Um corte que provavelmente custará mais de US$ 300 bilhões (cerca de R$ 1,6 trilhão). Obviamente previsível mas não menos impressionante. Esse é o número que indica a redução dos dividendos distribuídos pelas empresas listadas em 2020 provocado pelo novo coronavírus (covid-19). A informação foi divulgada na última segunda-feira (24) pela gestora Janus Henderson por meio de seu Índice de Dividendos Globais, que inclui 1.200 empresas listadas e que representa globalmente mais de três quartos do valor dos recursos pagos aos acionistas.
Nunca, desde a crise financeira de 2008, o nível de pagamentos aos acionistas diminuiu nessa proporção: quase um quarto em relação ao ano anterior. E isso enquanto as Bolsas de Valores de boa parte do mundo continuam subindo, apesar de tudo. Mas o futuro dos dividendos ainda é pouco claro mantém os investidores de todo o planeta muito apreensivos.
No segundo trimestre do ano, o primeiro período realmente atingido pela disseminação do coronavírus, os dividendos caíram em geral US$ 108,1 bilhões para US$ 382,2 bilhões. Este é um corte líquido de 22% (ligeiramente reduzido para 19,3% se calculado excluindo os efeitos da taxa de câmbio e das distribuições extraordinárias), Mas mesmo assim, inédito na última década após a crise dos subprimes.
Mais de um quarto (27%) das empresas listadas cortaram seus dividendos no segundo trimestre. Mais da metade os cancelou totalmente e poucas foram as regiões do mundo poupadas, como América do Norte e Japão, que mesmo assim poderão ser atingidos mais tarde por essa contração dos dividendos.
Maior queda dos dividendos foi na Europa
Na Europa, o epicentro dessa redução da distribuição de ganhos, foi registrado o pior resultado, com uma redução de 45%. Em particular na Espanha (-70% devido principalmente ao cancelamento de distribuições da Inditex, empresa que controla a Zara) e França (-65%). Essa última é a maior pagadora de dividendos do Velho Continente. Seguem a Itália (-58,8%), Reino Unido (-54,2%) e Holanda (-53,8%).
O impacto na Alemanha foi mais contido (-22,8% com os cortes da imobiliária Vonovia, Adidas e BMW e o deslocamento dos pagamentos da Daimler para julho 2021), enquanto na Suíça ocorreu uma situação oposta, com dividendos praticamente inalterados na comparação anual e a Nestlé novamente no topo da lista das empresas mais generosas com seus acionistas.
A maior parte das empresas europeias só distribuem dividendos uma vez uma vez por ano, e geralmente no segundo trimestre. Portanto o cancelamento de um dividendo tem um impacto muito significativo no total anual. Mas também porque a nível sectorial a influência do coronavírus foi percebida de uma forma bastante diferente. Quem sentiu mais a queda foi o setor financeiro (ainda mais devido ao bloqueio de pagamentos de dividendos imposto pelo Banco Central Europeu aos bancos privados). O que se salvou, em parte, foram as empresas do setor da saúde e telecomunicações.
Os bancos sofreram, portanto, a maior perda de valor, com uma redução de US$ 54 bilhões de dividendos (-40% em relação ao ano anterior), particularmente significativa na Europa, onde os pagamentos se concentram no segundo trimestre e estão sujeitos a regulamentação mais rigorosa.
O futuro dos dividendos ainda é muito nebuloso, devido aos desenvolvimentos imprevisíveis da epidemia que tornam difícil determinar se os pagamento que faltaram foram simplesmente adiados e quais poderão ser considerados definitivamente cancelados. De qualquer forma, os analistas da Janus Henderson definiram pelo menos uma meta de curto prazo, prevendo uma queda nos dividendos em escala global de 17% para todo o ano de 2020, com distribuições de US$ 1,180 bilhões contra US$ 1,428 bilhões dos doze meses anteriores no melhor cenário, e uma queda de 25% a US$ 1,1 trilhão no pior cenário.
Este ano será, portanto, o mais pesado para os acionistas do mundo inteiro desde a crise financeira global, ainda se, no final de março de 2020, as distribuições de dividendos dobraram em relação aos níveis registrados imediatamente após a falência da Lehman Brothers.
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