M. Dias Branco (MDIA3) apresentou resultados mistos no terceiro trimestre de 2025, frustrando as expectativas do mercado apesar do crescimento de dois dígitos em receita e lucro líquido. A fabricante de alimentos reportou receita líquida de R$ 2,78 bilhões, alta de 16% em relação ao mesmo período de 2024, e lucro líquido de R$ 216 milhões, avanço de 73% na base anual. Ainda assim, a pressão de custos e o recuo no preço médio dos produtos reduziram margens e levantaram dúvidas sobre a consistência da recuperação.
Custos sobem e margens cedem
O trimestre foi marcado por um desempenho robusto de volume, que cresceu 15% em relação ao 3T24, impulsionado pela retomada de market share em biscoitos e massas e pela expansão no segmento de óleos vegetais. O preço médio, contudo, caiu 4% em relação ao trimestre anterior, refletindo um mix de vendas mais concentrado em produtos de menor valor agregado.
De acordo com a equipe da XP Investimentos, liderada por Leonardo Alencar, os resultados foram mais fracos do que o esperado e devem levar a revisões negativas nas estimativas de lucro à frente. “Os volumes vieram em linha com nossas projeções, mas a queda de 4% no preço médio sugere um mix mais fraco. O aumento da participação de categorias de menor valor e a menor queda nos custos de matéria-prima pressionaram as margens”, afirmou a XP.
A margem bruta recuou para 32,4%, queda de 173 pontos-base frente às estimativas, impactada pela alta do óleo de palma no mercado internacional e pela estratégia da companhia de manter estoques maiores de insumos. O EBITDA ficou em R$ 318 milhões, 14% abaixo das expectativas e 8% menor que no trimestre anterior.
MDIA3: crescimento de receita, mas questionamentos sobre rentabilidade
Apesar da expansão no faturamento e na geração de caixa operacional — que somou R$ 530 milhões, oito vezes superior ao 3T24 —, o desempenho foi ofuscado pelo enfraquecimento das margens. O lucro bruto atingiu R$ 903 milhões, 8% abaixo do projetado pela XP, refletindo a menor diluição de custos fixos.
A XP destacou que o desvio no EBITDA não se traduziu na mesma magnitude no lucro líquido devido a efeitos fiscais positivos. “A taxa efetiva de imposto voltou a se beneficiar de fatores não recorrentes, como créditos extemporâneos e impostos diferidos. Se considerássemos uma taxa normalizada de 15%, o lucro líquido seria 17% inferior às nossas projeções”, apontou o relatório.
O cenário reforça a preocupação do mercado com a volatilidade de margens. Segundo a corretora, há incertezas sobre o quanto dessa pressão pode se refletir em um de-rating das ações — ou seja, em uma revisão negativa das múltiplos de preço frente à menor previsibilidade de resultados.
Analistas ajustam projeções, mas veem fundamentos de longo prazo
Mesmo com os desafios do trimestre, o crescimento consistente de volumes e o controle do endividamento — com R$ 721 milhões em caixa líquido — mantêm a M. Dias Branco em posição financeira sólida. A empresa segue com rating AAA pela Fitch e tem investido em inovação e eficiência operacional, especialmente em suas marcas premium e no canal de food service.
“A companhia ainda exibe fundamentos sólidos, mas a volatilidade das margens e a pressão sobre o mix de produtos devem pesar no curto prazo”, conclui o relatório da XP Investimentos.
Com EBITDA de R$ 318 milhões e margem de 11,4%, a M. Dias Branco (MDIA3) entrega crescimento em receita, mas enfrenta o desafio de recuperar rentabilidade em um cenário de custos voláteis e ajustes de mix — ponto de atenção para investidores que acompanham o papel.
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