A Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou nessa quarta-feira (26) um estudo indicando que o total de brasileiros com renda per capta menor que meio salário mínimo diminuiu 13,1 milhões, ou seja 20,69%, até o mês passado, em comparação com o período imediatamente anterior, devido ao auxílio emergencial de R$ 600, apelidado de coronavoucher.
O economista Marcelo Neri, coordenador da pesquisa, afirmou à ‘Exame’ que ‘até nós mesmos ficamos surpresos com esse resultado”. “Trata-se de um contingente muito grande de brasileiros que saiu da pobreza temporariamente”, devido ao coronavoucher.
Neri destacou que “o estudo mostra que, usando a primeira faixa de renda, que é até meio salário mínimo por pessoa, que é uma faixa importante não só para medir a pobreza, mas é o critério do cadastro único, que foi usado na concessão do auxílio emergencial, houve uma queda de 20,69% na proporção da população que está nesse segmento. Então, essas pessoas subiram. A gente observa que 13,1 milhões de pessoas saíram da pobreza”, em uma entrevista à ‘Agência Brasil’.
Por outro lado, o estudo indicou que a porção que tinha renda per capta maior do que dois salários mínimos ou renda familiar de aproximadamente R$ 7,7 mil, teve um resumo de 5,8 milhões de pessoas.
Segundo a pesquisa “Qual foi o Impacto Imediato da Pandemia do Covid sobre as Classes Econômicas Brasileiras?”, a faixa de renda que é de até meio salário mínimo chegou a 52,1 milhões de brasileiros no mês passado, o que representa 24,62% da população total. Vale destacar que no ano passado essa porcentagem ficava em 31,04% da população brasileira total.
Em contrapartida, a faixa de pessoas com renda igual ou maior que a soma de dois salários mínimos por pessoas teve uma queda de 18,35%, e representa 12,80% da população total atualmente.
Coronavoucher foi uma ‘injeção de recursos importante’
Em relação as regiões do Brasil, o estudo indicou que a região que onde mais famílias saíram dos níveis extremos da pobreza e passaram a ganhar até meio salário mínimo foi o Nordeste (28,7%), seguido pelo Norte (25,12%).
Já nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, as quedas da pobreza foram de 17%, 9,67% e 9,32%, respectivamente.
O professor declarou à Agência Brasil que “[As pessoas na informalidade] passaram a receber o auxílio que é generoso em relação a renda média do Brasil. O beneficiário do Bolsa Família, mais de 80%, ganha R$ 1,2 mil, que é mais de seis vezes o benefício médio do Bolsa Família, que era R$ 191. Foi uma injeção de recursos importante”.
Além disso, a pesquisa da FGV apontou que 27,8% da parcela de pessoas com renda menor que meio salário mínimo respeitaram rigorosamente o distanciamento social, ao passo que 48,3% dessa parcela de brasileiros só quebraram o isolamento devido a necessidades básicas.
Frente a isso, o economista apontou que “o auxilio fez não só com que a pobreza caísse imediatamente e enquanto durar, mas por outro lado, comportamentos de mitigação dos efeitos da pandemia como o isolamento social foram até mais fortes entre os pobres. Isso é mais um sinal dos efeitos do auxílio”.
Sobre o fim do auxílio emergencial, o Neri destacou que não sabemos como será esse processo e comentou sobre o Renda Brasil. “Tem a discussão do Renda Brasil, o primeiro estágio é a transição do auxílio ainda em 2020 e depois o que acontece em 2021. Essa redução da pobreza ajuda a pandemia e à própria pobreza, mas não é sustentável”.
A estimativa é de que o governo esteja gastando cerca de R$ 50 bilhões por mês com o coronavoucher.