Alavancagem financeira: o que é e como funciona essa operação?

alavancagem financeira pode impulsionar a rentabilidade, mas certamente aumenta o risco de uma empresa que a utiliza. Por isso, deve ser utilizado com moderação.

O processo de alavancagem financeira é bastante arriscado, muito embora seja um mecanismo usado com frequência no mercado de capitais.

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O que é alavancagem financeira?

A alavancagem financeira é o uso de ativos ou recursos com encargos financeiros fixos de modo a aumentar o efeito de variações do lucro antes de juros e imposto de renda sobre o lucro por ação. Ou seja, é um recurso que visa aumentar o retorno dos sócios da companhia.

De fato, toda companhia pode operar através de duas fontes de recursos, sendo o capital próprio e o capital de terceiros.

O capital próprio são os recursos provenientes dos acionistas, tanto daqueles que fundaram a companhia quanto os novos acionistas que compraram a ação depois do IPO.

Por outro lado, o capital de terceiros provem de empréstimos e financiamentos. Estas dívidas podem ser adquiridas de diversos credores, como, por exemplo, fornecedores, instituições financeiras e participantes do mercado de capitais.

Sendo assim, o capital de terceiros pode facilitar o crescimento de uma empresa ou aumentar a rentabilidade de um investimento, mas deve-se considerar os riscos associados.

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Como funciona a alavancagem financeira?

Para entender como funciona a alavancagem financeira, é possível fazer uso de um exemplo prático de forma a tornar a explicação mais clara.

Por exemplo: determinada companhia não possui nenhuma dívida e apresenta os seguintes resultados: R$800 milhões de receita líquida e EBIT de R$200 milhões.

No entanto, ela apresenta R$0 de juros e paga um imposto de renda de 30%, equivalente a R$60 milhões. Por fim, seu lucro líquido é de R$140 milhões.

Agora, em outra suposição, essa mesma empresa pegasse emprestado R$ 500 milhões no banco, pagando uma taxa de juros de 8% ao ano.

Dessa forma, os juros anuais são de R$ 40 milhões.Entretanto, essa mesma empresa consegue rentabilizar este capital a 10% no seu negócio, de forma a incrementar o seu EBIT em R$ 50 milhões.

Assim, no ano seguinte, e assumindo o mesmo nível de vendas e margens, o lucro manteria-se em R$800 milhões, o EBIT de R$250 milhões e R$40 de juros.

Portanto, o lucro antes de impostos seria de R$210 milhões, pagando um imposto de renda de R$63 milhões, equivalente a 30%.

Por fim, seu lucro líquido seria de R$147 milhões. Ou seja: ao final do segundo ano a empresa conseguiu criar R$ 7 milhões de valor aos seus acionistas, ou um crescimento de 5%, devido apenas a sua alavancagem financeira.

Para que serve a alavancagem financeira?

Do ponto de vista do acionista de uma empresa, é importante entender para que serve a alavancagem financeira. Primeiramente, no caso de alguém que toma dinheiro emprestado, as dívidas costumam ser utilizadas para consumo.

No entanto, ao contrário da dívida pessoal, os recursos tomados emprestados tem como finalidade a alocação em projetos de negócios.

Dessa forma, se a empresa obtém uma rentabilidade sobre o capital superior aos juros devidos, isto é benéfico, pois ocorre a criação de valor ao acionista.

Além disso, existe outro ponto, empresas endividadas possuem um benefício fiscal ao poderem deduzir o seu custo com juros no pagamento de imposto de renda sobre pessoa jurídica.

Sendo assim, sob a ótica dos retornos, essa captação de recursos externos deve fazer com que o lucro antes dos juros e impostos (EBIT) seja maximizado em conjunto com um retorno sobre o patrimônio atraente, de forma a justificar o endividamento tomado.

Qual a diferença entre alavancagem financeira e operacional?

Primeiramente, já foi visto que a alavancagem financeira consiste na captação de capital de terceiros para agregar valor aos acionistas.

No entanto, a alavancagem financeira consiste no uso desse capital para fins diversos, como financiar investimentos que aumentarão a produção, venda e geração de lucros.

Por outro lado, a alavancagem operacional consiste na captação de recursos para aumentar a produção de produtos nos quais os custos fixos variem pouco.

Ou seja: empresas que buscam a alavancagem operacional está captando recursos para aumentar sua capacidade produtiva sem o aumento relevante dos custos e despesas fixas.

Para mensurar a alavancagem, pode-se recorrer ao grau de alavancagem financeira (GAF), que consiste na divisão do lucro antes dos juros e imposto de renda pelo lucro antes do imposto de renda. Caso o resultado seja maior que um, o efeito da alavancagem é positivo.

Por fim, para medir o sucesso da alavancagem operacional, usa-se o grau de alavancagem operacional (GAO), calculado pela variação percentual no lucro operacional pela variação percentual nas vendas.

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Quais são os riscos da alavancagem financeira?

Como esse processo depende exclusivamente de capital externo, muitas empresas preferem evitar utilizar seus recursos internos, ou seja, oriundos do fluxo de caixa da empresa, para utilizar o recurso de fora, mediante ao pagamento de juros.

