Na conjuntura da renda fixa, existem diversos produtos com características bastante individuais e que os diferenciam entre si. Dentre esses ativos, os fundos DI são constantemente mencionados e considerados —mas também alvos de muitas dúvidas.
No caso dos fundos DI, estes podem ser veículos interessantes para deixar o dinheiro ao aguardar oportunidades na renda variável.
O que são os fundos DI?
Os fundos DI são fundos de investimento em renda fixa que possuem como índice de referência o CDI. A maior parte do patrimônio desses fundos é concentrada em títulos pós-fixados, como o Tesouro Selic, ou em outros ativos com risco e retorno similares.
Logo, como o próprio nome sugere, um fundo DI (oficialmente chamado de fundo referenciado DI) são produtos financeiros que atende aqueles que querem atrelar seu investimento à rentabilidade do CDI.
O CDI é uma taxa cujo valor é muito próximo da taxa Selic do país, que representa a rentabilidade livre de risco do Brasil.
Dessa forma, esse fundo funciona como um investimento pós-fixado — e, portanto, de baixíssimo risco. Logo, estes fundos são considerados uma boa alternativa de reserva financeira para o curto prazo.
Características dos fundos DI
A criação desse tipo de fundo está pautada na instrução CVM Nº 555, de 17 Dezembro de 2015, a instrução que regula, de forma geral, os fundos de investimento.
Para ser considerado um fundo DI, o fundo precisa ter pelos menos, 95% do seu patrimônio em títulos correlacionados ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI).
Além disso, no mínimo 80% do patrimônio deve estar obrigatoriamente alocado em títulos públicos federais, títulos privados de baixo risco ou cotas de outros fundos similares.
Geralmente esses títulos públicos federais comprados pelo fundo são os títulos do Tesouro Selic (LFT).
Quanto aos títulos privados, os títulos costumam ser CDB, LCI, LCA e outras aplicações.
Outro ponto a se destacar em relação a suas vantagens se faz no fato de que esses fundos apresentam liquidez diária. Ou seja, o investidor pode retirar o seu capital no momento em que achar mais conveniente, sem um prazo pré-determinado.
Segurança do fundo DI
Para os fundos DI, quando o assunto é segurança, não existem nenhuma desvantagem que seja muito relevante, pois a função desse tipo é servir como uma reserva segura de caixa.
Porém, alguns investimentos que apresentam um certo grau elevado de risco podem demonstrar uma rentabilidade melhor.
Por outro lado, é evidente essa questão de risco contra retorno é muito individual para cada investidor, e variam de acordo com sua disposição e objetivos em relação a seus investimentos.
O maior risco de um fundo referenciado DI diz respeito ao risco de crédito dos títulos da carteira.
Apenas 80% da carteira deve obrigatoriamente estar concentrada em títulos de baixíssimo risco. Mas quanto aos outros 20%, existe uma discrição maior da equipe de gestão em alocar esses recursos.
De fato, alguns fundos possuem o sufixo “crédito privado” no nome, indicando uma maior concentração em papéis mais arriscados.
E ao contrário do investidor individual, nenhum fundo de investimento possui a garantia do FGC.
Taxas de administração dos fundos DI
A taxa de administração é um encargo presente em qualquer fundo DI. Geralmente, essa taxa é expressa como uma porcentagem anual do patrimônio do fundo.
A sua apuração costuma ser diária e o recolhimento mensal.
Essa taxa nada mais é do que a remuneração que o investidor paga pelos prestadores de serviços ao fundo, como:
- Administrador;
- Gestor;
- Custodiante;
Porém, essas taxas de administração costumam variar bastante de instituição para instituição.
Por isso, a importância de uma pesquisa premeditada bastante cautelosa por parte de um investidor no que diz respeito ao investimento em um fundo DI.
Como recomendação, considere como limite uma taxa máxima de administração de 0,5% ao ano.
Vale lembrar não existe a cobrança de taxa de performance para os fundos referenciados DI,
Tributação dos fundos DI
Existem dois impostos cobrados no investimento em um fundo DI:
- Imposto Sobre Operações Financeiros (IOF)
- Imposto de Renda (IR)
IOF nos fundos DI
Assim como ocorre em outros produtos de renda fixa, o IOF é cobrado nas aplicações em um fundo Di somente no resgate das cotas antes de 30 dias, de forma regressiva. Ou seja, quando maior for o período de aplicação, menor será o IOF pago, até que o imposto seja zerado quando o tempo de aplicação passar de 30.
