Os números do 3º trimestre das Casas Bahia chegam ao mercado com a força de um alerta e o peso de uma oportunidade. A empresa conseguiu elevar eficiência, ampliar vendas e aprofundar seu processo de transformação — mas ainda precisa conviver com um custo financeiro que insiste em puxar o resultado para baixo. Para quem acompanha o setor de varejo, o balanço oferece um retrato fiel de uma companhia que avança, mas não sem carregar cicatrizes do passado recente.
O movimento mais perceptível está na operação: o GMV total avançou 8,5% na comparação anual, com destaque para o e-commerce, que acelerou 12,7% e consolidou o quarto trimestre seguido de crescimento expressivo. Foi também um período em que lojas físicas reagiram, entregando SSS de 7,8% e sustentando a omnicanalidade como eixo central da estratégia.
A companhia reforça que essa melhora não foi obra do acaso. “Seguimos focados no tráfego qualificado e no fortalecimento das categorias core, o que impulsiona conversão e rentabilidade”, afirmou a empresa em seu comunicado oficial. Trata-se de uma narrativa que encontra eco na trajetória recente: margens mais robustas, despesas mais enxutas e uma engrenagem comercial que mostra sinais de consistência.
Operação e crescimento: o eixo que sustenta a Casas Bahia
Mesmo em um ambiente competitivo, a companhia conseguiu manter o ritmo de expansão dos seus principais indicadores. O 1P online cresceu 9,2%, no melhor desempenho em 15 trimestres, enquanto o marketplace registrou alta de 17,7%, com aumento de receita e take rate. A estratégia digital segue no centro da virada, reforçada pela integração de canais e maior precisão no direcionamento de tráfego.
O BTG Pactual, porém, chama atenção para o contraponto: “A pressão do balanço permanece, apesar da melhora nos números operacionais”, apontou a casa ao analisar o trimestre. A sinalização resume o desafio da empresa: entregar crescimento ao mesmo tempo em que busca aliviar um nível de endividamento que, embora venha caindo, ainda impõe limitações.
A margem EBITDA de 8,5% — o oitavo trimestre seguido de expansão — indica que há uma rota de eficiência em curso. Mesmo assim, o avanço operacional não foi suficiente para neutralizar a despesa financeira, que continua elevada em função da taxa de juros. O prejuízo de R$ 496 milhões, embora menor que o trimestre anterior, mostra que a virada do bottom line depende mais de macroeconomia que de execução.
Endividamento, caixa e perspectivas para BHIA3
O ponto mais sensível do balanço segue sendo o custo da dívida. O resultado financeiro líquido ficou próximo de R$ 1,1 bilhão negativos, influenciado pelo CDI mais alto. Ainda assim, houve alívio relevante na alavancagem: a dívida líquida caiu R$ 471 milhões, trazendo o indicador para 1,9 vez o EBITDA ajustado — nível que começa a comunicar ao mercado uma trajetória mais saudável.
Nesse sentido, a companhia fez questão de destacar: “Finalizamos o trimestre com geração de caixa positiva e alavancagem em trajetória de queda, reflexo da disciplina do Plano de Transformação.” O fluxo de caixa livre de R$ 488 milhões reforça essa mensagem.
O BTG manteve recomendação Neutra para Casas Bahia (BHIA3) e argumenta que a estrutura de capital ainda limita a tese, mesmo diante dos avanços operacionais. O cenário competitivo — especialmente no digital — também faz parte da equação, em um mercado em que margens são disputadas centavo a centavo.
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