O valuation (Avaliação de Empresas) é a ferramenta fundamental do Value Investing, a filosofia de investimento que busca diferenciar o “preço” de mercado do “valor” intrínseco de um ativo. Afinal, pode não ser vantajoso comprar uma excelente companhia se ela estiver sendo negociada por um preço muito elevado, e o foco do investidor deve ser sempre a busca por ativos que estejam sendo negociados abaixo do seu valor justo.
Se o valuation sempre foi importante, após o ciclo de juros 2022-2024, ele se tornou ainda mais.. A era do “juro zero” e do “growth a qualquer custo” acabou. O mercado agora é dominado por duas novas realidades que impactam diretamente o cálculo do valor justo:
- Taxas de juros estruturalmente mais altas: O novo patamar da Selic eleva o custo de capital.
- Fim do benefício fiscal do JCP (Juros sobre Capital Próprio): Reduz o fluxo de caixa líquido de muitas empresas.
Entender o valuation de uma empresa, portanto, não é apenas uma vantagem competitiva, é uma necessidade para quem deseja tomar decisões bem fundamentadas no mercado financeiro.
Este guia é para investidores que querem parar de seguir “dicas” e aprender a calcular o valuation de uma empresa por conta própria. Nosso objetivo é ensinar as principais metodologias e como ajustá-las para o novo cenário fiscal e econômico.
Para entender o que é valuation e como montar um valuation de uma empresa, é essencial dominar o vocabulário básico:
- Valor vs. Preço: O preço é o que você paga no mercado hoje. O valor é o que você realmente leva, o potencial de geração de caixa futuro da empresa.
- Valor Intrínseco (Valor Justo): É o “verdadeiro” valor da empresa, a estimativa do seu valor justo, baseado na sua capacidade de gerar caixa no longo prazo.
- Fluxo de Caixa Livre (FCL): É o dinheiro que realmente sobra para os sócios após todos os investimentos necessários para manter e expandir o negócio (Capex). O FCL é o “oxigênio” da empresa e a métrica mais importante no Valuation.
- WACC (Custo Médio Ponderado de Capital): É a “Taxa de Desconto”. Representa o custo de oportunidade do dinheiro para a empresa, refletindo o custo da dívida e do capital próprio. O WACC é o principal reflexo do novo patamar da Selic.
- Perpetuidade: É o valor de todos os fluxos de caixa futuros da empresa, projetados para o período após o fim da projeção detalhada (geralmente depois de 5 ou 10 anos), trazidos a valor presente.
O Valuation é uma metodologia utilizada por diversos agentes do mercado financeiro:
- Analistas de Research (CNPI): Profissionais que publicam seus modelos de Valuation para orientar investidores.
- Bancos de Investimento: Usam o Valuation para precificar IPOs (ofertas públicas iniciais), M&As (Fusões e Aquisições) e emissões de dívida.
- Gestores de Fundos: Usam os modelos para decidir o que comprar ou vender, buscando empresas com valuation de empresas atrativo.
- O Investidor Pessoa Física: Usa as metodologias para encontrar empresas “descontadas” e garantir uma margem de segurança.
O Fluxo de Caixa Descontado (FCD) é o método mais conhecido e aceito no mercado para estimar o valor intrínseco de uma empresa.
A Lógica: O valor de uma empresa hoje é a soma de todo o dinheiro (FCL) que ela vai gerar no futuro, trazido a valor presente pela taxa de desconto (WACC).
Os 3 Passos Essenciais:
- Passo 1. Projetar o Fluxo de Caixa Livre (FCL): Estimar quanto caixa a empresa vai gerar nos próximos 5 a 10 anos.
- Passo 2. Calcular a Taxa de Desconto (WACC): Definir o “preço” do dinheiro, refletindo o risco do negócio e o custo de oportunidade.
- Passo 3. Calcular a Perpetuidade e Descontar: Trazer todos os fluxos de caixa (incluindo a Perpetuidade) para o “Valor Presente” e somar.
O FCD permite que o analista possa prever o valor com base em diferentes cenários e realizar uma análise de sensibilidade, sendo a principal vantagem a capacidade de mostrar uma avaliação de caixa no médio prazo.
A Taxa de Desconto (WACC) é o calcanhar de Aquiles do FDC, e ela foi diretamente afetada pelo novo patamar de juros.
A Lição do Ciclo 2022-2024: O Brasil (e o mundo) entrou em um novo patamar de juros reais (juros acima da inflação). A “Taxa Livre de Risco” (base do WACC) está estruturalmente mais alta, refletindo um custo de oportunidade do dinheiro maior.
A Consequência (A Punição ao “Growth”): Um WACC maior reduz drasticamente o valor presente dos fluxos de caixa futuros.
Análise 2025: Empresas que prometem lucro “só para 2030” (as techs de alto crescimento) valem muito menos hoje, pois seus lucros distantes são descontados a uma taxa muito mais alta. O mercado agora dá um prêmio para empresas que geram caixa hoje (empresas de “Valor” e Dividendos).
O segundo ponto crítico para o Valuation em 2025 é uma mudança fiscal: A extinção dos Juros sobre Capital Próprio (JCP).
O JCP era um benefício fiscal que permitia às empresas deduzir o valor pago aos acionistas como despesa financeira, reduzindo o Imposto de Renda (IRPJ/CSLL) pago.
Portanto, ao projetar o FCL, o analista DEVE usar uma alíquota efetiva de imposto maior do que a histórica.
