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Sangria histórica: tarifas dos EUA e juros altos afetam o Ibovespa

Gestores destacam cautela e ajustes de portfólio diante da queda do Ibovespa em julho. Foto:iStock.

Gestores destacam cautela e ajustes de portfólio diante da queda do Ibovespa em julho. Foto:iStock..

O Ibovespa encerrou julho com perdas de 4,17%, o maior tombo desde dezembro. Num mês dominado pelo risco de escalada da guerra comercial — e, principalmente, política — entre Brasil e Estados Unidos, não havia muito espaço para otimismo: investidores cruzaram os braços. A liquidez também murchou. O principal índice da Bolsa brasileira registrou movimento médio diário de R$ 14 bilhões, o menor desde julho de 2024.

O mau humor foi potencializado pelo anúncio, no fim do mês, de tarifas de 50% pelos EUA sobre importações brasileiras. A medida elevou a aversão ao risco e contaminou o desempenho das ações.

Além disso, julho foi marcado pelas reuniões do Federal Reserve (FED) e do Comitê de Política Monetária (Copom), que mantiveram as taxas de juros estáveis, mas com um tom mais hawkish, pressionando as curvas de juros. No mercado local, os DIs para janeiro de 2032 subiram de 13,25% para 13,82%, impactando diretamente o apetite por risco e pressionando o Ibovespa.

No entanto, nos primeiros dias de agosto, o índice começou a mostrar sinais de recuperação. Embora a volatilidade tenha persistido, o Ibovespa registrou variações positivas, refletindo uma reação favorável do mercado aos desafios impostos pela política doméstica e pela guerra comercial com os EUA.

Esse movimento indicou que, apesar das incertezas, o mercado ainda possui espaço para recuperação, dependendo das dinâmicas internas e externas.

Ibovespa: carteiras balanceadas e cautela no curto prazo

Para Isabel Lemos, gestora de renda variável da Fator Gestão, os efeitos da decisão americana ficaram evidentes na Bolsa. “O fraco desempenho das ações de renda variável em julho foi, em grande parte, justificado pelos temores e incertezas decorrentes dos anúncios de tarifas pelos EUA, que se intensificaram no fim do mês com a imposição de tarifas de 50% sobre importações brasileiras”, avaliou.

Mesmo com juros elevados, a gestora mantém visão construtiva para o mercado, apoiada em fundamentos. “Enxergamos um conjunto relevante de empresas com fundamentos atrativos. Setores como o imobiliário, financeiro e de utilities vêm apresentando bons resultados e geração consistente de caixa”, afirmou. Ela citou ainda o impacto positivo de programas como o Minha Casa, Minha Vida, que tem impulsionado vendas, inclusive em companhias que não são as principais beneficiadas pela política habitacional.

No entanto, Isabel pondera que a volatilidade deve continuar, influenciada por questões externas — como as negociações comerciais com os EUA — e pelo cenário interno, em que as preocupações fiscais seguem no radar. “Mantemos exposição a empresas de forte geração de caixa e boas pagadoras de dividendos, além de setores com potencial de valorização, como educação, saúde e infraestrutura”, disse.

Aposta seletiva em setores domésticos

Entre as gestoras que adotam postura mais cautelosa, João Mamede, analista sênior de renda variável da AZ Quest, afirmou que a carteira está equilibrada entre empresas defensivas e cíclicas, com aumento recente da exposição a setores domésticos.

“Compramos um kit doméstico mais recentemente, mas ainda temos um bom equilíbrio entre empresas defensivas e cíclicas para o momento atual”, explicou. A estratégia inclui maior participação em varejo e construção civil, preservando posições em energia elétrica e bancos, que segundo ele estão em recuperação após ajustes nos últimos anos.

No mercado externo, a atenção também está voltada para o momento em que o FED deverá iniciar cortes nas taxas de juros. Para a Fator Gestão, esse movimento será um fator relevante para os mercados globais, inclusive o brasileiro, mas ainda cercado de incertezas.

O fluxo estrangeiro, que vinha sustentando parte da valorização da Bolsa no ano, perdeu força em julho. “A retomada do interesse pelas big techs nos Estados Unidos, como Nvidia e Microsoft, levou o S&P a novas máximas históricas, interrompendo temporariamente o movimento positivo de entrada de capital estrangeiro no Brasil”, afirmou Daniel Utsch, gestor de renda variável da Nero Capital.

A entrada líquida, que chegou a R$ 26 bilhões no ano, recuou para cerca de R$ 20 bilhões, com julho registrando saída líquida.

Para agosto, a expectativa é de volatilidade, com atenção ao cenário político doméstico, decisões do STF, movimentações eleitorais e debates fiscais.

No exterior, segue no radar a possibilidade de novas ofensivas comerciais dos EUA. Mesmo após a sangria de julho, parte do mercado ainda vê o Ibovespa como oportunidade no longo prazo — desde que o investidor esteja disposto a atravessar um caminho de altos e baixos.

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