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Você não perde por investir

"O Semeador Debaixo do Sol"

“O Semeador Debaixo do Sol” (1888), pintura de Vincent van Gogh (1853-1890) pertencente ao acervo do Museu Kröller-Müller de Otterlo, Holanda.

Quem pensa que investir é uma atividade que visa apenas retornos financeiros está enganado. Existem benefícios complementares e intrínsecos em adotar uma postura de investimentos com foco no longo prazo, que atuam sobre o indivíduo ainda no curtíssimo prazo.

Reza o ditado popular que “se conselho fosse bom, a gente não dava, vendia”. É interessante provar a verossimilhança destas palavras quando encontramos com alguém que aconselhamos há alguns anos e que continua com as mesmas queixas e problemas.

Você conversa por horas com o sujeito que acabou de perder o emprego e o encoraja:

– O mundo mudou. Acabou a era dos empregos estáveis. Você precisa parar de agir com a mentalidade de um empregado e agir com a mentalidade de um empreendedor, pois até para vender suas horas de trabalho para uma empresa, você precisa demonstrar seu valor e sua iniciativa.

Então, tempos depois, o interlocutor te procura novamente, apenas para reclamar:

– A situação está difícil, estou há três anos sem carteira assinada.

Somente pelas palavras “carteira assinada” você percebe que a pessoa que você queria ajudar simplesmente não assimilou nada do que você tentou explicar.

Com investimentos e educação financeira ocorre algo parecido. Por mais que nos empenhemos em ser didáticos em nossas abordagens, muitas pessoas simplesmente não são tocadas pelos conceitos que procuramos propagar.

Epifania e conversão

Seria esta uma deficiência do emissor da mensagem? Pode ser. No entanto, provavelmente o problema está relacionado com o receptor do conteúdo, uma vez que ele esteja com dogmas contrários e costumes negativos enraizados em sua mente.

Convencer um sujeito perdulário, quando não endividado, a pensar no futuro – e na busca por independência financeira – é muito difícil. Abandonar hábitos antigos e nocivos para a saúde financeira, para adotar novos hábitos dignos da mentalidade de um investidor, é um processo que exige um momento de conversão.

Quantas vezes ouvimos alguém dizer algo parecido:

– Pois é, lembro daquela conversa que tivemos sobre investimentos, mas infelizmente ainda não consegui juntar dinheiro para começar.

Esta é a fala de uma pessoa que não passou por um momento digno de uma epifania, quando as ideias ficam claras e ela tem o entendimento facilitado para finalmente reordenar os passos da sua vida.

Os termos “epifania” e “conversão” são típicos do vocabulário religioso e, de certo modo, é justamente disso que se trata: da lida com um sistema de crenças. Cada um tem a sua fé ou a ausência dela. Isso não está em questão. Mas em termos financeiros, deixar de poupar, de investir e principalmente de quitar dívidas, são pecados cumulativos que quase sempre ficam sem perdão: cedo ou tarde a conta é apresentada.

A necessidade pode ser uma professora

Muitas vezes, um momento de conversão ou epifania está relacionado com uma situação que a princípio parece traumática. Como algumas pessoas acordam para a necessidade de poupar e investir? Quando algo teoricamente ruim acontece na vida delas: uma demissão, uma redução de renda, um contrato quebrado, um aumento na taxa de juros de uma dívida contraída.

Gente em situação financeira difícil – ou em vias de ingressar num cenário adverso – são as mais suscetíveis para alterar seus paradigmas com relação ao dinheiro. Isso pode ser muito bom, quando elas são apresentadas para os conceitos sólidos de educação financeira; mas pode ser péssimo, quando elas caem no canto das sereias que prometem enriquecimento rápido mediante fórmulas secretas, quando não baseadas em esquemas fraudulentos.

Por mais que se combata elementos mal-intencionados, que se misturam com a maioria dos agentes corretos do mercado de capitais, a tentação do enriquecimento rápido sempre existirá. Então, sempre haverá algum larápio disposto a ludibriar os ingênuos que combinam ambição com falta de conhecimento.

Diante de interlocutores com diferentes barreiras mentais a serem vencidas, e de concorrentes desleais que promovem a deseducação financeira, para não falar em outras desgraças; o que nós, que acreditamos nos princípios do investimento em valor no longo prazo, podemos fazer? Simples: apresentar, sempre que solicitados, os pontos positivos de agir com a mentalidade empreendedora no mercado financeiro, nunca se afastando das metas realísticas.

Passos sobre as sapatas de uma construção

O princípio basilar da educação financeira é a adequação do padrão de vida em relação aos rendimentos totais de um núcleo familiar: é preciso fazer sobrar recursos regularmente e isto só é possível quando se gasta menos do que se arrecada.

