A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou a ata da reunião realizada no mês passado em que aprovou que fundos imobiliários (FIIs) e Fiagros poderão realizar a recompra das cotas.
É um procedimento já é liberado para empresas listadas na B3, que podem recomprar as próprias ações como forma de geração de valor para os investidores. Isso geralmente acontece em momentos em que os papéis estão muito descontados, em relação ao valor patrimonial, ou quando as empresas contam com uma geração de caixa excessiva, sem previsão de novos investimentos, e optam pela medida para mostrar uma postura mais agressiva no mercado.
De acordo com a ata da reunião da CVM, a realização dessas operações está condicionada ao cumprimento de determinados requisitos. Os principais deles são:
- divulgação do programa de recompra com antecedência mínima de 14 dias;
- limitação da recompra a no máximo 10% do patrimônio líquido em um período de 12 meses;
- previsão expressa da recompra no regulamento do fundo;
- realização da recompra a valores inferiores ao valor patrimonial da cota no dia útil imediatamente anterior;
- cancelamento imediato das cotas recompradas.
O último requisito mostra que a recompra de cotas por FIIs e Fiagros terá uma diferença grande em relação ao mercado de ações, que conta com a figura das “ações em tesouraria”, que não estão disponíveis no mercado, mas podem retornar posteriormente. Em caso de recompra, as empresas podem ampliar o estoque de ações na tesouraria, sem direito a voto ou a recebimento de dividendos, e optar pelo retorno posterior desses papéis em condições mais favoráveis de mercado, ou mesmo para entrega a funcionários, de acordo com planos de carreira.
Já nos casos dos fundos, as cotas deixarão de existir, causando impacto direto no valor patrimonial por cota, já que haverá menos papéis para dividir o todo. A medida também pode impulsionar indicadores como o dividend yield e mesmo o valor nominal dos dividendos.
FIIs e Fiagros podem recomprar: Genial analisa
A Genial Investimentos divulgou relatório em que elogia a decisão da CVM. “A prática representa um avanço relevante para os segmentos de fundos imobiliários e do agronegócio. Até então, momentos de baixa no mercado de FIIs costumavam ser marcados por certa estagnação”, explica o relatório da empresa.
O relatório publicado pela empresa destaca que, quando o P/VP está muito baixo, os gestores não conseguem realizar emissões para novas captações, o que dificulta a concretização de aquisições relevantes de imóveis ou CRIs. Além disso, fundos que detêm cotas de outros FIIs frequentemente evitam vendê-las no mercado, pois a realização de prejuízos comprometeria a distribuição de dividendos, o que também reduz as fontes de financiamento de novos ativos.
Por fim, os FIIs ficavam sem mecanismos para capturar valor no mercado secundário, mesmo quando suas cotas negociavam com desconto relevante em relação ao valor patrimonial, o que restringia estratégias de alocação oportunistas e limitava a geração de valor para os cotistas remanescentes.
“Com a nova regulamentação, os fundos passam a ter a possibilidade de utilizar o caixa disponível para aproveitar momentos de desvalorização no mercado secundário, capturando valor em benefício dos cotistas”, afirma a casa de análise, destacando exemplos de possíveis ganhos em dividend yield e até mesmo em dividendos nominais em alguns casos.
A Genial alerta, no entanto, que a medida deve ser vista com cuidado em relação aos FIIs de tijolo, especialmente em momentos de que o cenário é de alta de juros pela frente. “Uma recompra em momentos equivocados pode destruir valor, principalmente em cenários pré deterioração macroeconômica. Com o aumento das taxas, o fundo corre o risco de recomprar cotas a preços mais altos, ao mesmo tempo em que renuncia à geração de receita que poderia ser obtida com a aplicação do caixa”, aponta a empresa.
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