Dias de aplicação | IOF | Dias de aplicação | IOF |
1 | 96% | 16 | 46% |
2 | 93% | 17 | 43% |
3 | 90% | 18 | 40% |
4 | 86% | 19 | 36% |
5 | 83% | 20 | 33% |
6 | 80% | 21 | 30% |
7 | 76% | 22 | 26% |
8 | 73% | 23 | 23% |
9 | 70% | 24 | 20% |
10 | 66% | 25 | 16% |
11 | 63% | 26 | 13% |
12 | 60% | 27 | 10% |
13 | 56% | 28 | 6% |
14 | 53% | 29 | 3 |
15 | 50% | 30 | 0 |
Imposto de Renda nos fundos DI
A cobrança do Imposto de Renda nos fundos DI irá depender se o fundo é classificado como de curto prazo ou longo prazo para fins fiscais.
O fundo de curto prazo é aquele cuja carteira de títulos possui um vencimento médio abaixo de 365 dias. Já o fundo de longo prazo possui títulos com vencimento médio acima de um ano.
Quando o fundo for classificado como de curto prazo, a alíquota de Imposto de Renda será da seguinte forma:
Prazo da aplicação | Alíquota do IR |
Até 180 dias | 22,5% |
De 181 a 360 dias | 20% |
De 361 a 720 dias | 17,5% |
Acima de 720 dias | 15% |
E quando a classificação do fundo for de longo prazo, a tabela de Imposto de Renda será a seguinte:
Prazo da aplicação | Alíquota do IR |
Até 180 dias | 22,5% |
De 181 a 360 dias | 20% |
De 361 a 720 dias | 17,5% |
Acima de 720 dias | 15% |
Perceba que, independente da classificação dos fundos DI, quando mais tempo o capital do investidor permanece aplicado, menor será a alíquota de IR incidida sobre seu investimento.
O imposto de renda é incidido sobre os rendimentos daquela aplicação, ou seja, sobre a diferença entre o valor atual da cota e o valor da cota no momento do investimento.
Além disso o IR é retido na fonte, ou seja, é a instituição responsável por aquela aplicação que recolhe esse imposto.
De maneira geral, o investidor só irá pagar este tributo no momento do resgate do seu capital.
Tributação via come-cotas
Entretanto, uma parte desse IR é cobrada antes através do mecanismo do come-cotas.
O come-cotas, simplificadamente falando, é uma espécie de “adiantamento” do IR que o investidor paga duas vezes por ano, em Maio e em Novembro.
Nesses dois momentos, é cobrada uma alíquota de 15% de imposto sobre os rendimentos daquela transação.
Esse imposto, então, será deduzido na forma de cotas e, portanto, na hora que o investidor solicita o resgate do seu capital aplicado, ele pagará, então, somente a diferença do que ele já pagou e do que ele deve pagar de IR.
Como investir em fundos DI?
Para investir em um fundo DI, existem algumas alternativas:
- Investir através de uma instituição bancária
- Investir através de uma distribuidora/corretora
Fundos DI em bancos
A primeira opção para investir em fundos DI é consultando os produtos do banco onde você tem conta.
Entretanto, os produtos bancários costumam ser muito caros, e as taxas de administração podem ultrapassar 3% ao ano. Por isso, verifique o valor dessa taxa antes de investir.
Fundos DI em distribuidoras e corretoras
Como recomendação geral, o melhor local para encontrar bons fundos é através das distribuidoras independentes de valores mobiliários.
Na maioria dos casos, essas instituições também funcionam como corretoras de valores.
Nas corretoras você irá encontrar uma oferta bem ampla de fundos de investimentos, de várias gestoras.
O que analisar ao investir em um Fundo DI?
Um aspecto importante para ter atenção ao investir em um fundo Di é quanto à política de investimentos do fundo, presente no regulamento.
Apesar dos fundos DI serem obrigados a investir grande parte do patrimônio em investimentos bastante seguros, existe um certo grau de liberdade quanto à aplicação em crédito privado.
Dessa forma, dois fundos referenciados DI podem ter diferente grau de risco.
Quanto ao resgate do investimento, o procedimento também é efetuado exclusivamente através da corretora. Portanto, o dinheiro do resgate cairá na sua conta corrente da corretora conforme o prazo de liquidação dos recursos.
Vale a pena investir em um fundo DI?
Como os fundos DI possuem todo, ou quase todo o seu patrimônio investido em Títulos do Tesouro Nacional, eles são considerados aplicações bastante seguras.
Além disso, como historicamente as taxas de juros no Brasil são tradicionalmente altas, o seu rendimento é relativamente bom, e varia de acordo com a dinâmica do Banco Central do Brasil em relação à alteração da Taxa Selic.
Dessa forma, esses fundos são excelentes para serem utilizados como uma reserva de emergência no caso do surgimento de boas janelas de oportunidades pontuais no mercado de renda variável, como ações e fundos imobiliários.