Viver com menos do que se ganha não é para ser um sacrifício recheado com a avareza, mas é preciso adotar um padrão de consumo consciente para, em primeiro lugar, atender as necessidades básicas e, em segundo lugar, domar os desejos relacionados com a vaidade – os mais explorados nas campanhas de marketing.

Educar-se financeiramente é uma constante busca por liberdades. A primeira liberdade a ser atingida se dá com relação às dívidas. Pessoas físicas, diferentemente de governos e grandes empresas, não devem viver endividadas. Governos e empresas de grande porte negociam com credores de forma quase impositiva. Indivíduos isolados apenas acatam as taxas de juros abusivos, que os escravizam sem piedade. Portanto, se alguém está endividado e deseja investir, que pague primeiro as suas dívidas.

O passo seguinte é formar uma reserva de emergência – um colchão de tranquilidade. Este montante de capital deve girar em torno de meio ano de despesas do núcleo familiar. Por exemplo, se a renda familiar é de sete mil reais por mês e os gastos mensais são de cinco mil reais, a reserva em uma aplicação de liquidez diária não precisa ser de 42 mil reais, mas de 30 mil reais. A reserva de emergência livra o núcleo familiar de usar o cheque especial e o cartão de crédito – os grandes vilões que muita gente abriga dentro de casa.

Andar com um cartão de crédito no bolso é como portar uma pistola carregada e apontada para o próprio pé. Só precisa acontecer um tiro acidental para o estrago ser irremediável.

A verdade também liberta

A partir deste ponto, vem uma etapa que pode durar vários anos: separar parte substancial da renda atual para realizar aportes regulares e constantes em ativos geradores de renda passiva, dentre os quais estão as ações de empresas de fundamentos sólidos e cotas de fundos imobiliários consolidados.

Essa é parte do discurso que poucos gostam de ouvir: investir para buscar liberdade financeira é um processo lento, que pode durar muito tempo. Muito tempo, mesmo.

Isso pressupõe que o investidor provavelmente terá que continuar trabalhando por muitos anos, antes de viver de renda passiva. Uma das formas de abreviar este tempo é aumentar o volume de aportes e, para tanto, o investidor deve evoluir em seu ofício.

Aquela história de que alguém só deveria fazer aquilo que gosta vai até a página dois. O que é mais difícil? Fazer o que gosta ganhando pouco ou aprender a gostar daquilo que se faz com rendimentos cada vez melhores? O trabalho, visto como um fardo por muitos, tem valor essencial na jornada até a independência financeira.

Apontamentos incisivos

– De que adianta ficar velho e não ter ânimo para usufruir dos benefícios da independência financeira somente no fim da vida?

Essa é uma pergunta factível. Para ter um bom desempenho no trabalho e para aumentar o tempo de vida como aposentado, o indivíduo que investe regularmente precisa atentar para sua saúde. Bons investidores cuidam de si mesmos e daqueles ao seu redor. Comer bem e praticar atividades físicas fazem parte deste ideário.

– E se eu morrer antes de atingir a independência financeira?

Outra questão pesada, feita veladamente. É mais fácil não tocar neste assunto. Porém, de fato, a pessoa pode morrer ser tem atingido todos os seus objetivos. Este é um risco que todos correm. Pensemos no inverso: em chegar numa idade avançada sem ter feito o pé de meia. Sem mais forças e capacidade mental para trabalhar, a quem vamos recorrer? Ao governo? Aos parentes?

Conclusão

Portanto, ninguém perde por investir. Investir com foco no longo prazo faz o indivíduo exercitar as seguintes virtudes: disciplina para controlar os gastos e realizar aportes regulares; paciência para esperar a força dos juros compostos atuar a favor (e não contra); e perseverança para não sair da rota.

Aquele que adota a mentalidade de investidor de longo prazo tende a cuidar melhor da própria saúde e da saúde de seu núcleo familiar; se empenha para ser cada vez melhor em seu ofício e se aproxima das fontes de aprendizado sobre os temas de seu interesse. Para ser melhor no trabalho e nos investimentos, logo se percebe a necessidade de estudar constantemente. Isso mantém a cabeça ocupada e longe dos problemas relacionados com a falta de um propósito.

As recompensas, para quem assume este estilo de vida, não são entregues só no final da jornada: elas chegam de forma parcelada ao longo do tempo e crescem feito uma bola de neve. A tranquilidade e a paz de espírito estão entre elas.

Após ler estas linhas, algumas pessoas não se sentirão tocadas. Outras vão refletir a respeito. Ficarei feliz se alguém me pedir mais informações. Talvez eu não esteja por perto, então deixo a recomendação expressa para conhecer a Suno Research, uma casa independente de análise de investimentos que podem mudar a vida das pessoas para melhor.

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