Depois de anos como protagonista do estresse macroeconômico, o dólar termina 2025 em queda acentuada, acumulando uma desvalorização de 11,18% frente ao real. A moeda norte-americana encerrou o ano na casa de R$ 5,38, registrando seu pior desempenho anual desde 2016 e surpreendendo investidores que, no início do ano, viam o câmbio como um dos principais riscos para os ativos brasileiros.
O movimento não foi isolado do Brasil. Em escala global, o dólar também perdeu força de maneira relevante. O DXY, índice que mede o desempenho da divisa frente a uma cesta de seis moedas fortes, acumulou queda superior a 9% em 2025, refletindo uma combinação de incertezas políticas nos Estados Unidos, expectativas de corte de juros e maior diversificação de portfólios globais.
Ao longo do ano, o dólar à vista chegou a iniciar janeiro cotado a R$ 6,16, mas perdeu tração principalmente no primeiro trimestre, quando o mercado começou a precificar os efeitos da política econômica e comercial dos EUA.
Política tarifária dos EUA mudou o jogo para o dólar
Um dos principais vetores da queda foi o vaivém da política tarifária norte-americana. Entre janeiro e março, o dólar já havia recuado cerca de 7,4%, à medida que cresciam as expectativas em torno das decisões comerciais do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em abril, o anúncio de tarifas recíprocas sobre produtos importados — incluindo taxas adicionais para países com os quais os EUA mantêm déficit comercial — chegou a provocar uma reação pontual de valorização do dólar. No entanto, o efeito durou pouco. O mercado passou a enxergar o pacote tarifário como potencialmente estagflacionário, capaz de esfriar a atividade econômica ao mesmo tempo em que pressiona a inflação.
Esse cenário levou investidores a reduzirem exposição aos ativos norte-americanos e a ampliarem a diversificação geográfica dos portfólios. No caso do Brasil, o impacto foi ainda mais evidente, já que o real vinha de um período de forte desvalorização e o mercado local é relativamente pequeno em comparação aos países desenvolvidos.
Além disso, parte das tarifas anunciadas acabou sendo revista ou retirada após negociações, incluindo a exclusão de alguns produtos agrícolas e insumos brasileiros, o que ajudou a aliviar a pressão sobre o câmbio.
Juros, Fed e o cenário global pressionaram a divisa
Outro fator relevante foi a mudança na percepção sobre a política monetária dos Estados Unidos. Em 2025, o Índice Bloomberg Dollar Spot caiu 8,1%, com investidores passando a precificar ao menos dois cortes de juros em 2026 por parte do Federal Reserve.
A expectativa de uma política monetária mais frouxa nos EUA reduziu a atratividade do dólar frente a outras moedas. O euro, por exemplo, se fortaleceu apoiado por inflação mais controlada e aumento dos gastos com defesa na Europa, enquanto mercados como Canadá, Suécia e Austrália passaram a flertar com cenários de juros mais altos.
No Brasil, o efeito combinado foi claro. Apesar da alta de 2,89% do dólar em dezembro, a moeda encerrou o ano com a maior queda anual em quase uma década. No último pregão de 2025, o dólar chegou a recuar 1,43% no dia, fechando no menor nível desde meados de dezembro.
No fim das contas, a trajetória de baixa do dólar em 2025 refletiu menos fatores domésticos e mais um reposicionamento global dos investidores, diante de incertezas nos Estados Unidos, expectativas de juros mais baixos e maior busca por diversificação. Para 2026, o comportamento da moeda seguirá diretamente ligado às decisões do Fed, ao cenário político americano e ao apetite por risco nos mercados globais.
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