Nesta quarta-feira (9), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos exportados do Brasil para os EUA. A nova taxa entra em vigor em 1° de agosto e será aplicada além das tarifas setoriais já existentes, como as que incidem sobre aço e alumínio. A seguir, entenda como a medida pode impactar os seus investimentos.
Segundo relatório especial divulgado pela Suno Research, a tarifa de Trump tende a gerar volatilidade no Ibovespa em um primeiro momento, além de uma pressão inflacionária e ajustes na curva de juros, diante da incerteza imposta ao cenário. O UBS-BB, por sua vez, chama a atenção para a possibilidade da escalada de tensão política gerar impactos no dólar e no fluxo de investimentos estrangeiros no Brasil.
Esses dois pontos estão relacionados: a diminuição de capital estrangeiro no Brasil significa uma fuga do dólar rumo a outros investimentos considerados mais seguros, como a renda fixa norte-americana, por exemplo. Assim, com um dólar mais escasso, o câmbio tende a ser impactado, com o real se desvalorizando.
Além disso, o dólar é visto como uma espécie de fortaleza, uma vez que está atrelado a uma das maiores economias do mundo. Portanto, em momentos de incerteza, a tendência é que a moeda norte-americana se fortaleça em relação às moedas de países emergentes, como é o caso do Brasil.
Por outro lado, destaca a Suno Research, o momento que se desenha pode abrir oportunidades em ativos descontados no Ibov, e reforça a importância do investidor manter a calma, focando nos fundamentos e na diversificação da carteira.
Como a tarifa de Trump impacta ações brasileiras?
De acordo com os analistas da Suno Research, empresas exportadoras e setores fortemente dependentes do mercado americano devem ser impactados negativamente. Já companhias com foco em outros mercados, como a Vale (VALE3), tendem a ser menos afetadas.
Assim, commodities e empresas exportadoras, como as do como as do agronegócio e indústria de base, tendem a sentir mais os efeitos da tarifa. Já companhias brasileiras que têm operações locais nos Estados Unidos, a exemplo da Gerdau (GGBR4), podem, incluisve, se proteger do movimento.
Por outro lado, empresas que exportam parte significativa de sua produção diretamente para os EUA, como é o caso da Taurus (TASA4), terão de avaliar com cuidado os impactos da receita.
“A medida deve gerar efeito dominó em empresas exportadoras listadas na Bolsa, especialmente nos setores de commodities e agroindústria. Isso tende a aumentar a volatilidade nos papéis ligados à cadeia de exportação, como mineração e energia, além de afetar os fundamentos de valuation de companhias que perderão competitividade no mercado americano”, explica João Peixoto, sócio-diretor da Ouro Preto Investimentos.
Em relatório, o Goldman Sachs destaca a Suzano (SUZB11) como uma das principais afetadas, tendo em vista que 19% das receitas líquidas da empresa vêm dos EUA. Os analistas apontam que a companhia enfrentará dificuldades para redirecionar suas exportações a curto prazo, por conta de contratos de longo prazo com exigências específicas de qualidade, e pode sofrer pressão nos preços.
A casa também destaca que a exportação de celulose brasileira aos EUA representa 78% do consumo norte-americano de fibra curta, o que pode gerar desequilíbrios de oferta e demanda se a tarifa for mantida.
Já para a Monte Bravo, a principal impactada no cenário que se desenha é a Weg (WEGE3), que tem aproximadamente 25% de sua receita originada nos Estados Unidos.
O Itaú BBA, por sua vez, destaca negativamente a Embraer (EMBR3), já que 60% de suas receitas vêm da América do Norte e, desse percentual, 3/4 podem ser afetados. A casa espera uma reação negativa do mercado, tendo em vista os riscos para o lucro de curto prazo, redução na receita, margens menores e desvalorização dos múltiplos das ações da Embraer.
Em relação à Petrobras (PETR4), o BTG Pactual afirma que atualmente, 37% das exportações de combustíveis da empresa têm como destino os EUA, mas, segundo os analistas, o volume é pequeno e pode ser redirecionado.
Assim, diz o relatório, apesar do ruído no curto prazo, a medida não representa um risco estrutural à indústria de petróleo e gás brasileira. A Petrobras e demais empresas têm flexibilidade logística e comercial para se adaptar, e o impacto geral deve ser mínimo, segundo a casa.
O que pode acontecer com a renda fixa?
Segundo a Suno Research, o cenário incerto pode gerar pressão sobre o câmbio e sobre as expectativas de inflação, afetando assim a curva de juros no Brasil.
Com o aumento do prêmio de risco e possíveis altas nas taxas de títulos indexados à inflação, podem surgir oportunidades para novos aportes ou reforço de posições já existentes. Portanto, títulos como o Tesouro IPCA+ ganham atratividade em um ambiente de possível repasse inflacionário.
Em live no canal da Suno no YouTube, o Head de Renda Fixa da Suno Research, Guilherme Almeida, explica que a medida tende a prejudicar as exportações e gerar pressão sobre o câmbio, o que pode provocar uma alta inflacionária. Isso afetaria as expectativas do mercado, que já estão desancoradas, e levaria à reprecificação da curva de juros, especialmente nos prazos mais curtos.
