A taxa de desemprego no Brasil pode cair abaixo do piso histórico de 5% no trimestre encerrado em dezembro de 2025 – resultado que será divulgado no fim de janeiro de 2026 -, caso siga o ritmo verificado nos últimos períodos, disse nesta terça-feira, 30, Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas Domiciliares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). “Pode haver taxa menor que 5%, o quarto trimestre costuma ter taxas mais baixas.”
Porém, conforme a técnica, o patamar de 5,2%, atingido no trimestre encerrado em novembro, já é bastante baixo – o menor da série histórica iniciada em 2012 – e não há como dizer com certeza se o mercado de trabalho sustentará o movimento verificado especialmente no segundo semestre de 2025, que registrou recordes sucessivos. “Já viemos no ritmo de redução do indicador, e a taxa de desemprego nunca ficou abaixo de 5%. Não tem como saber antes”, ponderou a especialista.
A população ocupada chegou a 103 milhões, avanço de 1,1% em relação ao mesmo trimestre de 2024. O contingente ocupado foi recorde da série histórica, crescendo também ante o trimestre móvel anterior, 0,6%, ou 601 mil pessoas. O nível da ocupação (porcentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar) atingiu 59,0%, recorde da série, com alta de 0,2 ponto porcentual (p.p.) no trimestre (58,8%) e estabilidade no ano (58,8%).
Mercado e rendimento
O mercado de trabalho brasileiro continua a mostrar capacidade de manutenção e retenção de empregos, segundo a coordenadora do IBGE. Beringuy avalia que a mobilização da população ocupada em diversos segmentos sustenta a queda no desemprego.
Além disso, os rendimentos do trabalho têm se mantido ou aumentado, convertendo-se em consumo, apesar do alto nível de endividamento familiar. A massa de rendimentos, inclusive, cresceu mesmo com a expansão do mercado de trabalho. No trimestre encerrado em novembro, alcançou R$ 3.574, alta de 4,5% ante igual período de 2024.
O consumo, impulsionado pelos rendimentos crescentes, tem sido um vetor importante para a manutenção da empregabilidade. “Parte significativa de massa do rendimento do trabalho é revertida em consumo”, disse. “A economia tem muitos trabalhadores com rendimento que vem se mantendo ou aumentando.”
O ano de 2025 foi considerado satisfatório em termos de inflação, com o mercado de trabalho assegurando ganhos cumulativos. A esperada aceleração dos preços não se concretizou, e itens como alimentos mantiveram-se em níveis baixos, liberando recursos para outros gastos familiares.
Beringuy destacou que essa estabilidade nos preços dos alimentos é particularmente relevante para a população que ganha até três salários mínimos. O controle da inflação, portanto, viabilizou o consumo, elemento crucial para a empregabilidade.
Embora o mercado de trabalho apresente resultados positivos, nem todos os setores cresceram da mesma forma. Indústria, agricultura e construção permaneceram estáveis. O comércio continuou a empregar um contingente significativo, enquanto a construção, mesmo sazonal, manteve níveis importantes de ocupação. Já o setor de serviços ganhou peso, possivelmente absorvendo parte da mão de obra do comércio.
Administração pública, educação e saúde também tiveram papel relevante, com 492 mil pessoas empregadas, quase metade delas na educação. A educação fundamental liderou as contratações, seguindo seu padrão sazonal, e a saúde expandiu vagas para nutricionistas, enfermeiros e fisioterapeutas.
Com Estadão Conteúdo
