. Nesta fase, foi elaborado um relatório de consulta pública. Nele, as principais vantagens e argumentos a favor da implementação do novo modelo de oferta foram elencados.

Alguns desses argumentos a favor e vantagens do RLP são:

1. Promessa de maior liquidez

Com a RLP, espera-se que a liquidez do mercado cresça. Isto porque as intermediárias serão as provedoras de liquidez às operações, tanto do lado da compra quanto da venda, negociando diretamente com – e contra – os seus clientes.

2. Oferta de melhores preços ao cliente

A intermediária (banco ou corretora) garantirá ao cliente a manutenção ou melhora do preço de execução em relação ao modelo anterior de oferta de mercado. Também não haverá a necessidade de fracionar a ordem à mercado por insuficiência de demanda em determinado nível de preço.

Por conta dessas mudanças, o preço de execução será único. Isto é, não será necessário o cálculo de preço médio de execução – que dificultava, inclusive, o pagamento de imposto.

3. Redução na corretagem

O menor custo com taxa de corretagem vem do fato de que várias corretoras têm anunciado corretagem zero para os clientes que aderirem, por meio do aceite, ao novo sistema de ofertas.

4. Fortalecimento do mercado

O modelo RLP já é utilizado em algumas das maiores bolsas do mundo. Isto se deve ao fato de que o sistema pretende promover o fortalecimento do mercado por meio da maior liquidez às negociações.

Desvantagens do Retail Liquidity Provider

Todas essas vantagens do RLP para os clientes foram amplamente divulgadas pelas corretoras. Com isso, certas polêmicas surgiram sobre quais poderiam ser as desvantagens do modelo para clientes.

Isso porque as corretoras, além de garantirem um preço acima do preço de mercado, estarão também reduzindo as suas receitas com corretagem. Isto é, alguma contrapartida maléfica ao consumidor poderia estar embutida no “pacote”.

Alguns dos argumentos contrários e desvantagens da RLP são:

1. Conflito de interesses

Um ponto importante levantado no relatório de consulta pública elaborado pela B3 é o conflito de interesses gerado pelo novo modelo de ofertas.

Isso porque a corretora teria um duplo papel. Isto é, o de desenvolver algoritmos de negociação utilizados pelos clientes e de, ao mesmo tempo, ir contra as ordens geradas pelo próprio algoritmo via RLP.

É comum, por exemplo, salas e chats online pelos quais a corretora sugere pontos de entrada e de saída. Ou seja, ao mesmo tempo que ela sugere uma operação, do outro lado ela estaria negociando contra seus clientes e contra sua própria recomendação.

2. Maior risco

Participantes da consulta pública também argumentaram que, como a corretora teria prioridade para negociar contra o fluxo de varejo (pessoa física), haveria um crescimento do risco de seleção adversa para os formadores de mercado que atuam no livro de ofertas.

Isso porque o investidor de varejo, em geral e de acordo com o relatório, tendem a ser menos bem informados do que a média do mercado. Isso significa que é menos arriscado negociar de forma contraria ao fluxo de ordens vindas de pessoas físicas.

Agora, com o RLP, as corretoras teriam prioridade para negociar com esse fluxo de ordens de pessoa física. Com isso, o fluxo de ordens que chegaria até o livro passaria a ser, na média, mais bem informado. Essa mudança traria maior risco para os formadores de mercado.

3. Possível redução no volume de negociação

Um possível menor volume de negociação e liquidez estariam vinculados ao aumento do risco. Isso porque, caso realmente houvesse esse aumento, seria possível que os formadores de mercado (market makers) diminuíssem o volume de negociações. Outra possibilidade seria o aumento do spread das operações.

Esse efeito iria justamente na contramão do objetivo principal do RLP. Ou seja, justamente aumentar a liquidez e reduzir o spread do mercado.

Exemplo de funcionamento do RLP

No modelo comum de ofertas, é possível que um cliente execute apenas parte de sua ordem pelo preço de mercado. Isso pode ocorrer por uma falta de compradores ou de vendedores por aquele preço.

Veja, por exemplo, o seguinte book de ofertas:

Caso houvesse, nesse momento do book de ofertas, uma nova ordem de venda à mercado de 4 lotes, o cliente teria 2 lotes vendidos a 103.000 e outros 2 a 102.996. Portanto, o preço de venda não seria único, devendo então o vendedor calcular o preço médio da venda executada – no caso, 102.998.

Agora, com o novo modelo de oferta RLP, a corretora irá garantir o melhor preço do book para o cliente, sem que exista a necessidade de dividir os lotes à venda. Ou seja, a ordem de venda à mercado de 4 lotes do cliente seria executada pelo preço único de 103.000.

Vale a pena aderir ao RLP?

O RLP ainda é um sistema de negociação novo no Brasil, estando em período de testes na B3. Por isso, o seu funcionamento deverá ser acompanhado com mais proximidade pelas autoridades.

Além disso, as negociações feitas pelo novo modelo também serão divulgadas mensalmente e analisadas pela CVM, juntamente com a B3 e com a BSM Supervisão de Mercados. Isso como forma de entender os reais impactos no mercado do novo modelo de oferta.

Portanto, é preciso que o investidor esteja atento a como esse modelo de negociação será aceito e entendido pelo mercado e pelas autoridades. É possível, por exemplo, que novos argumentos a favor e contra o RLP surjam conforme o sistema seja familiarizado melhor por todos os agentes do mercado.

Muitas críticas são feitas ao modelo — e por isso é preciso que o investidor estude individualmente se o RLP é vantajosa, ou não, para seu perfil de investidor. Isso será possível por meio da análise dos objetivos e das vantagens e desvantagens desse novo modelo de oferta, as quais já elencamos anteriormente.

Conseguiu tirar todas suas dúvidas sobre o RLP? Deixe suas perguntas sobre esse novo sistema nos comentários e compartilhe conosco a sua opinião.

Sair da versão mobile