Sendo assim, pelo mecanismo mostrado no exemplo anterior, isto a primeira vista é algo ótimo, pois cria valor aos acionistas.

Entretanto, a situação não é tão simples assim, a empresa pode não conseguir gerar alta rentabilidade neste capital tomado emprestado

Caso o retorno fosse menor do que os juros tomados. a empresa teria que consumir o seu caixa para conseguir pagar estes juros. Esse é um dos riscos da alavancagem financeira.

No entanto, mesmo nos casos em que a empresa consegue uma rentabilidade superior ao custo do capital de terceiros, ela não pode se endividar indefinidamente.

Primeiramente, é cada vez mais difícil para um negócio conseguir rentabilizar o seu capital à medida que este capital cresce, é a lei dos retornos marginais decrescentes.

Além disso, à medida que uma empresa se endivida, seu risco tende aumentar e, portanto, o custo do capital de terceiros também aumenta.

Como analisar a Alavancagem Financeira de uma empresa?

Basicamente, existem duas métricas principais para analisar a alavancagem financeira de uma empresa, que são:

• Dívida líquida/ Patrimônio líquido (DL/PL);

• Dívida líquida/ EBITDA.

Dívida líquida/Patrimônio líquido

O indicador DL/PL expressa a razão entre os recursos de terceiros e o capital próprio.

Primeiramente, a dívida líquida compreende todos os empréstimos e financiamentos, de curto prazo e longo prazo, menos os recursos em caixa (disponibilidades).

Existem empresas que tem mais caixa do que dívidas e por isso, não faz sentido calcular nenhum destes indicadores. A empresa na prática não tem dívidas.

Por exemplo: esse é o caso de empresas com política financeira conservadora, ou então, o caso de seguradoras e corretoras de seguros.

Além disso, no caso de bancos, a dívida faz parte da operação, portanto a melhor forma de avaliar o endividamento bancário é através do índice de Basileia.

Quando este indicador for superior a 100%, isto significa que a empresa possui mais capital de terceiros do que capital próprio.

Entretanto, analisar esta métrica não é tão simples assim: existem setores que trabalham com mais capital de terceiros em relação ao capital próprio.

De fato, este é o caso das empresas de varejo de moda, que costumam alugar suas lojas. Por outro lado,  as empresas industriais costumam registrar ativos relevantes em seu balanço patrimonial.

Por isto, a forma correta de avaliar este indicador de alavancagem financeira é comparando empresas de um mesmo setor.

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Dívida líquida/EBITDA

Este indicador compara a dívida líquida com o lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização (EBITDA).

O EBITDA é um valor que tenta aproximar a geração de caixa operacional de uma determinada companhia. Sendo assim, não considera o pagamento de juros e nem de impostos.

Dessa forma, ao calcular a DL/EBITDA, consegue se ter uma ideia de quantos anos levaria para uma empresa quitar sua dívida com base na sua geração de caixa. Este é um indicador mais genérico, permitindo comparar empresas de diferentes setores.

Por exemplo: Warren Buffett não gosta de avaliar lucros através do EBITDA, pois várias empresas precisam pagar juros enormes, além de precisarem investir na manutenção de capital.

Sendo assim, uma empresa que apresente uma Dívida Líquida/EBITDA de apenas uma vez não está com um endividamento baixo necessariamente: a companhia pode estar deixando de realizar investimentos no seu negócio, que poderão afetar a geração de caixa no futuro.

Por este motivo, a maneira ideal seria considerar o EBITDA projetado, apesar de que na prática de mercado, costuma se utilizar valores históricos.

Vale a pena fazer alavancagem financeira?

Por fim, através do que foi dito, é possível concluir que a ferramenta de alavancagem pode ser um grande aliado para o crescimento dos resultados de uma empresa.

Uma vez que é possível se obter mais retornos com menos trabalho através da alavancagem financeira, vê-se que ela pode ter boa utilidade.

No entanto, estudos e métricas de alavancagem financeira devem ser sempre revistos, pois essa estratégia agrega riscos à operação caso alguma mudança macroeconômica venha a atingir o faturamento da empresa no futuro.

Sendo assim, é importante considerar todas as variáveis relacionadas ao processo, verificando quando vale a pena fazer uso desse método e quando ele não precisa ser feito.

Foi possível compreender como funciona a alavancagem financeira? Comente abaixo para que possamos tirar as suas dúvidas.

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    Tiago Reis
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    3 comentários

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    • Carimi 30 de março de 2020
      Em qual situação empresarial os empréstimos a longo prazo propiciam alavancagem financeira ou pode ser um componente desejável na estrutura de capital?Responder
    • Luis 13 de abril de 2022
      é possível alcançar retorno do investimento aos sócios utilizando alavancagem financeira com diferentes graus de recurso de terceiros?Responder
      • Rui 31 de outubro de 2022
        A alavancagem não é recomendada a quem não pode cobrir os gastos. Preste atenção em outro fator (a verdade é para se dizer), o empréstimo de ações. Há uma normativa de cálculo na B3 para essa questão onde há uma fórmula que passando de 252 dias, a cobrança é exponencial. O aluguel de ações, tomador/doador, pode ser encarado dessa forma. Quem compra pegou emprestado a ação de outro e se não paga, não recebe dividendos.Responder