A Petrobras divulgou ontem (15) ao mercado os seus resultados referentes ao quarto trimestre de 2017 e, de acordo com os números, a produção total de petróleo e gás natural da Petrobras em 2017 foi de 2.767 mil barris de óleo equivalente por dia (boed), sendo 2.655 mil boed no Brasil, patamar estável em relação ao ano anterior.
Já a produção de derivados no Brasil caiu 5%, enquanto a venda doméstica apresentou queda de 6% na comparação anual, totalizando 1.885 mil barris por dia (bpd) e 1.940 mil bpd, respectivamente.
A companhia manteve ainda a sua posição de exportadora líquida, com saldo de 361 mil bpd em 2017 (vs. 167 mil bpd em 2016), em função do aumento das exportações de petróleo em 32% e da redução das importações em 18%. No 4T17, o saldo foi de 287 mil bpd.
Com isso, a receita de vendas no 4T17 foi de R$ 76.512 milhões, 7% superior à do 3T17 (R$ 71.822 milhões) com destaque para aumento de 7% da receita no mercado interno (R$ 3.799 milhões); maior receita com atividades no exterior (R$ 1.011 milhões), na sua grande parte, influenciada pelos preços internacionais mais elevados; e uma redução da receita com exportações (R$ 120 milhões).
Já o custo dos produtos vendidos foi de R$ 51.309 milhões, montante 1% superior ao do 3T17 (R$ 50.585 milhões), ao passo que as despesas de vendas foram de R$ 3.994 milhões, 6% inferiores às do 3T17 (R$ 4.237 milhões), devido aos menores gastos logísticos como consequência da redução da venda de derivados no mercado interno e de exportações de petróleo.
Em relação aos tributos, as despesas foram de R$ 1.548 milhões, 53% superiores às do 3T17 (R$ 1.013 milhões), em decorrência dos efeitos da adesão ao programa de pagamento e parcelamento relativo ao IRRF sobre remessas ao exterior de afretamento referentes ao período de 2009 a 2014 (R$ 1.048 milhões); e ao efeito positivo (R$ 699 milhões) da ampliação de desconto no âmbito do Programa Especial de Regularização de Débitos não Tributários – PERT- aderido em set/2017.
Num contexto geral, o resultado do trimestre apresentou melhora nas margens das exportações e das vendas no mercado interno, fruto da valorização da cotação do Brent e da política de preços, contribuindo para o crescimento de 19% no lucro bruto, que atingiu R$ 25.203 milhões, apesar do menor volume de vendas.
Por outro lado, a Petrobras assinou acordo para encerrar a Class Action, nos EUA, no valor de R$ 11.198 milhões, e aderiu ao programa de regularização de débitos federais para finalizar discussões administrativas e judiciais relativas ao IRRF, totalizando R$ 10.433 milhões. Estes acordos provocaram aumento das despesas operacionais, refletindo na queda de 32% do Ebitda Ajustado, que totalizou R$ 12.986 milhões no trimestre.
Ainda, os acordos aliados ao reconhecimento de impairment, no valor de R$ 3.511 milhões, foram determinantes para o prejuízo de R$ 5.477 milhões.
Vale ressaltar que, excluindo-se o acordo da Class Action, a companhia apresentaria lucro líquido de R$ 7.089 milhões.
Mesmo assim, o Fluxo de Caixa Livre foi positivo pelo décimo primeiro trimestre consecutivo, atingindo R$ 6.608 milhões. Apesar das maiores margens nas vendas dos derivados e das exportações, a geração operacional de caixa foi afetada pelo acréscimo dos depósitos judiciais, resultando em uma redução de 19%. Além disso, houve aumento dos investimentos em 40% em função do pagamento de bônus de assinatura relativo às três últimas Rodadas de Licitação da ANP.
Já em relação ao endividamento líquido da estatal, este montante de compromissos financeiros atingiu R$ 280.752 milhões ou US$ 84.871 milhões ao término do período, representando uma redução de 11% e 12%, respectivamente, em relação a 2016. Além disso, a gestão da dívida possibilitou o aumento do prazo médio de 7,46 anos para 8,62 anos, simultaneamente à redução da taxa média de 6,2% a.a. para 6,1% a.a.
Como ressaltado anteriormente, o Ebitda Ajustado reduziu 14% em 2017, para R$ 76.557 milhões e a margem do Ebitda Ajustado foi de 27%, por conta dos fatores anteriormente citados (Class Action e programas de regularização de débitos federais).
Com isso o índice dívida líquida sobre Ebitda Ajustado aumentou de 3,54 para 3,67 em dezembro de 2017, após ter atingido 3,16 em final de setembro. Já a alavancagem, ou seja, o endividamento líquido/(endividamento líquido+patrimônio líquido), reduziu de 55% para 51%, no ano.
Excluindo-se o acordo da Class Action, a companhia apresentaria Ebitda Ajustado de R$ 87.755 milhões e o índice dívida líquida/ Ebitda Ajustado de 3,20.
É interessante destacar que, ainda ontem (15), a companhia informou ao mercado que seu Conselho de Administração determinou a realização de estudos para alterações no seu Estatuto Social, em relação à cláusula de destinação dos resultados, com o objetivo de estabelecer pagamentos trimestrais de dividendos ou de juros sobre capital próprio, bem como possibilitar o pagamento de dividendos intermediários à conta da reserva de lucros, observadas as disposições legais aplicáveis.
A companhia destacou, contudo, que o resultado do estudo, caso seja aprovado pelo seu Conselho de Administração, será encaminhado para deliberação da Assembleia Geral dos Acionistas.
“Essa iniciativa reafirma o compromisso da Petrobras com a contínua melhoria de sua governança corporativa e com a criação de valor para os seus acionistas, sem perder o foco no objetivo de redução de endividamento e na sustentabilidade financeira da companhia”, ressaltou a estatal em seu comunicado.
Mesmo com a aparente melhoria nos dados a respeito de sua performance operacional – o prejuízo no período se fez muito por conta de fatores não ligados a operação da companhia, diretamente – e a gradual redução no seu nível de compromissos financeiros, nenhuma pessoa precisa ser especialista no setor de óleo e gás para perceber que o patamar de dívida da Petrobras ainda se encontra em níveis extremamente altos, ao passo que seus resultados ainda não demonstram um aumento de performance compatível com esses compromissos.
Ademais, o fato da companhia ser estatal, além de toda a investigação por trás da empresa no âmbito da operação Lava-Jato, que já constatou ser este um dos maiores escândalos de corrupção da história da humanidade, nos faz sentir desinteressados pela Petrobras.
É provável que, no longo prazo, o seu atual quadro de gestão consiga, aos poucos, “desestatizar”, mesmo que aos poucos, essa gigante que, no momento, se encontra bastante fragilizada pelos abusos a qual foi submetida ao longo de sua história.
Até lá, nos sentimos mais confortáveis em ficar de fora da Petrobras e recomendamos o mesmo a nossos assinantes.
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