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Banco do Brasil (BBAS3) encara seu maior teste no agro às vésperas do resultado do 3T25

Fachada da agência do Banco do Brasil (BBAS3)

Banco do Brasil (BBAS3) - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Às vésperas da divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2025, o Banco do Brasil (BBAS3) enfrenta um dos momentos mais delicados do ciclo de crédito recente. Segundo a Genial Investimentos, o banco deve reportar um lucro líquido de R$ 3,4 bilhões, uma queda de 9,4% em relação ao trimestre anterior e de 64% frente ao mesmo período de 2024. O retorno sobre o patrimônio (ROE) deve recuar para 7,4%, abaixo do custo de capital, sinalizando que a rentabilidade ainda segue sob forte pressão.

A corretora aponta três fatores principais por trás do desempenho fraco: a inadimplência persistente no agronegócio, o aumento das provisões exigidas pela Resolução 4.966 do Banco Central — que antecipa perdas esperadas — e a limitação do reconhecimento de receitas de juros em operações com atraso superior a 90 dias.

O resultado, segundo os analistas Eduardo Nishio, Luis Degaspari e Bernardo Noel, é um trimestre em que a margem financeira até melhora, mas não o suficiente para compensar o salto no custo de crédito.

O setor agro continua sendo o epicentro da preocupação. Entre abril e setembro de 2025, vencem cerca de R$ 111,6 bilhões em operações de custeio, concentradas em soja e milho — culturas fortemente impactadas por preços mais baixos e eventos climáticos.

A Genial estima que as despesas com provisões (PDD) alcancem R$ 16,3 bilhões no 3T25, uma alta de 61,7% na comparação anual. Além disso, o aumento da inadimplência também atinge carteiras de pessoa física e pequenas e médias empresas, elevando ainda mais o risco de crédito.

MP 1.314: o fôlego temporário que pode aliviar o Banco do Brasil

No lado regulatório, a Medida Provisória 1.314 surge como um alívio temporário. A norma permite renegociações de dívidas rurais e melhora o capital regulatório dos bancos. O programa prevê até R$ 12 bilhões via BNDES, além de recursos próprios das instituições. A Genial calcula que, se o Banco do Brasil originar cerca de R$ 10 bilhões com funding próprio, conseguirá preservar o índice de capital principal (CET1) em torno de 11%. O efeito, porém, tende a ser limitado a 2025, com impacto mais perceptível em 2026, já que a MP deve expirar sem aprovação no Congresso.

A corretora simulou diferentes cenários de capital. Sem a MP, o banco absorveria integralmente as pressões regulatórias, o que reduziria o CET1 em cerca de 66 pontos-base até 2026. Já com originação de R$ 10 bilhões em recursos próprios, o BB neutralizaria esse impacto. No cenário mais otimista, com R$ 12 bilhões, poderia até ampliar o capital. O desafio é o tempo: o prazo para originação é de apenas 120 dias, o que exige execução rápida e foco.

Rentabilidade ainda pressionada, mas valuation segue atrativo

Para o ano, a Genial revisou para baixo a projeção de lucro líquido do banco, de R$ 25,7 bilhões para R$ 21,2 bilhões — uma queda de 44% em relação a 2024. O ROE anual estimado é de 11,1%, refletindo um ciclo de crédito mais severo e o impacto da nova metodologia de provisões. Ainda assim, o Banco do Brasil segue negociando a múltiplos considerados atraentes, com P/VP de 0,63x e P/L de 5,6x para 2025. A recomendação é de “manter”, com preço-alvo de R$ 22,80, o que implica potencial de valorização de 9,8% em relação à cotação de R$ 20,77 em 21 de outubro.

Para o investidor, o recado é claro: o Banco do Brasil atravessa um período de rentabilidade comprimida, mas carrega valor escondido se o ciclo do agronegócio se normalizar a partir de 2026. A MP 1.314 oferece um respiro temporário, mas o verdadeiro gatilho de recuperação ainda depende do campo — e do tempo.

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