Há exatos 30 anos, o jornal “The New York Times” titulava “Wall Street acordou com um touro gigante na frente de sua porta”. Segundo o veículo norte-americano, quem tinha depositado o enorme bovino de bronze no coração do mercado financeiro mundial tinha sido “um artista do Soho”, que queria representar “a força e o poder do povo americano”. Surgiu um dos mais poderosos símbolos do mercado financeiro dos EUA: o touro de Wall Street.
O criador do touro de Wall Street foi o artista italiano Arturo Di Modica que realizou a gigantesca estátua de bronze pagando-a de seu próprio bolso. Um colosso de três toneladas e meia, fundido em seu atelier de Lower Manhattan.
Com a ajuda de amigos ele tinha transportado o enorme touro em frente à entrada da Bolsa de Valores de Nova York. Di Modica decidiu realizar a estátua após o colapso acionário de 1987, como um sinal de confiança no futuro dos Estados Unidos. Não sabia que o touro se tornaria o símbolo de Wall Street.
Touro em investida
O nome oficial do touro de Wall Street é “Charging Bull” [Touro em investida, na tradução em inglês]. Uma metáfora do mercado acionário em alta, pois o touro ataca de baixo para cima com seus chifres. Enquanto o urso, símbolo do mercado em baixa, ataca com suas patas de cima para baixo. Uma iconografia que remonta ao século dezoito. Por isso no mercado se fala em “bull market” e “bear market”.
O touro de Wall Street imediatamente se tornou o queridinho dos traders da NYSE. Assim como dos turistas, que criaram a tradição de tirar fotos apontando para os órgãos genitais do bovino de bronze. Quem gostou menos foi a polícia de Nova York, que interveio para removê-lo, pois atrapalhava o tráfego e não tinha autorização.
Depositado por alguns dias em um armazém no Queens, reapareceu em 20 de dezembro do mesmo ano, não muito longe de Wall Street, no Bowling green park, graças a um acordo com as autoridades novaiorquinas.
Desde então, ele permaneceu por lá e se tornou um dos destinos mais visitados pelos turistas, tendo suas fotos entre as mais compartilhadas nas redes sociais.
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O touro de Wall Street também trouxe sorte para a Bolsa de Valores norte-americana. No dia 18 de outubro de 1987, a chamada segunda-feira negra, o mercado acionário dos EUA havia perdido 22,5% em um único dia (508 pontos no índice Dow Jones). Entretanto, desde meados de dezembro de 1989, primeira aparição do touro, até hoje subiu 919 %: de 2.739 para mais de 25 mil pontos no índice das blue chips dos EUA.
Ironicamente, o atual prefeito de Nova York, Bill de Blasio, juntamente com a Alliance for downtown (uma organização público-privada que cuida dos bairros na parte sul de Manhattan), gostaria de trazer o touro de Wall Street de volta em frente à Bolsa de Valores, em Broad Street, área que se tornou quase inteiramente para pedestres.
Isso porque a popularidade excessiva do touro de Wall Street gera longas filas de turistas esperando para tirar fotos, criando problemas de tráfego e segurança em Bowling green.
Touros de Wall Street mundo afora
O touro se tornou tão famoso que muitos bilionários do mundo inteiro encomendaram cópias para Di Modica. Um deles é o bilionário Joe Lewis, que comprou uma réplica do bovino de bronze para ser instalada em seu campo de golfe na Flórida.
Uma outra versão do “Touro em investida” foi instalada em abril de 2010 em Xangai, no coração do novo distrito financeiro da cidade chinesa. A estátua foi encomendada e paga pelas autoridades municipais para comemorar o boom da economia chinesa.
Ao longo desses trinta anos, o touro de Wall Street se tornou alvo de críticas e protestos, especialmente por movimentos anticapitalistas. Por exemplo, o movimento Occupy Wall Street usou o touro como figura simbólica a partir da qual criticar os excessos do mercado financeiro.
Por outro lado, no dia 7 de março de 2017, na véspera do Dia Internacional da Mulher, foi instalada em frente ao touro de Wall Street uma estátua de uma menina em pose de desafio. A escultura, chamada de “Fearless Girl” [Menina destemida, na tradução em inglês], foi criada por Kristen Visbal e encomendada pelo grupo financeiro State Street Global Advisors (SSGA) para salientar a desigualdade de gênero no mercado financeiro.
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