Assim, o Fluxo de Caixa Livre (FCL) projetado para empresas que usavam o JCP (especialmente bancos, elétricas e saneamento) será menor do que seria no modelo antigo. Modelos de Valuation que não se ajustaram a isso estão superestimando o valor justo.
Em 2025, o fator ESG (Ambiental, Social e Governança) deixou de ser apenas uma “fofoca” e se tornou um input numérico no Valuation.
- O “G” (Governança): Má governança (controlador polêmico, falta de transparência) significa Maior Risco. Isso leva a um Aumento do WACC (Custo de Capital) e, consequentemente, a um Menor Valuation.
- O “E” (Ambiental): Risco ambiental (ex: empresa poluente) se traduz em risco de multas ou CAPEX (investimento) forçado no futuro. Isso leva a uma Redução do FCL projetado.
Para como escolher o melhor método de valuation, a análise por múltiplos é o método rápido e mais usado para análises preliminares.
A Lógica é comparar o preço da empresa com o de seus concorrentes (“pares”) ou com a sua própria média histórica.
Os Principais Múltiplos:
| Múltiplo | Fórmula | O que mede | Melhor Uso |
| P/L (Preço/Lucro) | Preço da Ação / Lucro por Ação | Quantos anos de lucro “compram” a ação. | Mais famoso, mas ignora a dívida. |
| P/VP (Preço/Valor Patrimonial) | Preço da Ação / Valor Patrimonial por Ação | Relação entre o preço e o valor contábil. | Essencial para bancos e empresas em recuperação. |
| EV/EBITDA | (Valor de Mercado + Dívida Líquida) / EBITDA | O valor total da firma em relação ao caixa operacional. | O “profissional”, melhor para comparar empresas com diferentes estruturas de dívida. |
| Dividend Yield (DY) | Dividendos por Ação / Preço da Ação | Um múltiplo de renda e maturidade. | Empresas que geram muito caixa e pagam bons dividendos. |
Um ponto de atenção é sempre comparar “maçãs com maçãs” (mesmo setor, mesmo país, mesmo nível de crescimento).
Para ilustrar o impacto do novo cenário de juros no Valuation, vejamos o caso de duas empresas fictícias:
| Característica | Empresa A (Tech “Growth”) | Empresa B (Elétrica “Valor”) |
| Geração de Caixa | Promete FCL de R$ 10 Bi em 2030 (caixa futuro) | Gera FCL de R$ 1 Bi hoje (caixa presente) |
| Valuation 2021 (WACC 7%) | R$ 100/ação | R$ 30/ação |
| Valuation 2025 (WACC 11%) | R$ 45/ação | R$ 25/ação |
Conclusão do Caso:
- Empresa A (Growth): O WACC alto “destruiu” o valor da perpetuidade. O valor presente dos lucros distantes caiu drasticamente, penalizando empresas que dependem de crescimento futuro.
- Empresa B (Valor): Sofreu menos, pois seu valor está no caixa de curto prazo, que é menos sensível à taxa de desconto.
Para sabe como calcular o valuation de uma empresa, o investidor pode usar:
- Para o FDC: Site de RI da empresa (DFP, ITR), Apresentações de Resultados.
- Para o WACC: Site do Tesouro Direto (juro longo), dados do Prof. Damodaran (prêmio de risco).
- Para Múltiplos: Plataformas de dados (Status Invest, Fundamentus).
- Para Análise Pronta: Casas de Análise (como a Suno), que já fizeram o FDC e os ajustes necessários para o cenário de 2025.
O Valuation não é uma ciência exata, e os erros nas premissas são comuns:
- Premissas Otimistas Demais: Projetar crescimento de 20% ao ano para sempre.
- Errar no WACC: A “mãe” de todos os erros, pois uma pequena variação na taxa de desconto altera drasticamente o valor final.
- Ignorar a Dívida: Usar P/L em vez de EV/EBITDA para empresas alavancadas.
- O ERRO DE 2025: Usar um modelo de FDC antigo que não ajustou a alíquota de imposto pelo fim do JCP.
O Valuation é a bússola do investidor. Sem ele, você está navegando no escuro.
O cenário de 2025 (juros mais altos + fim do JCP) tornou o Valuation mais conservador e mais focado na geração de caixa de curto prazo. A era das narrativas acabou. O mercado voltou a exigir fundamentos.
Aprenda a fazer um Valuation ajustado à nova realidade fiscal e macroeconômica é a única forma de encontrar as verdadeiras oportunidades e se proteger de empresas superavaliadas.
O que é valuation?
Valuation, em português “Avaliação de Empresas“, é o processo para estimar o valor justo de uma empresa, também chamado valor intrínseco.
O que é valor de mercado de uma empresa
A maneira mais conhecida no mercado e também a mais fácil para determinar o valor de mercado de uma empresa é calcular o que é chamado de capitalização de mercado. Para chegar ao resultado basta multiplicar a quantidade total de ações em circulação pelo valor da cotação.
O que é valor intrínseco?
Nem sempre a cotação de um ativo no mercado reflete seu valor justo. Isso porque o valor definido pela compra e venda de ações está sujeito a outros fatores que não estão sob domínio da empresa, como crises políticas ou variação no preço de uma commodity, por exemplo.
Qual a diferença entre valor de mercado de valor justo?
Como dito anteriormente, o valor de mercado de uma empresa, de modo geral, é resultado da multiplicação do total de ações em circulação no mercado pela sua cotação.