Essa abertura na curva de juros, segundo ele, tende a derrubar os preços dos títulos de renda fixa, devido à relação inversa entre taxa e preço, aumentando a incerteza no mercado. Além disso, ele acrescenta que o Banco Central, embora tenha sinalizado uma taxa terminal de juros, pode adotar uma postura mais conservadora diante do novo cenário, mantendo os juros altos por mais tempo do que o previsto.
Nesse contexto, o especialista recomenda que investidores priorizem títulos indexados à inflação (IPCA+), que oferecem proteção diante de possíveis surpresas inflacionárias. Títulos públicos com IPCA+6,80% ou 6,90% são considerados atrativos nesse ambiente de incerteza, diz ele.
E o dólar?
Segundo a Suno Research, o dólar pode se valorizar diante da fuga de capitais para ativos considerados mais seguros, como a renda fixa americana. Esse movimento tende a desvalorizar o real e pressionar preços no Brasil.
É como um efeito dominó: diante de um cenário incerto, o investidor estrangeiro vai retirar seus dólares do mercado brasileiro, gerando escassez da moeda norte-americana por aqui e sua consequente valorização diante do real.
Um real fraco significa aumento do risco inflacionário, tendo em vista o consequente aumento dos preços, sobretudo dos produtos importados. E para balancear os efeitos da moeda fraca e da inflação em alta, a resposta tende a ser um novo aumento nos juros.
Com a concretização desse possível cenário, o consumo doméstico se enfraquece, prejudicando assim as empresas de varejo do índice Bovespa, por exemplo.
Em relatório, o Goldman Sachs destaca que a desvalorização do real pode afetar varejistas que dependem de importações, como é o caso do Grupo SBF (SBFG3), por exemplo, que compra 55% dos seus produtos em dólar.
Em relação ao impacto nos juros, a casa cita que um aumento de 1 ponto percentual nos juros médios de 2026 pode reduzir o lucro líquido estimado do Assaí (ASAI3) em 8%, e o do Magazine Luiza (MGLU3) em 12%.
Por outro lado, companhias que têm receita em dólar e não dependem do comércio com os Estados Unidos, podem se beneficiar desse cenário. É o caso da Vale, por exemplo, que vende seu produto em dólar e tem a China como principal cliente.
Como pode ser a reação do Brasil frente ao tarifaço de Trump?
Diante da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos, o Brasil precisará adotar uma postura estratégica, firme e coordenada para mitigar os impactos comerciais e geopolíticos da medida. A retaliação tarifária exige uma resposta diplomática no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), incluindo a abertura de consultas formais no Órgão de Solução de Controvérsias. Também será necessário buscar articulação com outros países afetados.
No plano interno, o setor empresarial brasileiro será pressionado a:
- Revisar contratos de exportação com foco na mitigação de riscos;
- Buscar novos acordos bilaterais, especialmente com a União Europeia e países asiáticos;
- Reforçar a internacionalização da produção — incluindo a instalação de fábricas ou centros de distribuição nos Estados Unidos, como sugerido na própria carta de Trump;
Investir em inovação, diferenciação e valor agregado, para manter competitividade mesmo diante de barreiras tarifárias mais duras. A avaliação é de João Alfredo Lopes Nyegray, professor do curso de Negócios Internacionais e coordenador do Observatório de Negócios Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Relações comerciais
Em relatório, a Monte Bravo cita que a nova tarifa dos EUA contra o Brasil vai além do comércio e representa uma escalada geopolítica, agravada por tensões envolvendo a Justiça americana e um ministro do STF. Trump alegou “déficits comerciais insustentáveis”, mas, na realidade, é o Brasil quem tem déficit com os EUA.
A medida, diz a Monte Bravo, pode estar ligada à aproximação do Brasil com os BRICS e às críticas recentes de Lula, o que tende a aumentar o distanciamento entre Brasil e EUA. Em resposta, acreditam os analistas, o Brasil deve reforçar os laços com a China, com quem tem uma corrente de comércio superior a US$ 160 bilhões, além buscar alternativas como o acordo Mercosul-União Europeia para compensar perdas no mercado americano.
Além disso, segundo especialistas ouvidos pelo Suno Notícias, a tarifa representa um golpe ao ambiente de negócios brasileiro, sobretudo pois:
- Compromete a confiança de investidores internacionais e prejudica planos de internacionalização, sobretudo de startups e empresas em crescimento;
- Afeta duramente setores exportadores, como agropecuária, siderurgia, aviação e manufaturas de alto valor agregado;
- Pressiona margens, fluxo de caixa e capacidade de captação, especialmente em empresas médias e menos resilientes;
- Aumenta a instabilidade cambial e jurídica, fragilizando o ambiente regulatório e dificultando novos acordos de cooperação;
- Exige resposta estratégica do Brasil, com fortalecimento do ecossistema local, ampliação de acordos comerciais, acesso facilitado ao crédito e políticas de incentivo à inovação e à produção interna;
A leitura predominante, portanto, é a de que as novas tarifas de Trump obrigam o Brasil a reagir de forma estratégica e diplomática a fim de preservar a sua competitividade e protagonismo no comércio internacional.
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