Esse quesito, para o investidor praticante do Value Investing, é bastante relevante e pode ser usado com bastante eficiência na dinâmica de seus investimentos de longo prazo.
Fundo DI em relação a outros investimentos de Renda Fixa
Apesar dos fundos DI serem uma boa opção de investimento em renda fixa pós-fixada, existem outras alternativas de aplicações que muitas vezes vem à mente do investidor.
Fundos DI ou poupança?
A Caderneta de Poupança é a aplicação mais popular aqui no Brasil.
De fato, a poupança permite resgates a qualquer momento, mesmo fora de horário comercial. Além disso, conta com a garantia do FGC para o investidor pessoa física.
Entretanto, essa aplicação possui algumas desvantagens em relação a um fundo DI.
A primeira delas é quanto à rentabilidade. Em média a poupança rende menos do que a maioria dos fundos referenciados no CDI.
Quando a meta da taxa Selic for superior a 8,5% ao ano, a rentabilidade da poupança será dada por:
- 0,5% ao mês + Taxa Referencial (TR)
Já quando a meta da Selic for igual ou inferior a 8,5%, a poupança rende 70% da Selic mais a TR.
Portanto, quando a Selic está acima de 8,5%, é como se a poupança tivesse um “teto” na remuneração enquanto a remuneração dos investimentos pós-fixados é proporcional à taxa básica da economia.
E quando a Selic é menor do que 8,5%, a remuneração da poupança é sempre dada como uma porcentagem de 70% dessa taxa.
Já os fundos pós-fixados, mesmo com a alíquota máxima de tributação, rendem mais do que esse percentual.
Não é difícil conseguir fundos que rendam 100% do CDI após desconto de taxas e IR.
A outra desvantagem da poupança é a necessidade de esperar um mês para que os depósitos recebam os juros do período.
Qualquer resgate antes da data de aniversário do depósito não inclui os juros proporcionais do mês.
Já em um fundo DI, a remuneração é a cada dia útil, e, portanto, o valor da cota aumenta dia após dia.
Por fim, existe uma situação em que a poupança pode acabar rendendo mais do que um fundo DI, mesmo em um fundo com baixa taxa de administração.
Essa situação ocorre quando o resgate é realizado em um prazo muito curto, menor de 30 dias.
Nesse caso, devido à cobrança do IR, IOF e taxa de administração, a rentabilidade do fundo pode acabar sendo menor do que na poupança, que é isenta desses custos.
Fundos DI ou Tesouro Selic?
Uma outra alternativa ao investimento em fundos referenciados é a compra dos títulos Tesouro Selic via Tesouro Direto.
Na verdade, a maioria dos fundos DI investem o patrimônio do fundo justamente nesses títulos.
A diferença, portanto, é entre adquiri-los via fundo ou via Tesouro Direto.
Na prática, a conta é simples de fazer.
No Tesouro Direto, a taxa paga à B³ é de 0,3% ao ano.
Portanto, para um fundo DI concentrado em títulos públicos render mais do que o Tesouro Selic é preciso que a taxa de administração seja inferior a este patamar.
Fundos DI ou CDB, LCI e LCA?
O investimento em CDB, LCI e LCA também é realizado por alguns fundos referenciados DI, sobretudo aqueles com maior exposição ao crédito privado.
Da mesma forma, o investidor pessoa física também consegue adquirir diversos títulos dessa categoria via plataformas de investimento.
Existem sites, inclusive, que comparam as diversas opções disponíveis no mercado.
Com certeza é possível conseguir uma rentabilidade maior comprando esses títulos ao invés do que um fundo DI. Além disso, esses investimentos são garantidos pelo FGC.
Entretanto, vale lembrar que não existe almoço grátis no mercado. Geralmente, os papéis que oferecem uma rentabilidade superior a 100% do CDI costumam não ter liquidez diária.
Dessa forma, estas aplicações não servem como aplicação de resgate imediato. Além disso, vários desses papéis são emitidos por instituições financeiras com baixa classificação de risco.
Por isso é importante que o investidor saiba realizar uma análise de crédito deste emissor.
Vale a pena investir em fundos DI?
Como já mencionado, o fundo DI, por apresentar uma liquidez bastante ágil, é muito útil para o investidor que precisa de uma aplicação segura e líquida.
Logo, esses títulos são uma boa alternativa de “armazenamento de capital” em cenários em que os ativos de renda variável se encontram com suas precificações acima de seu real valor.
Ou então, podem ser utilizados como simplesmente uma reserva de emergência.
É importante, porém, que um estudo criterioso seja feito antes da aplicação em fundos DI de modo que, como já mencionado, todas as taxas fiquem bem esclarecidas previamente, e a rentabilidade final do investimento não seja afetada por uma surpresa desagradável no dia de seu resgate.